de Jacqueline Secor |
E trópica mansamente
De leite entreaberta às tuas
Mãos
Feltro das pétalas que por dentro
Tem o felpo das pálpebras
Da língua a lentidão
Guelra do corpo
Pulmão que não respira
Dobada em muco
Tecida em água
Flor carnívora voraz do próprio
suco
No ventre entorpecida
Nas pernas sequestrada.
Maria Teresa Horta
de Jacqueline Secor |
No seguimento do post de ontem, decidi fazer um post em homenagem a uma das partes mais fantásticas do corpo das mulheres. Já não é a primeira vez que o faço (por exemplo aqui e aqui) e provavelmente não será a última. É uma parte íntima, geralmente escondida, muitas vezes objecto de vergonhas, de tabus, muitas outras vezes transformada em arma de arremesso vernacular. E, no entanto, que delicadeza, que porta de entrada para um mundo de mistérios e prazeres. Felizmente a anatomia colocou-a num lugar em que está ao abrigo de olhares impróprios, protegendo-a de uma banalização que a tornaria menos secreta e menos desejada.
Por motivos que não alcanço, há quem a associe ao pecado e proíba imagens suas. Eu, pelo contrário, acho que a sua existência deveria ser glorificada e só por pensar que os meus filhos existem porque alguém transpôs esta entrada do meu corpo para no mais interior de mim depositar a sua semente e que ambos chegaram a este mundo descendo por mim e atravessando esta porta abençoada, ainda mais penso que pecado uma ova.
E agora chega de conversa. Vou ali buscar o meu chá, quentinho e bom. Aceitam um bolinho?
E viva a vulva
[O filme publicitário da polémica]
E até já.
Daí que o Cunnilingus, vulgo "Minet" em francês ("minete" em Português), constitua a suprema forma de um homem e uma mulher, ou uma mulher e um homem, obterem prazer e homenagearem a Suprema Vulva, enfim, a Mulher. Há algumas teorias e explicações sobre a matéria, que retirei de alguma informação que nos é dada por mulheres e até de alguns homens, sobre a matéria. Mas, o que interessa é que esse momento é o mais sublime da relação entre um homem e uma mulher, só depois vem o coito, por melhor que seja o mesmo. É uma entrega muito especial da mulher ao homem, mas igualmente um momento de particular entrega e envolvimento do homem perante a mulher. E isto nada tem de pornográfico. De chocante. Pelo contrário. É algo extraordinário. É belo. E um homem pode, naquele momento, transpor toda a ternura que sente por essa mulher, sobretudo se estiver apaixonado por ela. E o mesmo se aplica à mulher que assim se entrega ao homem. Em resumo, a intimidade entre uma mulher e um homem pode ser um momento de enorme carinho e profundo envolvimento e o o dito "minete" pode desempenhar um papel crucial da relação entre ambos.
ResponderEliminarAssim sendo, nada de preconceitos e homenageie-se essa maravilha da Natureza do Homem que é a Vulva.
a)..."Anónimo", como não podia deixar de ser.
Tenho uma história engraçada sobre a vulva: tinha para aí uns 8/9 anos, andava eu na 3a / 4a classe, tinha uns colegas, rapazes adolescentes, de uns 14/15 anos... Já muito vividos... Que me resolveram interrogar para perceber se eu gostava de... (bem, obviamente não usaram a palavra vulva mas sim o calão brejeiro c#n@) ou se preferia... (p!##@). Tirando a agressividade do interrogatório (ainda não se tinha inventado a palavra bullying na altura), fiquei intrigado, porque genuinamente não sabia o significado das palavras. Pois muito bem, resolvi, na maior das minhas inocências, perguntar à professora. Resultado: um bom par de chapadas, castigo e recado para os pais. Chego a casa, tento explicar o sucedido (para justificar o recado) e eis que a minha mãe nem me deixa acabar e me "dá", num reflexo instintivo educativo, uma das duas únicas chapadas que me lembro de receber dos meus pais (a outra também é uma história caricata), chegando a partir-me um dente (não pela violência da chapada, mas porque bateu, sem querer - espero! - na aliança. Claro que durante muito tempo achei que fosse uma coisa má e talvez explique porque tive uma descoberta tão tardia...
ResponderEliminarA bem do desenvolvimento saudável da criançada, bem que o post da UJM poderia ser incluído no currículo escolar!
Já agora, não sei porque se tornou a designação c#n@ brejeira... Mas isso... Ainda tenho medo de perguntar!
Olá Ujm.
ResponderEliminarBela definição essa de "porta de entrada para um mundo de mistérios e prazeres". Só acrescentaria que é a mulher que tem a "chave" dessa porta de entrada e cabe ao homem saber "rodá-la" para poder franqueá-la...
As pinturas que colocou fazem-me lembrar aquela pintura oitocentista de Courbet, "L´origine du monde", tão interpelativa e erótica hoje, como quando foi feita.
Bom resto de domingo!
Ah, vi agora que já havia colocado essa pintura há uns anos atrás!
ResponderEliminarOlá "Anónimo como não podia deixar de ser",
ResponderEliminarPois bem. O que posso dizer é que deve ser homem experiente, conhecedor da anatomia feminina e dos segredos que ela esconde, sabedor de como estabelecer uma relação de proximidade em todas as suas vertentes.
