Primeiro facto: supostamente uma ou várias pessoas assaltaram Tancos e, segundo ouvi, roubaram várias caixas de munições, no total pesando toneladas, transportando-as em carrinhos de mão até ao veículo que as levou dali para fora não sei de uma vezada ou em mais.
Dúvidas:
- Por que razão a investigação não avançou logo e não impediu o roubo quando um dos envolvidos na preparação do roubo se chibou com um mês de antecedência à PJ? Note-se: á mesma PJ que agora, no fim, aparece como a boa da fita, depois de, en passant, ter desacreditado a PJ Militar e mais uns quantos. Não atinjo.
- Não há câmaras, não há rondas, não há nada naquele quartel que impeça que tal coisa, a ter ocorrido, se faça assim, às claras? Não atinjo.
- Os oficiais, sargentos e cabos que lá estavam não deram por nada? Estavam a dormir? é normal, isto? Não atinjo.
- Por que raio de carga de água foram os ladrões roubar munições maioritariamente obsoletas? Não atinjo. É que não atinjo mesmo.
- Por que raio de carga de água os ladrões, supostamente, queriam vender munições obsoletas à ETA quando a ETA há que séculos que foi desactivada? Ainda menos atinjo.
Segundo facto: aparentemente pouco tempo depois, soube-se quem tinha estado envolvido no roubo e alguns meses depois o material apareceu.
Dúvidas:
- Porque não acusaram quem tinham de acusar e, pelas vias normais, não recuperaram o material roubado? Também não atinjo.
- Porque é que, enquanto andavam uns, os militares, a investigar e, supostamente, a conseguir a recuperação do material roubado, andavam outros, os civis, a investigar os que que estavam a investigar? Não se atinge, parece brincadeira.
- Porque é que os homens em geral e alguns em particular são tão infantis e têm um orgulhozinho tão besta e pueril que os leva a pelarem-se por brincar aos polícias e aos ladrões até serem velhos? Não dá para atingir.
- Como é que, mesmo numa situação que ganhou imediatamente contornos mediáticos, os militares da PJ Militar acreditaram que iam conseguir recuperar aquele maravilhoso conjunto de tretas roubadas e ficar bem na fotografia, não desconfiando que os da PJ Civil estavam de olho e fariam de tudo para lhes fazer a folha? Dá para atingir? Não me parece. Aliás, parece improvável demais para poder ser levada a sério.
- Porque é que os militares, mesmo perante uma situação tão absurda (porque todo aquele suposto roubo, a ter acontecido, é absurdo, cómico até), se mantiveram naquele espírito de 'defender os seus', contra tudo e contra todos, não percebendo que iam encrencar toda a gente, desde o pobre coitado do ministro Azeredo até ao Marcelo que é o Chefe Supremo das Forças Armadas? Não atinjo. Alguém atinge? Eu não.
- Com base em quê é que alguém, no meio desta paródia, andou a 'escutar' e a ler 'sms' ministros e deputados? Não se atinge, parece coisa descabelada demais para ser verdade.
- Que raio de ladrões são aqueles que não apenas roubam material obsoleto para tentar vender a uma organização desactivada como, quando devolvem o material, devolvem material a mais? A mais?! E como é que tinham esse material a mais? Já tinham roubado antes? Ou...? Ou tudo isto não passa de outra coisa qualquer? Não atinjo, não atinjo mesmo.
