De amores sei bem falar e posso falar de vários e de vários tipos. Todos intensos, todos exigentes.
De amizades também, mas aí sou mais de amizades com o sexo masculino. Se eu quiser falar de uma grande amiga, amiga para a vida, não sei bem. Amigas, várias, mas grandes, grandes amigas, que me lembre, acho que não. Com homens, sim. Desde sempre. Desde que me lembro de mim, os melhores amigos sempre do sexo oposto. Grandes, grandes amigos. Ainda hoje. Se me apetecer falar com alguém para estar na conversa, para comentar coisas, para ouvir uma opinião, para me distrair, é de um amigo que me lembro, não de uma amiga. É certo que de um há quem se me refira a ele como 'a tua amiga' mas eu não dou troco a provocações.
E confirmo aquilo de que se fala: com os amigos, a gente pode estar séculos sem se falar que, quando volta a falar, é como se estivéssemos a retomar uma conversa da véspera. Não há recriminações, não já justificações. Há apenas o retomar natural. E a gente a um amigo desculpa tudo, encontra explicação para as suas falhas, tenta ajudar, não tem vontade de retaliar se alguma coisa foi ao lado, não exige provas, não requer assiduidade. Não há cá dúvidas sobre a gradação do afecto, não há ciúmes, não há vontade de picardias, não há cá tentação de querer juras ou promessas.
Pelo contrário, num amor caem por terra todas as santidades. Bons íntimos, isso é com a amizade. No amor, quando os demónios dentro de nós se agitam, saem à cena todas as armas e é com a nossa mais apurada pontaria que as empunhamos. No amor a gente sofre com saudades, a gente sofre com receio que tudo venha a definhar envolto em memória, no amor a gente reclama, a gente zanga-se, a gente embirra, a gente duvida, a gente pena, a gente quer proximidade, quer presença, quer o olhar do outro fixado em nós, a gente quer a nossa alma desvendada pelo outro.
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Mas isto sou eu. E que sei eu? Sei de mim e, mesmo assim, é conhecimento escasso e volátil. Para se saber mesmo, de certeza absoluta, haveria de se reunir uma amostra que respeitasse as mesmas proporções da população toda -- em idade, sexo, escolaridade, condição social, religião, etc, etc. -- e, junto dessa amostra representativa, colher opiniões. Depois de ter colhido um ror de sentenças e dúvidas se faria um mix, se coaria a mistela para lhe retirar borras e espumas e da substância se traçaria o correcto retrato. Amizade é isto. Amor, aquilo. Assim... tudo o que se diga são simples tentativas de separar algumas águas.
E se, em vez de estar a ver qual a teve maior maior, se o avante, se o santuário, ou a dissertar sobre o apoio de uns e outros ao tal que a mim pouco me diz, o tal que agora prescindiu do polémico apoio, coisa que a mim também me deixa de fora, estou aqui nesta conversa velha e relha da diferença entre amizade e amor é porque o meu soul mate, o algoritmo do YouTube, hoje tinha para me mostrar um little video no qual Borges, com aquele seu enternecedor sorriso inocente e cego, aborda o tema.
Já Alberoni dissertou sobre ambos...e tanta gente antes e depois. Concordo em absoluto com o que li aqui. Ai os demónios, os demónios! Sublime dissertação sobre um tema tão polémico, quanto interessante!
ResponderEliminarPeço desculpa...comentei como anónima, gosto de assinar o que escrevo, e...subscrevo. O comentário é meu!
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