Há casos em que o criador é quase mais conhecido que a obra.
Frida é um desses casos. A sua vida dava um filme. E deu. Vários. E, antes dos filmes, os livros. Biografias várias. E as suas fotografias. Também tão conhecidas. Sobrancelhas espessas, buço farto, flores no cabelo, roupas bastamente coloridas, grandes brincos, ostensivos colares -- indígena, exótica, diferente. E as dores, os espartilhos, as temporadas na cama, a perna muito doente. E o amor pelo gordo e os e as amantes, a desempoeirada bissexualidade. A última exposição, já tão doente, levada na cama. Mas sempre muito arranjada, galhardamente engalanada.
Frida é um desses casos. A sua vida dava um filme. E deu. Vários. E, antes dos filmes, os livros. Biografias várias. E as suas fotografias. Também tão conhecidas. Sobrancelhas espessas, buço farto, flores no cabelo, roupas bastamente coloridas, grandes brincos, ostensivos colares -- indígena, exótica, diferente. E as dores, os espartilhos, as temporadas na cama, a perna muito doente. E o amor pelo gordo e os e as amantes, a desempoeirada bissexualidade. A última exposição, já tão doente, levada na cama. Mas sempre muito arranjada, galhardamente engalanada.
E, claro, as pinturas tão dolorosamente autobiográficas. O sangue escorrendo, a criança que não nasceu, as dores infames, o amor ingrato, as costas doendo tanto, o coração sangrando. Dores tão imensas em quadrinhos geralmente tão pequeninos.
Tudo muito conhecido. Viveu lá tão longe e morreu há tanto tempo e não há quem não conheça e não se apiede pelo sofrimento e não arregale os olhos pela sexualidade fluida e não sorria com tanto pêlo naquelas sobrancelhas que parecem asas de anjo negro e naquele bigode sorridente nos cantos da boca.
Mais: há posters, sacos, canecas, mil objectos, um fértil merchandising. E abundam as pinturas tipo Frida. E exposições sobre tudo o que se relacione com ela e a coisa já está a virar kitsch? Frida virou quase uma commodity. Dizem-na a percursora das selfies. O mainstream adoptou-a, adaptou-a. Não culpa dela, coitada, que já partiu há sessenta e cinco anos. Além disso, quem compra saias ou adereços para o cabelo a la Frida se calhar nem sabe que, na altura, bem desinserida ela se mostrou. Mas enfim. É daquelas coisas sobre as quais a gente, não sabendo o que dizer, diz que as coisas são o que são e dá o assunto por encerrado.
Mais: há posters, sacos, canecas, mil objectos, um fértil merchandising. E abundam as pinturas tipo Frida. E exposições sobre tudo o que se relacione com ela e a coisa já está a virar kitsch? Frida virou quase uma commodity. Dizem-na a percursora das selfies. O mainstream adoptou-a, adaptou-a. Não culpa dela, coitada, que já partiu há sessenta e cinco anos. Além disso, quem compra saias ou adereços para o cabelo a la Frida se calhar nem sabe que, na altura, bem desinserida ela se mostrou. Mas enfim. É daquelas coisas sobre as quais a gente, não sabendo o que dizer, diz que as coisas são o que são e dá o assunto por encerrado.
Mas a voz, a voz, ninguém conhecia. Como seria a voz de Frida?
Compreende-se a curiosidade. Quando se conhece tudo, a história toda, a obra toda, e apenas se desconhece a voz pode imaginar-se tudo. Rouca? Grave? Forte? Sofrida, um fio de voz? Como é a voz de uma mulher assim, uma mulher em cuja curta vida cabem amores, dores, seduções, rebeldias, coragens, coquetteries, cores, frustrações e sempre dores, dores, e tanto mais?
Até que apareceu uma gravação. E parece que é a voz de Frida.
Explico.
The National Sound Library of Mexico has unearthed what they believe could be the first known voice recording of Frida Kahlo, taken from a pilot episode of 1955 radio show El Bachiller, which aired after her death in 1954. The episode featured a profile of Kahlo's artist husband Diego Rivera. In it, she reads from her essay Portrait of Diego.
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Incrível!
ResponderEliminarOlá Menina Mamã iogurte,
ResponderEliminarThanks and enjoy.
E vou ver o seu blog porque não conhecia.
Abraço!