E eis que, depois de dias em família, a casa feliz por tudo e, também, com os risos das crianças, a mesa sempre cheia de muitas conversas e o tempo a passar rapidamente, logo de manhã decidimos trocar o campo pelo mar.
Rumamos, pois, a sul, ao encontro da intersecção de todos os azuis, do ponto de luz onde o espaço e o tempo nascem e terminam, naquele encontro feliz e único onde não há explicação nem salvação.
Quase segui o conselho da Luísa que me disse para vir só em Setembro. Antecipei um pouco mas a maior parte dos dias serão em Setembro. O tempo quente não é deste tempo mas a aragem torna-o mais afável e a frescura das águas ajuda a acalmar os ardores da pele. Andando por aqui, tão perto das agruras quentes e desérticas um pouco mais a sul, deveríamos preocupar-nos com este calor imoderado. Mas os tempos, por estes lados, não estão de feição para climas de preocupação e, portanto, esquece-se a raiz do problema a iludimo-nos, como se tudo isto fosse uma benesse sem contrapartidas.
Ou seja, ao longo do dia, rasseio, refresco-me, fotografo, veraneio, saboreio o bom peixe com sabor a mar, a torta feita de figo e alfarroba, deixo-me ir ao sabor do vagar.
Ao fim do dia, o sol intensamente dourado, uma gaivota, tal como eu, simplesmente estava. Olhávamos a luz, o calor, a serenidade do momento. Uma aragem fazia-me esvoaçar, ao de leve, o cabelo e, a ela, a plumagem. Não sei se me viu ou, se tendo-me visto, me achou motivo irrelevante. Não interessa. Fotografei-a em toda a sua indiferença, antes de, mais tarde, se lançar em magnífico voo.
Depois, à noite, passeamos. As ruas cheias de mil vozes. A terra é, agora, uma babel multicolorida, onde se cruza gente de todas as cores e raças e línguas. Umas mulheres vestem-se como que para coktail de início de noite, outras para chá dançante, outras para noite de gala. Outras vêm da praia ou dos veleiros que por aqui param e estão tisnadas, os cabelos apanhados sem rigores, as roupas escassas, leves e sem cuidado. Os homens também mas, neles, as diferenças de dress code não são tão extremadas. E muitos, muitos jovens. uns totalmente informais, outros nem tanto. Bebem, fazem brindes, abraçam-se, riem, seduzem-se uns aos outros, ensaiam jogos que, certamente, recordarão para o resto da vida.
E quase em cada canto há quem toque ou cante ou faça outras habilidades. E tudo se compra e tudo se vende. Pequeno comércio. Reparo, sobretudo, nos brincos, colares e pulseiras. Uma tentação. Gosto de me enfeitar. Podia andar vestida toda de branco ou toda de preto e com aparatosos adornos. Hoje namorei um colar em turquesas intercaladas, de quando em quando, por pedras encarnadas. Aquele contraste pareceu-me muito atraente. Mas achei o colar um pouco curto. Talvez ainda o vá experientar pois só saberei se tem que ser, depois de vê-lo posto em mim. Os preços tornam ainda maior a tentação. Nao sei que pedras são estas que têm um preço tão apelativo.
Também me atraem os vidros coloridos. Tão bonitos. Estive a namorá-los sem saber onde poderia pô-los. Jarrinhas minúsculas, muito inperfeitas e belas. Ou bolas de vidro suspensas. Devo ter um lado infantil que não se cura para me deixar encantar com tudo, com coisas que, se calhar, pouco valem. Mas, para mim, é com encantamento de primeiro lhar que as olho.
Ou conchas, ou as nacaradas ou os búzios, aqueles que gosto de encostar ao ouvido para ouvir o mar. Vejo, passo a mão pela sua superfície, gosto de sentir como são macias, polidas pelo mar.
E assim, com vagar, vou passando pelas ruas empedradas sobre as quais passam aquelas pessoas da terra que conheço das palavras de um certo príncipe que delas fala com doce melancolia e uma tocante ternura.
Hoje comprei o Expresso. Quando estou de férias, gosto de comprar uma revista para ir lendo, o espírito em modo flâneur. Como estava curiosa em relação à Lourdes Castro, em vez de outra coisa qualquer comprei o Expresso. Claro está, gostei imenso da entrevista e fiquei a pensar que, agora, iria transcrever algumas afirmações dela. Mas afinal, com pena minha, não posso. Estou a ser instada a apagar a luz. Além disso já sei que a alvorada será relativamente cedo.
Nos últimos dias, não respondi a algns comentários e tenho uns três ou quatro mails também em atraso. Pensei que hoje talvez pudesse mas, afinal, também não consegui tempo. Nestes dias é impossível arranjar um bocado para me agarrar ao computador -- só mesmo à noite mas, à noite, como é o caso, nem sempre tenho ampla liberdade de movimentos. Ademais, parecendo que não, talvez do ar do mar, não sei, estou ainda com mais sono. Portanto, se não levam a mal, fico-me por aqui. Amanhã há mais.
E setembro até está com mais ar de verão do que o agosto que findou... :)
ResponderEliminarBoas férias pelo reino dos Algarves, UJM. :)
Olá Luísa,
ResponderEliminarÉ isso, 'tá-se' bem em Setembro, um calor estival, a água do mar a ficar à maneira, o céu e o mar muito azuis, tudo perfeito.
E o Reino dos Algarves é sempre outra coisa, outra qualidade de vida, não é?
Abraço, Luísa!