Começo a escrever quando o dia de Portugal e de Camões já virou a página. Não tive oportunidade de ver pingo de comemoração e aqui não tenho como pôr o tempo a andar para trás. Na cidade há uma magic box que guarda o tempo. Aqui não, aqui ou se vê na hora ou já era. Coisa que não deixa de ser boa. Mas, portanto, não tendo visto, só agora li que as imagens de Marcelo num espaço quase vazio e que as suas palavras algo cruas causaram impressão. Ou que as palavras de Tolentino Mendonça foram poéticas. Ainda bem. A poesia é do melhor que o mundo tem. O mundo ou a língua. Uma língua que se transforma para incorporar música e emoção, e para acolher a rendição da luz e do tempo é uma língua feliz.
Não sei se as palavras de Marcelo são sinais de algum desejo de reorientação nas políticas sociais do país ou se são meras palavras de circunstância paramentadas de pias bolas de efeito. O que sei é que continuo a pensar que um grande debate público, chamando quem de melhor temos (embora, lá está, quem decidiria quem seriam os melhores?), me pareceria de grande utilidade. Pelo menos nestes próximos dois a três anos significativas quebras vão acontecer em alguns sectores. Pode acontecer que, estruturalmente, sejam quebras que venham para ficar. Parece-me, pois, indispensável pensar em que sectores -- úteis para o país numa perspectiva não apenas imediatista -- se deverá apostar para empregar todos quantos já estão e virão a entrar no desemprego. Identicamente, a nível do ensino e, em especial, da academia, se deverá perceber quais as valências necessárias para dar corpo a uma reorientação estratégica. O mundo mudou. Está a mudar. E, se não está, deveria estar. Cabe aos líderes apontar o sentido da corrente. E Marcelo deveria ser capaz de mobilizar a sociedade para este debate e para a apresentação de propostas.
Não sou muito de me entusiasmar com movimentos marginais que têm mais de lírico do que de racional e sustentável. Ir para o interior para viver de zero lixo ou de hortas para plantar e vender meia dúzia de alfaces ou umas cenourinhas atrofiadas em mercadinhos biológicos pode dar para fazer blogues com piada, postas no Face ou histórias no Insta -- mas não resolve a vida dos milhares de pessoas de pessoas desempregadas face a quebras incontornáveis no turismo, no comércio, na restauração. E etc.
Mas hoje não vou falar nisto. Vou é contar porque é que só agora estou a ver televisão.
Este Dia de Portugal foi para mim dia grande, dia feliz. Tive cá a maltinha toda em casa. Desde meados de Março que não passávamos um dia todos juntos. Ora estava com uns, ora com outros. Mas todos juntos, os meninos todos juntos na maior farrinha, todos na conversa ou à volta da mesa, isso só neste abençoado Dia de Portugal.
A ideia ainda era manter a distância. Nada de grandes proximidades. Mas durou, de novo, escassos minutos. Os meninos não se largaram. Felizes, felizes, felizes. Os dois mais crescidos já a quererem dar ares de se prepararem para entrar na pré-adolescência, alinhados no modo de falar, nos gostos, os dois do meio muito cúmplices, muito amigos, o bebé cada vez mais explicado, mais esperto, já a saber fazer jogos de computador com autonomia, incentivado pelos manos e pelos primos.
Consolei-me de os ver todos tão próximos, quase como se não tivesse havido interrupção. De vez em quando alguém ainda se lembrava do distanciamento... mas coisa de pouca dura. Estamos tranquilos quanto a isto pois temos estado todos tão confinados e tão cuidadosos que estamos certamente limpinhos da silva.
Antes de almoço, em cima da mesinha baixa da cozinha, o bebé viu uma cestinha de kiwis. Disse-me: 'Na nossa casa não temos kiwis. Posso comer? Estes já não têm covides?'. Garanti-lhe que não e preparei-lhe um. Menino mais querido.
A noite passada voltei a dormir mal. Não adormeci logo e, a meio da noite, acordei com calor e algumas preocupações e custou-me a readormecer. Quando o despertador tocou estava eu a dormir como se estivesse a começar a descansar. Mas tive que me levantar cedo pois o dia tinha afazeres sem tréguas de permeio. Portanto, com tudo isso e com a animação e a agitação aqui em casa, depois do lanche e estando os crescidos a conversar uns com os outros, os meninos na brincadeira, tudo na rua, a apanhar o sol brando, vim até ao sofá em que agora estou, reclinei-me e, cá para mim, devo ter adormecido de imediato. Por pouco tempo. Penso que nem cinco minutos Acordei com um dos meninos, o meu corajoso menino, mano do meio (do grupinho de três), a surpreender-se por me ver ali deitada a dormir e a dizer: 'Estás aqui? A descansar?' e, acto contínuo, debruçou-se sobre mim, abraçou-me e deu-me um beijinho. E, também acto contínuo, deu um salto para trás, 'Ah... não se pode dar beijinhos...'. Meu amorzinho querido. E lá saiu a correr. O que a porcaria de um corona da treta nos faz a todos. Mas menos mal. Estamos bem, de boa saúde e, se continuar como até aqui, talvez adquiramos imunidade sem sofrermos infecções de maior. Bicho mais estúpido do qual ninguém parece conseguir perceber o 'racional'.
E agora, se não se importam, fico-me por aqui. Não vou dizer que estou a dormir para não ser repetitiva para além da conta mas vou ter que tentar chegar até à cama porque esta quinta-feira vai ser outro dia com animação.
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Fotografias de Keyezua, participante num dos LagosPhoto Festival
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Um bom dia feriado. Saúde e boa disposição.
Tão bom!!!
ResponderEliminarUm rico dia.
Acho que a UJ devia valorizar o acordar com calores e preocupações
ResponderEliminarPassei por uma fase em que, além de dormir mal, tinha muito calor de noite. Comecei depois a transpirar muito, ao ponto de ter de mudar de pijama três a quatro vezes, bem como de lençóis. Aliás, passei a dormir em cima de uma toalha de banho para não ter de mudar o lençol.
Fui ao médico que pensou que eu estava com tuberculose com febres baixas. Como o RaioX não acusou nada, sugeriu que eu fosse a um psicólogo na eventualidade de ser uma crise de ansiedade. Pelas perguntas deste médico, fiquei com a sensação de que ele não estava a acreditar que eu transpirasse tanto.
Nessa noite, por estar consciente do meu problema, transpirei muito menos e só mudei uma vez de pijama. Nos dias seguintes praticamente já não transpirava. Era só um pouco de calor com transpiração latente.
Mesmo assim fui ao psiquiatra que me receitou um tranquilizante. Comprado o remédio, fiquei escandalizado com o que dizia a sua bula e não tomei os comprimidos. Voltei ao psiquiatra e recebi uma homilia sobre bulas. Estive quase a aconselhá-lo a ir também a um psiquiatra, tão irritado que o senhor ficou.
Acabou a receitar-me um produto natural para chonar. Valdispert de seu nome. Sem contraindicações. É o que tomo agora quando não ando a durmo bem.
Quanto à causa da ansiedade, era um problema de “lana caprina”. Como é possível?
Agora, por vezes até acho que tenho ansiedade de ter ansiedade
Um bom fim de festa, de feriados ..
Bole posts meus parabéns. ;)
ResponderEliminarRJ da Sorte