terça-feira, setembro 08, 2020

O Requiem e Las causas




Há quem se emocione com o Requiem de Mozart. Também me emociono mas não a ponto de chorar. Mas emociono-me, por vezes com lágrimas, ao ouvir ler Las Causas -- como se estivesse perante uma inesperada antevisão da perfeição da vida, como se estivesse perante a descrição do melhor destino que se pode desejar, 

Mas digo isto sabendo que não sei explicar. 

Porque chora alguém ao ouvir o Requiem de Mozart? 
Porque acorda na sua alma sofrimentos adivinhados, saudades fundas, dor cavada e incumprida? Porque se levanta da terra o sopro de espíritos antigos, porque convergem no seu peito lágrimas de sofridas despedidas, gritos de dor longamente calados? Porque todas as cordas da alma, em uníssono, choram a finitude do corpo, a finitude do amor? Porque depois da perfeição que se ouve apenas pode sobrevir o vazio e o vazio é o tenebroso abismo em que se afogam os desesperados? Ou porque, no fim, se percebe que poderia ter havido alguma coisa e, em vez disso, houve nada e mesmo esse nada acabou? Porque tudo é tão efémero, tão frágil, tão difícil de agarrar e tão fácil de perder?
Não sei. Se alguém sabe que o diga.

Seguramente, não serão as mesmas razões que me levam a emocionar-me com Las causas. Enquanto no Requiem o rio avança, belíssimo e nobre, para se perder lancinantemente no mar, talvez até no céu, em Las causas os braços do rio caminham, desconhecendo-se, caminham cegos, inocentes, para inesperadamente confluirem e se tornarem um rio único, belo, forte e destemido. É a celebração do acaso e das diferenças que se ajustam entre si, é a emoção do caos feito ordem, é a harmonia que surge quando menos se espera, é o encontro virtuoso que justifica o acto de viver.



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E a todos desejo um dia feliz, com muita vontade de celebrar a vida

2 comentários:

  1. Um belo texto. Uma bela lembrança. Parabéns. Páginas destas elevam-nos.

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  2. Há músicas que me emocionam e me levam às lágrimas, assim como textos. Há palavras que me tocam e me deixam a pensar como, hoje e outros dias, as suas.

    Obrigada,por me deixar publicar o seu poema [vou fazer isso hoje].

    E,sim, acho se criam laços com pessoas que apenas conhecemos pelo que escrevem. Eu gosto de a sentir desse lado...

    Um abraço amigo.

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