segunda-feira, junho 29, 2020

Ainda há covid...?
[+ A casa de campo da Maitê]


Continuo numa de outras coisas. Para começar o dia, fomos ao Leroy. Parque de estacionamento cheio. Máscara. Lá dentro, como é óbvio, cheio. Longas filas para as caixas. Perguntámos por uma coisa. Esgotada. 'Como esgotada? Agora?'. A funcionária elucida: 'Não, até ao Natal'. Espanto. Tudo doido. Mas agora o meu filho disse-me: provavelmente fornecedores franceses, a cadeia de abastecimento em França está com quebras. Pois, não sei. Se for isso, é mau (para a economia no seu todo) mas é menos intrigante porque, se fosse porque todo o mundo tivesse desatado a adquirir aquilo até ao seu esgotamento até ao Natal, então eu ia ali e já vinha.

De tarde, deu-me aquele apetite incontornável por um gelado. Quando estive grávida nunca senti desejos. Nem tonturas, nem inchaço nas pernas ou cansaços, só mesmo uma barriga que crescia e mexia. Agora, que não estou grávida (acho eu...), é que sinto estes desejos. Lá fomos. As ruas cheias de gente, as esplanadas cheias, nem sinal de covid. Parece que acabou ou que nunca houve covid. Uma animada convivência, tudo nos come e bebes, máscara ao pescoço (mas, a comer e a beber, como manter a máscara?), tudo junto, a falar e rir alto e bom som.

Também assisti a uma coisa que me deixou francamente incomodada. Um homem que, pelos olhos congestionados, não percebi se estava adoentado, quiçá febril, ou um bocado embriagado, estava sentado num banco de rua. Debruçou-se e assoou-se directamente para o chão. Um grosso fio de muco caiu-lhe do nariz até ao chão. A seguir limpou o nariz com a mão. Tinha a máscara, com aspecto mais do que usado, pendurada de lado no pescoço. Se já em situações normais, isto enojaria, imagine-se agora na situação que atravessamos. 

Por tudo isto, passei o dia quase todo em casa. Uma coisa é estar no campo, à solta, em liberdade. A natureza é limpa, é pura. Outra coisa, oposta, é a cidade. Faz-me muita impressão. Penso: basta que uma pessoa aqui esteja contaminada para contaminar mais um magote de gente. Muita proximidade, muito descuido, muito à-vontade, muita inconsciência. Ou irresponsabilidade. Nem sei. 

Tempos difíceis. Por um lado a gente quer voltar à normalidade, a gente percebe que o cuidado de muitos é o desemprego de outros tantos, mas pior será se voltarmos aos tempos de Março e a taxa de contágio voltar a estar acima de 1, como já está. Aí será muito mais complicado.

Uma vez ouvi algém dizer que dar uma ordem de confinamento é simples. Não há variantes. Mais difícil é a de desconfinamento controlado e responsável em que cada um interpreta ou obedece como quer e lhe apetece. Ou consoante a sua percepção das coisas.

Mas, enfim, talvez estejamos a começar a aprender a viver debaixo de uma ameaça que veio para ficar, uma ameaça invisível e traiçoeira. Se calhar, apenas estamos na fase dos baby steps, dos tropeços. Se calhar, temos desculpa. 

Portanto, aqui neste meu ninho bem acima do solo, dentro do céu, ouvindo os gritos e vendo os voos das gaivotas, entretenho-me com o que calha. Estive à janela, sentindo o frescor que sobe do rio, estive a tentar ler, estive ao telefone. E, como habitualmente, partilho convosco um vídeo no qual me revi completamente. Ou melhor, que compreendi. Ou que me deu vontade de ir para lá -- porque é o género de lugar onde me sinto bem.

PS: Também fui à farmácia queixar-me da dificuldade em dormir. Trouxe valdispert. Há anos que ouço falar nesta coisa. Hoje vou experimentar a ver se durmo como dormia antes, quando era tiro e queda.

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Os esquilinhos que andam a brincar com o texto foram fotografados por Dani Connor
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Até já

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