Conclusões:
1ª - Há muita coisa bacoca e ridícula nesta história. Muita. Demais. Tudo isto me cheira a macacada. Aliás, estou certa que isto ainda vai dar um filme de gargalhada pegada. E, se querem que vos diga, ainda não estou certa de que tenha havido qualquer roubo de verdade. Não descarto a hipótese de que isto tudo de que se anda a falar não seja simplesmente um amontoado de invenções ridículas. Não me parece descabido que tenham começado por engendrar uma desculpa esfarrapada para uma qualquer irregularidade e que, para lhe darem substância, se tenham posto a engendrar cenas parvas atrás de cenas parvas e que, tendo o enredo descambado, lhe tenham perdido o controlo dando no que deu. E que, agora que tudo isto assumiu tamanhas proporções, já não tenham lata de vir a terreiro dizer que pedem muita desculpa por andar a causar tanto sururu porque a única coisa que aconteceu foi que, para justificarem não terem o inventário em dia, resolveram fingir que tinham sido assaltados... Ou isso ou outra parvoíce do mesmo obsoleto calibre. Quem sabe não foi uma rasteira montada para encalacrar alguém, coisa que era para ser mais discreta, e que, às tantas, escalou até onde escalou sem que se lhe pudesse pôr travão...?
2ª - Quanto ao ministro Azeredo, coitado, deixem o pobre homem em paz. É um homem decente e honrado que, sem saber como, se viu metido neste jogo de faz de conta, de meias palavras, de pactos de silêncio. Devem ter-lhe dito qualquer coisa como: 'Não se preocupe que está tudo a ser tratado e não podemos entrar em pormenores mas, tranquilo, vamos resolver tudo e isso é que é preciso e tudo o que há a fazer vai ser feito'. E o inocente Azeredo deve ter acreditado que a investigação estava a decorrer na normalidade, sem perceber que tudo aquilo era uma armação. E, cá para mim, sem ter percebido que, de uma ponta a outra, toda esta história não deve passar de uma armação. Embora, pelo menos no princípio, ele tenha suspeitado pois chegou a dizer: '... no limite pode até não ter havido roubo...'. Pois.
3ª - Toda esta pangalhada em volta disto -- com o palerma do Rio (repito e com todas as letras: p-a-l-e-r-m-a), a cínica da Catarina e a destrambelhada Cristas a condenarem o ministro Azeredo na praça pública, a crucificarem o António Costa (que nada tem a ver com isto*) e a enxovalharem a campanha eleitoral, transformando a comédia delirante que é o 'caso Tancos' num lodaçal onde querem soterrar o Governo e o PS -- é uma estupidez pegada. Um atentado à nossa inteligência.
4ª - Quanto ao momento escolhido para lançar a acusação nem vale a pena dizer nada. É a estocada final em toda esta palhaçada. Sabendo-se a confusão que isto ia causar em plena campanha eleitoral foi mesmo agora que teve que ser. O pilar da Justiça está corroído e não venham dizer-me que isso não é um risco para a Democracia.
4ª - Quanto ao momento escolhido para lançar a acusação nem vale a pena dizer nada. É a estocada final em toda esta palhaçada. Sabendo-se a confusão que isto ia causar em plena campanha eleitoral foi mesmo agora que teve que ser. O pilar da Justiça está corroído e não venham dizer-me que isso não é um risco para a Democracia.
[*Coloquei ali um asterisco porque não sei se o Governo tem poder para mandar pôr a tropa fandanga** que estava colocada em Tancos e/ou a brigada de investigadores, todos em formatura aí num qualquer lugar de passagem para a gente que passa se poder rir deles à cara podre. Ou a eles ou o Rio, a Catarina e a Cristas, esses três tristes da vida airada, encostados a uma parede para a gente lhes pôr orelhas de burro e ter pena deles. É que, se tem poder para isso e ainda não o exerceu, está mal.
** E coloquei agora dois asteriscos na frase acima porque se calhar é injusto falar de todos por igual quando aquilo pode ter sido obra de apenas uns dois ou três]
Whatever...
Que entre mas é a tropa dos meus amigos Monty Python
Que entre mas é a tropa dos meus amigos Monty Python
Pim-pam-pum.
