domingo, maio 12, 2019

Postal ilustrado com um bravo senhor e entrar no mar cintilante, jactos de água a agredirem-me os esplénios e os trapézios
--- e outras insignificantes coisas mais





Ontem, quando estávamos a chegar à praia, ouvimos um casal à nossa frente. Dizia a senhora para o marido: 'Afinal há hotéis à beira da praia...'. O marido ficou calado e, depois, encolhendo um pouco os ombros: 'Pois é, mas agora já não dá'. A senhora olhou o mar disse: 'Mas também aqui o mar é mais batido.'. Ficaram no varandim do passadiço e nós seguimos. Mais à frente, ao mesmo tempo, perguntámos um ao outro: 'Mais batido....?'. O mar estava chão. 

À noite encontrámo-los na 'baixa', na zona dos restaurantes. Fiquei na dúvida se eram eles mas o meu marido disse: 'São aqueles do mar batido'. Ele estava quase igual, embora de calças e camisa, mas ela estava outra, produzida, toda maquilhada, toda ela finèsse.


Aliás, grande parte das mulheres aperalta-se a preceito para jantar. Á passagem deixam um rasto de perfume e todas elas desfilam elegância, salto alto, lábio reluzente de gloss, vestes vaporosas.

Eu não. Mal me cheira a férias e praia, mesmo que as férias sejam os dias do fim de semana, já eu largo tudo o que associo aos dias de trabalho: não há cá saltos altos, maquilhagem, bijuterias. Simples, o mais simples possível.

Tive foi que comprar outro chapéu. Nem me ocorreu que, com estas temperaturas, já não estamos em Maio mas no pino do Verão. Ontem, quando depois de almoço fomos dar um passeio ligeiro à beira-mar, estava uma luz de tal forma desabrida que, mesmo com óculos escuros, mal conseguia abrir os olhos. É de palhinha em cor crua, abas largas. Tem sido essencial. Não gosto de apanhar sol directo no rosto quando é à bruta, só ao entardecer que é suave.


Hoje de manhã o mar estava, de facto, levemente mais picado, Estava um pouco de vento e essa picardia associada ao sol que lhe caía a pique, fazia-o cintilar. Lindo. Não tive coragem de me meter lá dentro. Só um senhor que aparentava idade para poder ser meu bisavô é que se aventurou e aparentemente não lhe custou. Entrou na maior, lá esteve como se estivesse de molho e saíu todo lampeiro, secando-se na maior descontração, como se não tivesse vestígio de frio. A mulher, dez vezes o peso dele, sentada na areia, de perna aberta e sorriso largo no rosto, filmava-o, toda orgulhosa do seu macho alfa.

Já não na praia, pus-me a jeito de ser agredida com jactos de água quente, em especial no pescoço, nuca e ombros e, portanto, sinto-me bem melhor. Aplica-se-me, portanto, aquilo do quanto mais me bates mais gosto de ti (mas a água quente à pressão tem esse exclusivo). Como também não tomei nenhum comprimido ontem, hoje tenho conseguido manter-me acordada.


Agora, por acaso, uma vez que estou a escrever deitada, até me está a dar uma leve soneira mas vou ver se consigo ainda ler qualquer coisa do Expresso. 

Daqui a nada voltamos à praia. E eu, que tenho esta coisa de instantaneamente pôr tudo para trás das costas, estou aqui como se estivesse nas Caraíbas, a milhas de Rui-Rios e seus muchachos fabricantes de fake news, de Cristas & seus descerebradinhos colaboradores, do ex-ubíquo Marcelo e do intrigante buraco negro mediático em que se enfiou, do emplastro Nogueira que ameaça continuar a denegrir a imagem dos professores por mais muitos e bons tempos, e de tudo o mais que assola os ares de quem vive no mundo real (se é que a vida política tem a ver com o mundo real, coisa de que cada vez tenho mais dúvidas).

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E, assim sendo, até mais logo.

[PS: Escuso de dizer que o Ártico ali em cima, pelos dedos de Einaudi, é para ver se ajuda a aliviar esta temperatura tropical]

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