Hoje poderia contar muita coisa. Foi dia de mais um festejo natalício. Dia de almoço de Natal é dia em que se revêem colegas, desta vez de lugares mais longínquos. Fala-se de tudo, contam-se histórias, dizem-se piadas, umas sobre política, inevitáveis gracejos sobre o PAN ou o Livre, outras sobre outros colegas, outras sobre secretos fait-divers, relembram-se sucedidos e private jokes. Claro que ninguém se lembra que o propósito do encontro é o Natal, data que, supostamente, tem um certo significado.
O almoço começou tarde e foi pela tarde dentro. Teve discursos, felizmente dos breves, comemorações, sorteios. E risos e boa disposição. Claro que, se eu fosse de fofocar, dali teria matéria para muitos posts. Mas não dá. Portanto, direi apenas que os comes e os bebes foram bons, em especial os petiscos a abrir, os amuse-bouche, coisinhas pequenas e bem pensadas. Direi também que a minha mesa era boa, tudo gente de franca conversa e riso fácil. Oito pessoas em alegre confraternização. Uma de muitas mesas de oito, todas na maior farra. Não sei se a boa disposição foi aumentando à medida que o bom vinho nas garrafas foi diminuindo mas estou em crer que não: é gente naturalmente dada à boa companhia.
Já cá em casa, depois de mais uma deslocação em rebanho, estradas afora no meio do trânsito, a vontade de ficar a descansar e, por outro lado, a vontade de ir resolver uma pendência.
A questão é que um dos meninos tinha uma bicicleta prometida se tivesse boas notas. Já o mano tinha recebido uma e nas mesmas circunstâncias. Estava, pois, à espera de saber as notas dele. Mas, se as não tivesse boas, teríamos arranjado maneira de lhe dar a bicicleta na mesma pois a que tem já é pequena demais e não é punindo ou causando desgostos que se consegue a motivação de alguém. Este é o menino que é um exímio guarda-redes de futebol, que é um desportista de nascença, uma destreza invulgar e, no resto, um distraído, um boa onda. Aparentemente, não leva nada muito a sério, não se preocupa muito com nada, não é competitivo a não ser no desporto. Contudo, tem surpreendido com as avaliações que recebe. A mãe passa-se com a falta de concentração enquanto estuda. Aliás, praticamente não estuda, não tem paciência. E quando faz os trabalhos ou os testes parece que, verdadeiramente, não presta grande atenção nem se preocupa verdadeiramente com os resultados. Onde erra é por inusitada distração. Está agora no terceiro ano e, uma vez mais, as notas podem ser um mistério. Pois bem. Foi Bom a tudo excepto a Estudo do Meio em que teve 100%. Quando lhe perguntei se gosta muito de Estudo do Meio, com aquele seu ar de descaso, disse que 'um bocado'. É um divertido, bem humorado e, sobretudo, uma boa pessoa. Não arranja conflitos com ninguém. E, claro, não se inibe com meninas. Penso que vai ser um namoradeiro. De todos os meninos penso que é o mais parecido com o meu filho. Tem uma maneira de ser muito idêntica à do tio. Claro que merece uma bicicleta. Uma bicicleta e todo o amor do mundo. Ele, tal como os meus outros meninos. E tal como todos os meninos do mundo.
By @johandroneadventures (Belgium) |
Bem, mas isto para dizer que lá fomos à noite comprar a bicicleta. As bicicletas supostamente para a idade dele parecem pequenas e o tamanho que parece estar-lhe bem é supostamente para meninos mais velhos. Mas ele é alto. Para arranjarmos do tamanho que nos parece adequado e em cores de que ele vai gostar fomos a três sítios. Já cheios de fome e cansados, estávamos prestes a desistir. Resolvemos ir jantar para ver se recuperávamos a energia e boa disposição pois a impaciência estava já a transformar-se em irritabilidade.
Depois, já mais compostinhos mas com o cansaço a transformar-se em sono, fomos fazer uma última tentativa. E, felizmente, bem sucedida. Não sabemos se chegará com os pés aos pedais mas esperamos que sim e, se não chegar, olha, paciência, troca.
E, então, às quinhentas, lá viemos com a bicicleta pela mão até ao carro. E, chegados ao carro, para ela caber, quase tivemos que o desmanchar, bancos todos rebatidos. O meu marido já quase não falava. Nem eu.
Quando chegámos, foi a manobra inversa. Uma canseira para quem já estava tão cansado. No elevador, a bicicleta teve que ir ao alto e eu não coube.
