terça-feira, junho 23, 2020

Sobre papagaios, mansos netos e outros que tais


Tenho andado talvez um pouco mais esgotada do que o costume. Não tenho conseguido responder a mails ou comentários. Tenho pena mas, na verdade, não tenho conseguido. Não pensem que é por falta de atenção ou falta de consideração. Não, é mesmo apenas falta de energia. Chego ao fim do dia e reservo a pouca energia que me sobra para o que aqui escrevo. Estou a precisar de um intervalo, de algum descanso.  Acresce que os meus últimos meses têm sido complexos. Para toda a gente o terão sido mas agora falo por mim. A minha mãe, no outro dia, dizia-me que eu deveria descansar porque tem sido muita coisa. Pois. Convenço-me de que mantendo a máquina em movimento e seguindo em frente tudo será mais fácil e mais leve. Mas a verdade é que o meu sono, sempre tão fácil e reparador, se anda a ressentir. E a minha paciência e tolerância para com gente incapaz também começa a dar mostras de estar a caminho de se esgotar. 

Mas nada que uns dias mais tranquilos e umas noites bem dormidas não resolvam. Portanto, é esperar que, logo logo, volte ao normal (se bem que o normal, com alguma frequência, anda perto disto -- reconheço).

O que sei é que, quando ligo a televisão, como tantas vezes aqui tenho dito, também não tenho paciência.

Prós e Contras sobre o teletrabalho. Achei que iria interessar-me. Mas não. Só levam gente previsível. E eu já não consigo ouvir repetir banalidades.

E, em plena pandemia, a turbamulta na rua, por todo o lado, toda a gente a respirar para cima de toda a gente, a cantar, abraçados, a partilhar copos? Vejo e acho que está tudo maluco e que não há pachorra para tanto irresponsável. Mas, ao mesmo tempo, também não consigo ter opinião bem definida e ser verdadeiramente crítica porque uma parte de mim reconhece que ninguém consegue travar a força das multidões e, quando uma multidão de jovens resolve ir para a rua reivindicar o direito de cagar para o vírus, como saber se estão errados? Se calhar não estão. Se calhar temos que olhar para o estupor do corona de outra forma. Se calhar, a abordagem deve ser outra e não a que o mundo todo tem andado a tentar. Entre a burrice encartada e as cavalices nojentas do Trump e do Bolsonaro e os confinamentos bem comportados dos bons alunos há-de haver uma outra forma, quiçá mais inteligente, para lidar com um merdinhas de nada. Mas quem é que haveremos de ouvir que tenha uma visão fresca e inteligente sobre o tema?

É como o teletrabalho: com quem é que os decisores estão a falar para se aconselharem? Com a gente velha e relha do costume? Não pode ser. O teletrabalho é uma realidade que apresenta muitas nuances e requer muita reflexão. Não pode ser debatida pelos papagaios do costume, gente que apenas quer dizer coisas. Estou farta de gente que fala não para acrescentar novas perspectivas ou para enunciar novas ideias mas, simplesmente, para dizer coisas, para se fazer ouvir. Juro: estou farta de papagaios. Acredito que, às tantas, já nem sabem pensar por si próprias, só sabem dizer o que acham que os outros esperam ouvir.

E quem diz isso diz tudo o resto. De vez em quando um breve poema, uma frase limpída, um sorriso, uma ideia inteligente bastam para salvar o meu dia mas, de resto, parece que o mundo só fala, fala, polui, polui, exibe selfies, põe likes, expõe narcisismos fúteis - e pouco mais. 

Portanto, é com agrado que, ao abrir o YouTube, descubro que me é proposto um vídeo com um casal de papagaios não humanos. Uma graça. Olho e fico sem saber se são papagaios de verdade ou se são bonecos. Seja como for, têm graça e, se forem papagaios de verdade, ainda mais graça terão. Um chamego que fará inveja a muito casal de empalhados que não se riem nem conversam uns com os outros, que não são capazes de um beijinho terno e enamorado nem daquela cumplicidade boa sem a qual nada vale a pena. 



Lá atrás vi um coelho, Como não se mexe, depreendo que não seja de verdade. Mas se estivesse com uma coelha ao lado, em vez do romance dialogante e quase platónico que se vê com os papagaios, estaria certamente a saltar-lhe para cima. Mas também poderiam ser bonecos amestrados. Nunca se sabe. A gente pensa que percebe o que está a ver mas não percebe é nada. Só os tolos acham que sabem tudo. Farta desses justiceiros e mortáguas que ditam sentenças por todo o lado.

Por exemplo, há muitos anos que ando intrigada com aquele senhor administrador da EDP que, ao contrário do Mexia -- que se arma e sempre se armou em apertadinho com veia de intelectual honoris causa --, se mostra como uma múmia a quem o cabelo cresceu durante o exílio na catacumba. É a cara, a pele macilenta, a postura corporal, a roupa larga, a cor amarelada e o insólito corte de cabelo. Tem um nome que é também, todo ele, uma narrativa: Manso Neto. De cada vez que o vejo interrogo-me: qual é a dele? Mas depois deixo para lá. Tenho a sensação que alguém levantou uma pedra e, de lá, saíu aquele zombie. Mas, na volta, é um gestor competente. Diz-se agora que terá corrompido uns quantos, ele e o Mexia-apertadinho. E eu tento imaginar: com um aspecto e uma voz de quem acabou de sair da tumba teria tido a arte de se armar em corruptor? Pois não sei. Só surpresas. Só faltava virem dizer-me que, nas horas livres, o Manso Neto faz um rabo de cavalo, se aperalta a preceito e vai dançar sevilhanas. Um mundo desconchavado este. Parece que nada faz sentido.

Por isso, assim como assim, retiro-me  -- mas não sem antes ver outra vez aquela do papagaio que estava calado, a descansar. Morto, dizia o céptico. Armado em Carlos Costa, diria eu. Que não, dizia o outro.




A todos desejo uma tranquila terça-feira

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PS: Recomendo que vejam os comentários ao post em que falo de Pedro Lima, Anthony Bourdain e outras pessoas bem sucedidas


1 comentário:

  1. Andamos todos, ainda que uns mais um pouco que outros, esgotados. Essa a verdade
    Gostei do estilo do papagaio, qual o melhor ciclista, lol
    .
    Um dia feliz
    Saudações poéticas

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