terça-feira, setembro 15, 2020

Era para ser sobre mulheres que não pensam duas vezes... mas afinal...





Foi como tinha dito: o que receava aconteceu. Talvez amanhã se deslinde e se tracem caminhos. Tomara. Mas, para já, a nebulosa paira sobre as coisas. E adensam-se as denúncias. Por algum motivo parece que quem calou queixas e acusações durante anos, de repente, encontrou alguém que os ouça. Mas ouvir coisas destas é um peso, uma responsabilidade. Não se pode fazer de conta que não fomos alertados. Temos que ir atrás, averiguar, ir até às últimas consequências. E, face a isto, não sei o que vai seguir-se. Quando mostro não saber como chegar às provas, recebo a seguir mensagens ou mails com novas pistas. 

E surgem outros factos: provas de deslealdade. Coisas feias. Surgem-me apenas com as palavras 'para conhecimento'. Por vezes, ainda mais laconicamente: Pc. E, abaixo ou em anexo, o comprovativo de que há pessoas que são cobras venenosas, hienas traiçoeiras. Olho e, uma vez mais, fico sem saber como digerir. Não é que me surpreenda. Nada. Fico é a pensar: e agora? o que faço com isto?


Enquanto escrevo, vejo a Paula Moura Pinheiro na Visita Guiada, na Serra da Estrela, com convidados que, fellizes, sorridentes, relatam a ventura da vida que ali se encontra, relatam aspectos relacionados com as espécies. O senhor, um biólogo, fala, com felicidade, das lagartixas da montanha ou das plantas que lá nascem, cor de rosa. Como o percebo... Penso muitas vezes que há boas profissões. Estas pessoas não sabem o que é a vida peregrina em lugares em que as lagartixas apenas dão pelo nome de répteis e as flores seriam fleures du mal se houvesse ponta de poesia nos enredos com que se cosem.


Ao fim do dia, a querer desligar, o tempo esfriava. Resolvi apanhar a caruma sobre a relva, regar, fotografar as flores. Fui duas vezes lá ao fundo, muito devagar, tentando não fazer barulho, na esperança de dar com a raposa. No domingo, falando sobre ela, perguntei como é que se faz para atrair uma raposa. O meu filho respondeu: 'Arranjas uma galinha'. Não arranjei mas não vou desistir. 

Estou cada vez mais convencida que há por aqui um pica-pau. Ouço um toc-toc-toc vindo das árvores, um toc-toc-toc firme, repetido. Também terei que tentar descobrir quem faz aquela espécie de martelar localizado nas árvores. E descobri uma romã oca. A romãzeira está carregada de romãs mas uma está oca. Tenho que me encher de coragem e, quando aqui chego ao fim do dia já sem pingo de energia, ir buscar a máquina e passar as fotografias para o computador. Deveria ilustrar o que estou a dizer com a imagem. Não percebo bem como aconteceu aquilo mas só me ocorre que os pássaros tenham comido, grão a grão, tudo, deixando apenas a casca.


À hora de almoço passei a ferro os cortinados brancos que ontem tinha lavado e deixado de molho em água e lixívia. Um tecido vagamente alinhado, difícil de engomar. Bem lhes dei com vapor, bem os humedeci. Grandes, franzidos, metros e metros de tecido. A bainha é bonita, tem uma fiada em ponto ajour, aberto. No fim, para não se amarrotarem, coloquei-os abertos sobre os sofás. Pareciam dois grandes véus de noiva. Até me fez lembrar o lindíssimo véu de noiva da minha filha, comprido, branco, com o peso elegante da renda, muito bonito. Pensei que se calhar será a nossa princesinha mais linda, cada vez mais a ganhar jeito de pré-adolescente, que um dia o usará. Mas depois deixei esses pensamentos para lá pois, parecida comigo como é na maneira de ser, ainda vai achar que casar não é sinónimo de a gente se fantasiar e ainda se casa vestida de calcinha branca justa, túnica curta transparente e com rendinhas. Mas depois refinei no pensamento e pensei que se a vovó aqui ainda estiver cá para opinar, talvez a convença a ir como quiser mas a pedir o véu emprestado à tia. Amiga de arrojar como ela é, ficaria um espanto.


Agora à noite, antes de jantar, estive a pendurá-los. Acho que já contei: teve que ser varão novo. Por defeito trazia argolas e eu fiquei toda contente, um pack completo. Mas, afinal, eram poucas. Os cortinados são grandes e com muito franzido, não são daqueles que ficam ralos. Por isso, convenci o meu marido a, no regresso, voltar lá para trazer mais uma embalagem de argolas. Depois dele as ter posto no varão, subi eu para pendurar os cortinados. Ficaram bem bonitos. Aqui as janelas vão até mais acima do que as da outra casa e, além disso, o varão também está mais acima do que é costume. Mas as janelas, estas em concreto, não vão até ao chão. Vão quase mas não chegam. Ficam com um parapeito interior onde nos podemos sentar. Então os cortinados não chegam ao chão mas ficam ligeiramente abaixo da janela. Gosto de ver.


Também resolvemos um dilema que tínhamos e que a anterior proprietária me confessou que nunca tinha conseguido resolver. Ao fundo, ao canto, a cozinha tem uma reentrância. Lá dentro, a toda a volta, prateleiras. Uma despensa com tudo à mão de semear. Como há a cave para as arrumações, ali é mesmo só para os produtos de primeira necessidade. E tudo completamente à vista, nada encafuado. Só que eu não gostava de ver aquela reentrância. Tudo branquinho e depois aquela coisa ali, uma abertura para prateleiras à vista. Mas não sabia o que ali pôr. No outro dia, quando cá esteve, perguntei à senhora. Disse-me que tinha tentado um estore, uma porta dobrável, várias soluções ao longo do tempo mas que nada era prático. Tinha desistido. Lembrei-me de um varão branco extensível e de um cortinado branco, opaco. Fui aos chineses e ficou tudo resolvido. Mal se dá por ele, fica na continuidade. E é super prático, é só afastar. Ao todo devo ter gastado uns vinte euros. Abençoadas lojas dos chineses.


E assim vão correndo os meus dias. Em breve vou voltar ao regime presencial, pelo menos em parte (isto se, entretanto, os números não vierem a aconselhar maior prudência). Também quero ver se me habituo a vir para aqui mais cedo para ver se vou mais cedo para a cama e para ver se arranjo energia para responder aos comentários. Sinto-me sempre em dívida. Tenho que ajustar os meus hábitos para conseguir chegar ao fim do dia com capacidade para falar com quem aqui deixa a sua opinião. Não levem a mal. E saibam que vos agradeço.

__________________________________________________________________

As pinturas são de Lee Kransner e vêm ao som de Joe Dassin que interpreta Et si tu n'existais pas.

__________________________________________________________________

Mas o absurdo é que, antes de começar a escrever, tinha escolhido os dois vídeos abaixo e a minha ideia era escrever sobre mulheres que se chegam à frente, que dizem o que querem, que não se deixam ficar, que não se cortam, que ousam, que sabem divertir-se. Depois, sei lá como, distraí-me. Mas não faz mal, os vídeos ficam aqui na mesma. Acho-os um espanto. Espero que gostem.





_______________________________

A todos desejo uma boa terça-feira.
Saúde, sorte e amor.

Sem comentários:

Enviar um comentário