Quando aqui cheguei ao sofá, deu-me uma tremenda pancada de sono. E agora já passa bem das duas da manhã. Mas estou contente porque, nos interstícios dos afazeres, já tratei de muita coisa e já não me falta muito.
Mas há bocado deu-me um baque. O meu marido disse: Não será melhor começarmos a fazer as compras?' Passei-me: 'Começar? Já quase acabei e dizes isso?' Mas ele esclareceu: 'Para levares para a véspera e para o almoço do dia cá em casa. Vais guardar para a os últimos dias, o superercado numa confusão?'. Nem disse nada. Nem quero pensar nisso. Escudei-me: 'Caraças. Faltam dez dias.' Mas ele, como gosta de fazer tudo antes de tempo, por ele comprava já tudo, se calhar até as couves. Eu sou ao contrário. Quando não estou para aí virada, até fujo. Depois, como se eu não estivesse já a sentir-me suficientemente pressionada, ainda ousou: 'Este ano não compras roupa para os miúdos?'. Respondi redondamente que não. Abaixo a porcaria do consumismo. Mas estou aqui torcida: os miúdos precisam sempre de roupa. Roupa para as crianças não é consumismo. Mas, caraças, ir meter-me na Zara a comprar roupa para cinco crianças nestes dias antes de Natal...? Ninguém merece.
É assunto a merecer reflexão. Mas não hoje.
Mas há bocado deu-me um baque. O meu marido disse: Não será melhor começarmos a fazer as compras?' Passei-me: 'Começar? Já quase acabei e dizes isso?' Mas ele esclareceu: 'Para levares para a véspera e para o almoço do dia cá em casa. Vais guardar para a os últimos dias, o superercado numa confusão?'. Nem disse nada. Nem quero pensar nisso. Escudei-me: 'Caraças. Faltam dez dias.' Mas ele, como gosta de fazer tudo antes de tempo, por ele comprava já tudo, se calhar até as couves. Eu sou ao contrário. Quando não estou para aí virada, até fujo. Depois, como se eu não estivesse já a sentir-me suficientemente pressionada, ainda ousou: 'Este ano não compras roupa para os miúdos?'. Respondi redondamente que não. Abaixo a porcaria do consumismo. Mas estou aqui torcida: os miúdos precisam sempre de roupa. Roupa para as crianças não é consumismo. Mas, caraças, ir meter-me na Zara a comprar roupa para cinco crianças nestes dias antes de Natal...? Ninguém merece.
É assunto a merecer reflexão. Mas não hoje.
E é assim que, depois de um dia de trabalho com almoço nataleiro de permeio e de uma noitada a carregar com uma bicicleta, nada mais tenho a dizer.
By @wunderbilder (Germany) |
E, para que possam ter alguma coisa de jeito para ver para além das fantásticas fotografias que vos mostrei do #Urban2020 Photo Contest by Agora, permitam que, a despropósito, partilhe convosco o vídeo abaixo onde umas avozinhas cozinham (embora eu, olhando para estas avozinhas, as olhe como se tivessem idade para serem minhas avós... e depois fique a pensar que temos que reequacionar o conceito de avózinha -- mas não hoje)
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Não consigo hoje chegar-me aos comentários. Tentarei amanhã conversar com quem os escreveu.
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O Fly me to the moon está aqui por razões óbvias
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Um merry sábado a todos.
Oh-Oh-Oh, beijinhos e abraços
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Para os seus meninos(as): https://youtu.be/SqEXbn1wt9c
ResponderEliminarE ao invés de roupa: https://www.fnac.pt/A-Manta-do-Jose-Miguel-Gouveia/a7264653
E para si: https://youtu.be/PWUXIWaP-0w
Bom fim-de-semana!
Gosto desses almoços nesta altura do ano, em que retomamos contactos alegres e calorosos, à mistura com alguma nostalgia.
ResponderEliminarA descrição do seu menino fez-me lembrar o meu filho nessa idade.
A minha avó também era a melhor cozinheira.
Comentários desgarrados, mas estou assim. Um óptimo fim-de-semana.
Olá Paulo,
ResponderEliminarJá me deu umas boas ideias, sim senhor.
E gostei do meu presente, fez-me rir.
Gracias!
Olá AV
ResponderEliminarE eu gostei de ler os seus comentários desgarrados, condizem com as minhas conversas também desgarradas.
Gracias!