E, claro, concordo que não pode haver sombra de pecado ou de vergonha numa parte do corpo que é altar, leito, chão, mar e porta de entrada e saída do corpo de uma mulher.
Obrigada pelo seu testemunho, pelo seu contributo e pela partilha dos seus saberes.
E dias felizes!
Olá Paulo!
ResponderEliminarJá me fartei de rir com a sua história. Coitado. Imagino a sua perplexidade.
Não me lembro de quando é que eu soube destas coisas, dos nomes, das funções. Só me lembro de uma das minhas tias estar grávida, devia eu ter uns cinco ou seis anos. E umas meninas, minhas colegas, disseram que isso tinha acontecido porque o meu tio se tinha deitado em cima dela. E eu não acreditei porque a minha tia era magrinha, franzinha, e o meu tio fazia dois dela, muito alto, muito bem constituído. Achei que o que elas diziam não fazia sentido, a minha tia não aguentaria um peso daqueles em cima dela. Mas elas insistiram tanto que achei que alguma coisa havia. Perguntei depois se aquilo de os galos se porem em cima das galinhas, a galarem-nas, também era para fazerem bebés nas galinhas. E tudo isso me fazia uma certa confusão pois não percebia como é que, por alguém se pôr em cima de outra, poderia vir a nascer um bebé.
Ainda não sei como deve ser a aprendizagem das crianças. Nem sempre estão preparadas para perceber essas coisas , nem tudo o que os adultos fazem pode ser replicado por elas. Há coisas que requerem alguma maturidade. Mas também acho que, se perguntam, se deve responder, com cuidado, adaptando à sua compreensão. Sobretudo nunca deveremos deixar que achem que estamos a falar de interditos, de coisas ligadas a 'pecado', a 'fazer mal'.
Quanto à designação vernacular feminina, não acho mal de todo. Já o equivalente masculino me parece agressivo. Acho que é o único 'palavrão' que não consigo dizer.
Abraço, Paulo! Uma semana feliz.
Hahahahaha. Somos tão ingénuos quando crianças. Tenho mais umas histórias engraçadas, onde se nota o quão estes temas eram reprimidos, dando origem a explicações muito caricatas que só aumentam a perplexidade e ao mesmo tempo aguçam ainda mais a curiosidade. :)
EliminarOlá São Tiago,
ResponderEliminarUm tema tão profano para um São... E sim, é a porta, é o túnel, é o leito, é o caminho, é o cofre, é o abismo e é o oratório. E sim, tem toda a razão, é a mulher que tem a chave, que é a dona da cancela, do portão. E o homem deve descobrir o segredo, a chave, o código secreto que lhe permitirá atravessar tão reservado e sagrado templo.
Há muitas pinturas e, tem razão, já partilhei algumas: quer as flores da Georgia O'Keeffe quer a origem do mundo do Courbet.
Obrigada pelas suas palavras, São Tiago. E uma bela semana para si!
Olá Ujm.
ResponderEliminarÉ todo um diálogo entre a dona da porta que possuiu a chave... e o homem que tem de descobrir como saber usá-la, para poder transpor o umbral desse templo único, "sagrado e reservado".
Quanto à profanidade do tema para um "São..." humm... Penso que talvez agradará ler o "Cântico dos Cânticos! Há quem diga que foi uma mulher que o escreveu...
Obrigado pelas suas palavras e tenha também uma bela semana!
É lindo esse "cântico dos cânticos" Tiago!
EliminarÉ verdade, é mesmo Paulo. Será do conhecimento da UJM?
ResponderEliminarOlá Tiago, hoje sem São,
ResponderEliminarJá me pôs aqui a ver se o descubro. Tenho que fazer uma busca mais apurada. Não encontrei. Onde estará? Junto da poesia estrangeira? Junto dos livros religiosos? Não estou a dar com ele.
Mas conheço, sim, pelo menos na versão que tenho.
http://umjeitomanso.blogspot.com/2012/11/beije-me-com-os-beijos-da-sua-boca.html
Gracias, na mesma, Tiago. Estou a ver que também é pessoa de bom gosto. Pelo menos de um gosto que eu gosto.
Olá UJM.
ResponderEliminarVejo que conhece então esse livro "escondido" no meio da Bíblia. É um livro muito interessante, com metáforas eróticas, ainda que algumas só sejam mais compreensíveis ao leitor da época e do contexto territorial em causa!
Já agora, qual é esse gosto que gosta?
Tiago, disse que gosto do seu gosto pois gosto de ler o que escreve, gosto dos temas sobre os quais escreve e das coisas que refere como esta do Cântico dos Cânticos.
ResponderEliminarÉ isso. Mas, claro, a partir do que escreve. Agora se me disser que usa alfinete de gravata, camisa cor-de-rosa com colarinho branco ou que o livro da sua vida é um do Paulo Coelho, então terei que reformular.
:)
Um dia feliz, Tiago.
Ujm, ainda bem que gosta do que tenho escrito e sobre o que tenho escrito:)
ResponderEliminarAgora sobre esses três pontos:
- Muito raramente uso gravata... ocasiões festivas, solenes.. Fora isso praticamente nunca.
- Não tenho camisa cor-de-rosa.
- O meu autor favorito é o varzinense que foi cônsul em Cuba, Newcastle, Bristol e Paris.
Dias felizes, UJM.