Cada vez mais me convenço de que não sou verdadeiramente conhecedora de coisa alguma. E ia dizer coisa nenhuma mas não sei se nisto da escrita se aplica o mesmo que na matemática em que menos por menos dá mais. É que o quero dizer é que não há nada sobre o que eu possa dizer que sei muito. Nada. Sei é nada.
De dia para dia ganho consciência do meu desconhecimento. De dia para dia constato que caminho por uma estrada que não tem fim e, mesmo quando chegar ao fim do meu caminho, ele continuará aberto aos que vierem depois de mim, infinito, infinito no que esconde.
Posso gostar de uma coisa, de um tema, e, aí, tento conhecer mais -- mas chegar ao ponto de achar que estou à vontade no assunto isso é sensação que não conheço desde que me conheço. E cada vez menos. Ou melhor: cada vez mais sei que sei menos.
Por exemplo, pintura. Exposições, museus, livros, artigos. Volta e meia até me dá para pintar. E, cá em casa, muita coisa. Também escultura mas, aí, não tenho muita coisa cá em casa, é mais o que aprecio na rua, em lugares públicos, em museus. Performances, não é frequente entender-me bem com. Muitas vezes parece-me coisa bizarra e a impressão de bizarria canibaliza outras sensações. Mas, em geral, mesmo pintura ou escultura, não sou conhecedora, sou apenas apreciadora. E não sou apreciadora em geral, sou apreciadora do que gosto. Quando não gosto, passo ao lado. Mas, quando gosto, emociono-me. Ou gosto de olhar. Ou gosto de estar perto.
Por tudo isto, quando vi o título The best art of the 21st century, avancei sem qualquer esperança.
Nos livros, The 100 best books of the 21st century, ainda conheço alguns e, se não os livros em si, pelo menos alguns autores. Li com curiosidade a escolha, animada por não estar na total ignorância. Mas, para o melhor da arte, parti logo desenganada. Como qualquer pessoa vencida à partida, já ia a saber que não haveria de gostar de muita coisa, que não haveria de conhecer a maior parte dos artistas. Só que foi pior. Apenas gostei de uma das escolhas e, por acaso, gostei muito: The Upper Room de Chris Ofili, em que uma das 14 pinturas que a compõem é a que está lá em cima, no início do post. Em relação a tudo o resto fiquei naquela em que tantas vezes penso de outras pessoas -- gente que intimamente acho retrógrada, conservadora, estreita de ideias. E assim me vi eu: 'Mas isto é o quê? Arte? Arte, o caraças. Arte, isto? Uma ova.'. Uma a uma, por desconhecer, fui googlar. Vi todas as obras que quatro críticos de arte do The Guardian elegeram como as melhores do século XXI. E, juro, não estou a fazer género: fiquei como boi para palácio. Nem consegui escolher um exemplo para aqui colocar.
Calhou, quando estava a ver as obras seleccionadas pelo The Guardian, estar a dar na RTP 2 uma entrevista a Graça Morais sobre a sua exposição Metamorfoses da Humanidade à qual pertencem as obras aqui imediatamente acima e abaixo. E, como sempre que a ouço ou que vejo as suas obras, sinto a grandiosidade desta mulher. É simples no falar, é terra a terra, mas, na forma humanista como olha os outros, é uma pessoa superior. E as suas pinturas e desenhos são genuínos, é arte de verdade, há autenticidade e vivência, há elevação e intemporalidade. Arte: não experimentalismo ou paródia.
Nos livros, The 100 best books of the 21st century, ainda conheço alguns e, se não os livros em si, pelo menos alguns autores. Li com curiosidade a escolha, animada por não estar na total ignorância. Mas, para o melhor da arte, parti logo desenganada. Como qualquer pessoa vencida à partida, já ia a saber que não haveria de gostar de muita coisa, que não haveria de conhecer a maior parte dos artistas. Só que foi pior. Apenas gostei de uma das escolhas e, por acaso, gostei muito: The Upper Room de Chris Ofili, em que uma das 14 pinturas que a compõem é a que está lá em cima, no início do post. Em relação a tudo o resto fiquei naquela em que tantas vezes penso de outras pessoas -- gente que intimamente acho retrógrada, conservadora, estreita de ideias. E assim me vi eu: 'Mas isto é o quê? Arte? Arte, o caraças. Arte, isto? Uma ova.'. Uma a uma, por desconhecer, fui googlar. Vi todas as obras que quatro críticos de arte do The Guardian elegeram como as melhores do século XXI. E, juro, não estou a fazer género: fiquei como boi para palácio. Nem consegui escolher um exemplo para aqui colocar.
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Calhou, quando estava a ver as obras seleccionadas pelo The Guardian, estar a dar na RTP 2 uma entrevista a Graça Morais sobre a sua exposição Metamorfoses da Humanidade à qual pertencem as obras aqui imediatamente acima e abaixo. E, como sempre que a ouço ou que vejo as suas obras, sinto a grandiosidade desta mulher. É simples no falar, é terra a terra, mas, na forma humanista como olha os outros, é uma pessoa superior. E as suas pinturas e desenhos são genuínos, é arte de verdade, há autenticidade e vivência, há elevação e intemporalidade. Arte: não experimentalismo ou paródia.
Mas, lá está, certamente ignorância minha, reaccionarismo meu. Se calhar, daqui por uns anos olho para as obras seleccionadas pelo The Guardian, obras que hoje olho com estupefacção, e acho uma maravilha. Quem sabe?
Duvido. Mas não digo que não.Mas, por enquanto, prefiro, neste post, complementá-lo com obras da Graça Morais.
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Woolf Works – Orlando pas de deux
(Natalia Osipova, Edward Watson; The Royal Ballet)
- que pertence ao conjunto de bailados seleccionados pelo The Guardian em
The best dance of the 21st century
Deste bailado, inspirado na vida e na obra de Virginia Woolf, em 7º lugar na lista do The Guardian, eu gosto
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E uma boa semana a todos a começar já por esta segunda-feira.
Saúde, alegria e verdadeiro afecto.
A (des) propósito de "obras de arte" e da declarada confiança de UJM no jornalismo de referência em matéria de "AC's".
ResponderEliminarhttps://www.dn.pt/edicao-do-dia/21-set-2019/interior/alteracoes-climaticas-quando-um-enorme-areal-fica-reduzido-a-dezenas-de-metros-11322948.html?
Cump.
MRocha
Olá MRocha,
ResponderEliminarObra de arte é a forma surpreendente como uma enorme draga puxa areia do fundo lá mais ao largo e, no areal, jorra um enorme jacto de água e areia enchendo e transformando as praias da Costa da Caparica.
Não sei se alguma coisa daquelas tem a ver com o clima, se é arte que encaixe em surrealismo, impressionismo ou mera performance, se quê. Mas que vale a pena ver, isso vale. E, se não se importa, prefiro assistir a esse espectáculo, em especial ao pôr do sol, do que ler atentamente o artigo que envia.
Uma bela terça-feira para si, MRocha.