Se me visse frente a frente com um lobo talvez morresse de medo. Talvez nem resistisse. Talvez por delicadeza me deixasse morrer.
Ou talvez não. Não sei.
Talvez o olhasse nos olhos, talvez convencida que também ele assim me quisesse olhar. Talvez quisesse que ele me visse como igual pois era assim que eu queria senti-lo, igual, incompreensível, secreto, perigoso.
Talvez nas noites em que gosto de entrar sozinha eu gostasse de saber que algures, numa outra geografia, também a entrar na noite, um lobo avança sozinho, olhando a imensa escuridão, sem medo, com apetite de susto, com vocação para desafiar abismos, com os olhos abertos procurando sinais inexistentes, apenas intuídos.
Somos assim. Lobos que não se oferecem facilmente, esquivos, silenciosos. Lobos que secretamente se procuram. Se uivam contra a noite é apenas porque a emoção não cabe no peito nem os olhos a conseguem reter; ou porque têm medo. Por vezes a solidão que se adensa no seio da noite fere o coração. Os gritos por vezes são inevitáveis, longos, queixumes que atravessam o espaço, que se despenham contra a distância.
Estou em silêncio. Escuto, espero.
E sei que o lobo que está aí, escondido, à espreita, se ri com palavras como estas, desprovidas de sentido, que encobrem o que não querem dizer, palavras que se perdem de mim, que se perdem na noite. Sabe que a sua respiração chega até mim, um bafo acre que sinto vindo de longe, um bafo que faz arquear o dorso, o peito, que faz fraquejar as pernas. Louco o lobo, louco, descarado, insolente. E eu aqui, desprotegida, esperando que uns passos se arrisquem silenciosamente, descaradamente, até mim. Eu aqui, traiçoeira, contendo o salto, contendo o rasgar que vai acontecer, os dentes ansiosos pela carne, a paixão que rebentará todos os diques. Neve, vales, grutas sem fim, escuridão atravessada pelo silêncio e pelos gritos das aves. As noites são frias, escondem terríveis mistérios, inconfessáveis temores, loucuras sem explicação, segredos, sussurros, efémeras confissões. Andas na neve, percorres as florestas, enfrentas tantos perigos, tantos, tantos.
E eu aqui por ti. Escuta-me. Imagina o calor das minhas mãos, adivinha como é doce a minha baba, macio o meu pelo, tentador o meu olhar. Antecipa o vagar dos meus passos, antecipa o mais que virá depois. Sei que estás aí. E sei que vens na minha direcção sem querer saber dos mil perigos, louco, rouco, arfante, aflito, cheio de medo, petulante, corajoso. Vem.
Lobo, lobo, lobinho.
Vem dançar comigo. Salta, voa. Vem.
E sei que o lobo que está aí, escondido, à espreita, se ri com palavras como estas, desprovidas de sentido, que encobrem o que não querem dizer, palavras que se perdem de mim, que se perdem na noite. Sabe que a sua respiração chega até mim, um bafo acre que sinto vindo de longe, um bafo que faz arquear o dorso, o peito, que faz fraquejar as pernas. Louco o lobo, louco, descarado, insolente. E eu aqui, desprotegida, esperando que uns passos se arrisquem silenciosamente, descaradamente, até mim. Eu aqui, traiçoeira, contendo o salto, contendo o rasgar que vai acontecer, os dentes ansiosos pela carne, a paixão que rebentará todos os diques. Neve, vales, grutas sem fim, escuridão atravessada pelo silêncio e pelos gritos das aves. As noites são frias, escondem terríveis mistérios, inconfessáveis temores, loucuras sem explicação, segredos, sussurros, efémeras confissões. Andas na neve, percorres as florestas, enfrentas tantos perigos, tantos, tantos.
E eu aqui por ti. Escuta-me. Imagina o calor das minhas mãos, adivinha como é doce a minha baba, macio o meu pelo, tentador o meu olhar. Antecipa o vagar dos meus passos, antecipa o mais que virá depois. Sei que estás aí. E sei que vens na minha direcção sem querer saber dos mil perigos, louco, rouco, arfante, aflito, cheio de medo, petulante, corajoso. Vem.
Lobo, lobo, lobinho.
Vem dançar comigo. Salta, voa. Vem.
O lobo sabe
"The wolf knows when it is time to stop looking for what he may have lost and to focus instead on what is yet to come." - Jodi Picoult
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E a todos desejo um bom sábado
Olá UJM, vi no canal 2(acho eu) um documentário sobre a pianista Maria João Pires. Lá, onde mora,vem um lobo visitá.la e ela dá.lhe comida. Achei delicioso.Naquele dia achei bom ter TV. Beijinho
ResponderEliminarVai
ResponderEliminarPor acaso ,também, vi o programa! Tratava-se de uma raposa que.estava a ser domesticada😃
ResponderEliminarOlá Lucília e Maria Julieta,
ResponderEliminarÉ isso, um raposinho, o Foxy, uma visão linda. Adorava que uma raposinha assim também aparecesse lá no meu terreno, adorava. Acho que há lá por perto.
E foi um programa maravilhoso: a casa dela, ela à mesa com os amigos, ela a fazer o pão, ela a tocar piano. Tudo único.
Obrigada a ambos. Um abraço.