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Adendas
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Adendas
Chegam-me por mail dois alertas:
1º - Rui Rio no início da semana, antes de ser divulgada a telenovela chunga que é esta acusação, terá dito (aos microfones da TSF?) que estaria para dentro de poucos dias o conhecimento de mais uma encenação de António Costa. Na altura terá soado misterioso, quase a lembrar o 3º mistério de Fátima. Agora, que se sabe a que é que ele se referia, parece legítimo que se pergunte:
Rui Rio teve acesso a segredos de justiça? Ele que até os jornalistas punha de cana? O que é que ele sabia? Sim, o que é que ele sabia? E, sim, se ele sabia, como é que sabia?
E o afã dele, ele que dias antes tinha condenado os julgamentos em praça pública, em vir tentar enlamear António Costa parece agora ainda mais suspeito.
2º - Enviaram-me também por mail link para um artigo de Carlos de Matos Gomes (militar, investigador de história contemporânea, escritor com o pseudónimo Carlos Vale Ferraz) intitulado Tancos e as Operações de Falsa Bandeira
Transcrevo apenas o final do artigo:
Os beneficiários desta acusação Tancos, são a PJ e o MP, que reforçam o seu poder como corpos determinantes das políticas do Estado. Poderes fáticos. É um dado. Os grandes prejudicados são os poderes eleitos pelos cidadãos, o governo saído de uma assembleia e um presidente eleito por voto direto. É ainda atingida a instituição armada, aquela que representa a última autoridade do soberano, as forças armadas.
Tecnicamente e sem subterfúgios: chama-se a isto um golpe. Para defesa da democracia e do Estado de Direito, em minha opinião, este golpe e os seus autores têm de ser enfrentados e desmascarados, com todos os riscos que isso comporta.
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E isto para dizer que a procissão ainda vai no adro e que o primeiro milho é para os pardais.
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Também combinava este: https://youtu.be/C-M2hs3sXGo
ResponderEliminarEste Post é um verdadeiro DELÍRIO!!!!!!!!!
ResponderEliminarUm texto claro,esclarecedor e com o qual se tem de concordar,ponto por ponto,e também com a adenda do segredo prometido e agora revelado.
ResponderEliminarAs "boas"relações entre PJ e PJM não são de hoje. O episódio da extinção dos Tribunais Militares ainda "melhorou" o relacionamento.Sabemos que há pessoas inteligentes nos dois lados e também, helas,as outras. Desse mundo sai este primor com a felpuda cauda a vêr-se.Como matéria atrai matéria, eis que se junta o MP à açorda,com a subtileza de uma Branca de Neve em terceiras nupcias...para crescer o monte o Rio e a Cristas em défice de argumentos agarram-se ao traque que evanesce...e tudo acaba nesta cena macabra de fazer rir as pedras !
«não sei se o Governo tem poder para mandar pôr a tropa fandanga** que estava colocada em Tancos e/ou a brigada de investigadores, todos em formatura»
ResponderEliminarO governo, aliás o partido, aliás o PM, têm todo o poder: escolher e nomear os chefes, no caso o Chefe do Exército.
If... o ministro não sabe o que fazer do 'poder', If... o ministro se limita aos papéis que circulam de chefe de gabinete para chefe de gabinete, If...convive sem qq incómodos para o que se passa nos baixos escalões e o Yes Minister dos chefes da mili, tudo bem.
Fica a par dos aturados estudos, reflexões e trabalhos, dos 'vigilantes' deputados da CPD/AR,
todos bem uns para os outros. A fazer currículo.
Extracto alusivo: Se por 2004*/05, uma análise honesta e séria sobre o Portugal Militar tivesse tido lugar: reorganizar a rede de quartéis, revertendo alguns ao país que os construiu*; eliminar os paióis de Tancos, com os materiais para o Campo Militar de Santa Margarida; libertar as poucas tropas da zona Tancos-Tomar de uma anómala missão de não segurança!
*Extinção do SMO
Ah, UJM, isto sim é cabecinha pensadora.
ResponderEliminarMuito bem!
Um rico fim-de-semana.