sexta-feira, agosto 02, 2019

Ler a mente em dia do caneco e de noite povoada por quimeras




Talvez em todas as eras tenha havido isto de se achar que se está a caminhar para o fim dos tempos, tudo a degradar-se, tudo a entrar num processo de decadência acelerada. Pior: uma desintegração pouco digna. Mas talvez isto aconteça desde sempre. Talvez seja da natureza humana cavar o próprio túmulo. 

Ou, então, sou eu que, como acho de um pacovismo insuportável acharmos que somos melhores ou diferentes do que outros, prefiro pensar que somos iguais desde que nos pusémos de pé e começámos a perceber que pensamos: frágeis, incoerentes, mais irracionais do que os outros animais.

Mas enfim, isto era a introdução. Estou dada a intróitos e nem sei porquê já que, na verdade, estou até em dia pouco dado a frescura.

Estou a tentar pôr para trás das costas tudo o que hoje me caíu em cima. A começar, uma reunião em que algumas coisas ditas de forma ligeira por outros que não eu se prestaram a interpretações ao lado, conduzindo a conclusões erradas e perigosas. Depois, um conjunto de situações que me parecem pouco transparentes para o meu gosto e às quais não quero estar ligada levaram-me a desafiar quem prefere estar instalado, e a expor factos que toda a gente acha que deviam permanecer no limbo opaco onde é suposto habitarem. Acontece que eu, quando desencabresto, sou difícil de agarrar. Agora mesmo disparei dois mails que presumo que, a esta hora, estejam espetados na garganta de quem os recebeu.
Como sempre, não sei quais as consequências disto e podem ser radicais para mim mas, se nunca pactuei com coisas que não me agradam, agora, então, não me limito a afastar-me ou a dizer discretamente porque me afasto. Agora é à bruta, às claras e a bola chutada para o lado de lá e outro que não eu que se atravesse e assuma a responsabilidade por dar cobertura a situações que comigo não, violão.
E, portanto, foi neste desencabrestado estado de espírito que fui à procura de notícias boas que me trouxessem bons auspícios, boa energia, boa onda, coisa cheia de smiles e emojis saltitões. 

Mas está bem, está. Só notícias do caraças, sendo que aqui o caraças é mesmo sinónimo de caneco, de cacete (e, aqui, refiro-me ao cacete mal conotado) -- ou seja, porcaria e da grossa.

Tenho ideia que o nosso estado de espírito atrai. Se estamos numa boa, só nos chega coisa boa, radiosa. Se estamos com as candeias às avessas, só damos com meia rota, jararaca, lâmpada fundida, cocó de cão debaixo do sapato, peixe de olho baço e arremelgado, côdea dura e bolorenta. Coisas assim.

Para atestar, passo a enunciar as trastes de notícias que vieram até mim:

Cientistas cruzaram macaco com pessoa. Chamaram quimera ao ser e, quando viram que tinha vingado, supostamente não o deixaram ver a luz do dia. Supostamente, repito. A coisa deu-se na China onde estas coisas da ética não colhem lá muito. Entretanto, o Japão já deu o ok a que se avance com o mesmo, dizem que é promissor, que vai ser do melhor, que desses híbridos se vão poder sacar órgãos que é um mimo. Se a dita quimera, meio macaco, meio gente, tem ou não raciocínio ou sentimentos isso não interessa para nada. Mas eu, talvez por estar num estado a modos que meio irritadiço, acho que isto é daquelas ideias peregrinas que não pode acabar bem. Parece até pesadelo pronto a virar realidade cabeluda e malvada.

E outra que também é do mesmo calibre é aquela de haver implantes tecnológicos que lêem pensamentos e os traduzem em palavras. Mind reading they say. A Google e o Facebook na competição, anunciando para breve notícia de estalar o mundo. Que pode ser bom para dar voz a quem não a tem, pode, mas que também pode ser diabólico e descontrolado, pode. Diz que é para, num mundo dominado pela inteligência artificial, os humanos poderem alinhar. Diz. Mas pode também ser o caminho aberto para a manipulação absoluta, para a ficção megérica virar realidade, coisa mil vezes pior que filme de terror. Não quero nem pensar. Um precipício negro a desenhar-se à frente dos pés dos estúpidos humanos.

E já nem falo nos robots que falam de uma maneira que parece humana, respondendo a perguntas, na maior das calmas. Ou, como desde hoje em Espanha, drones que nos sobrevoam e multam se nos esticarmos, carregando demais no pedal. Ou câmaras de vigilância que nos filmam e fotografam mesmo em ruas sem luz, reconstruindo a nossa imagem a partir do know how que entretanto adquiriram, machine learning e coiso e tal.

E, portanto, eu que andava à procura de notícia boa -- campo de flores, borboleta multicor a rodopiar em volta, mavioso canto de passarinho, poeminha bom segredado ao ouvido, fotografia de coisa nenhuma, história brava de princesa guerreira, filme de bailarino alado, árvores majestosas cheias de esconderijo dentro, planta do bosque com propriedade mágica e efeito benfazejo -- dei com os burrinhos na água, ou melhor, com a tromba na porta. Dito de outra forma: dei foi com coisa perversa, prenúncio de monstro, nuvem carregada de tempos pesados, caminhos estreitos que vão dar a becos que não auguram nada de bom. Uma chatice, em suma.





E isto aqui abaixo não será novidade. Mas mostro porque não gosto.

Aliás, Alexa, Siri ou Google Home, tanto dá, tudo a dar no mesmo.


 Trouxe aqui pintores mexicanos porque me apeteceu ter cor. Ao menos cor.
Penso que é tudo ou quase tudo de Lourdes Villagómez excepto a do macaco que é do Jose Santos


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E uma happy friday a todos, tá?

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