Quando esta sexta-feira fomos, então, ver das roçadoras e quando o diligente funcionário explicava o seu funcionamento -- puxa o cordão, quando sentir que prende é que lhe dá a guinada, e descansa depois de usar não sei quanto tempo e etc. -- pensei que duvidava muito que o meu marido soubesse de todos esses cuidados. Por isso, mal o senhor se afastou, perguntei: não será que a nossa não está estragada e que tu é que não sabias estes preceitos todos? Ele olhou com ar de quem não sabia se devia ficar ofendido comigo se, ele próprio, estava nessa mesma na dúvida e disse: vamos embora.
E assim foi. Quando chegámos, depois de termos ido a casa dos meus pais, eu fui passear e ele foi-se a ela. E, claro, ela funcionou. Quando me aproximei, ele só disse: sem comentários. E eu apenas disse: aquela pergunta que fiz foi a chamada pergunta de cento e cinquenta euros. E ele riu-se.
Já cortou algumas coisas e já está mais do que avisado para amanhã se focar no tojo e nas silvas e poupar os orégãos. Mas temo. Os orégãos estão pequeninos e ele, com os óculos de protecção que me parece que turvam a visão e com a falta de cuidado que o caracteriza, não vai prestar atenção.
E eu, como disse, andei a passear e a fotografar e a fazer vídeos. O primeiro ficou com dezassete minutos e o YouTube diz que, para o carregar, tenho que provar que sou eu e, para tal, tenho que lhe dar mais informações do que me apetece dar-lhe e, por isso, mais um vídeo que vai para o lixo. O terceiro, feito aqui à porta da sala, para mostrar um céu cor-de-rosa que se formou durante uns instantes, ficou bem, acho eu. Só que a meio, o meu marido, ao ver-me em cima de uma pedra, a olhar para o céu e a falar sozinha, chamou por mim, pelo meu nome, a perguntar-me o que se passava. E eu, querendo que não se ouvisse isso, desviei a máquina e fiz sinal para que se calasse e, agora, ao ouvir, parece que soluço. Fica estranho, não gosto. Portanto, o céu cor-de-rosa, tão lindo, também não vai para o ar. Fico-me pelas três fotografias que fiz antes de filmar e que aqui partilho.
A robínia está florida, dá estes belos cachos de flores brancas. E o céu cor-de-rosa visto através das flores brancas pareceu-me de uma beleza assombrosa.
Portanto, de toda a minha produção cinematográfica, salvo apenas o vídeo lá mais abaixo do abrigozinho verde de que tanto gosto.
E, tirando isso, nada. Tudo tranquilo. O meu pai na forma do costume, como a minha mãe diz, ela sempre bem disposta apesar dos pesares, e uns a sul com amigos, outros em campeonatos de futebol.
A Páscoa para nós não tem grande significado. No nosso pensamento racional não encaixa o significado místico que se atribui à ressurreição. Se é para ser metáfora de que manteremos sempre viva a presença dos que amamos mesmo quando partem então, sim, é bonito e verdadeiro e nisso acreditamos -- mas é coisa de todos os dias, não de um dia único que, segundo os rituais do catolicismo é precedido de encenações e restrições e celebrações de milagres.
Num àparte direi que a religião católica tanta roupagem coloca sobre os acontecimentos históricos que acaba por esbater a sua importância e por desvirtuar a singeleza das ilações que deles se poderiam retirar. Lembro-me sempre que o divórcio que em mim se operou relativamente à igreja católica teve lugar num dia em que as catequistas, por alturas da Páscoa, levaram à escola um vídeo sobre a traição, sobre o calvário, sobre a crucificação, sobre a ressurreição. E tudo era muito realista, muito assustador. E lembro-me de ter pensado que aquilo não era coisa que se mostrasse a crianças. Teria eu uns nove anos. E a religião sempre me foi apresentada como uma expiação para pecados que eu não sabia que tinha cometido, como um desfiar permanente de culpas, de interditos -- tudo coisas a que sou naturalmente avessa. Nunca me foi apresentada como um espaço de recolhimento interior, como a possibilidade de superação das nossas limitações através de um querer ilimitado que nasce dentro de nós. Nunca me foi apresentada como uma transcendência como a que se pode verificar no milagre permanente que testemunhamos na observação atenta da natureza.
Mas, enfim, chega de conversa.
Eis o pequeno vídeo deste meu pequeno recanto verde aqui in heaven. A Sophia e o O'Neill frente a frente e eu no meio falando no anjo fantástico que habita as casas em que vivo e dizendo palavras que nos beijam como se tivessem boca. E ouvem-se os passarinhos que é das coisas boas e alegres desta vida por vezes tão cheia de agruras e sustos e tristezas.
[A minha voz é o que é, involuntariamente sempre a meio caminho de se desvanecer num sussurro. Começo a convencer-me que nada há a fazer.]
Eis o pequeno vídeo deste meu pequeno recanto verde aqui in heaven. A Sophia e o O'Neill frente a frente e eu no meio falando no anjo fantástico que habita as casas em que vivo e dizendo palavras que nos beijam como se tivessem boca. E ouvem-se os passarinhos que é das coisas boas e alegres desta vida por vezes tão cheia de agruras e sustos e tristezas.
[A minha voz é o que é, involuntariamente sempre a meio caminho de se desvanecer num sussurro. Começo a convencer-me que nada há a fazer.]
A senhora em repouso in heaven e a poesia em verde com anjos e palavras que beijam
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[Tentarei, durante este sábado, responder aos comentários de ontem. Hoje não consigo]
A todos desejo dias felizes
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Mais uma vez não poderia estar mais de acordo consigo quanto às celebrações da morte de Cristo.
ResponderEliminarEm pequena era considerado uma falta de respeito nao querer assistir às cerimonias.
Visitar as igrejas naquele luto que se repetia todos os anos como que um castigo para com Quem "nasceu e morreu para nos salvar" considerava de uma injustiça atroz. É infligir mais dor àquele que sendo bom foi pregado numa cruz. Não compreendo as pessoas que celebram esta época com auto flagelação até escorrerem sangue(mas o defeito deve ser meu, da minha falta de cultura religiosa).
Para mim Deus é bom não merece, não castiga. Nós não lembramos a morte de familiares e amigos com a repetição e vivência da sua doença ou acidente.
Esta época é de celebração da vida e da primavera. Detesto o lado comercial da venda de ovos envoltos numa tonelada de papel e uma insignificante brincadeira lá dentro.
Desejo lhe então uma boa Pascoa.
Gostei muito das fotos e do vídeo. Esse é um recanto muito bonito. Poder viver num local assim tranquilo, cheio de paz e beleza é uma benção (mesmo que seja só nos fins-de-semana).
ResponderEliminarNunca tinha ouvido falar em "robinias".
Concordo com as suas ideias sobre a religião. Fui criada na religião católica, castradora, mas aprendi a ver a religião de outra forma. Acredito em Deus, seja Ele como for, Algo superior, mas o Deus em que acredito não é castrador, é bom, é positivo. Não cumpro os rituais todos da igreja, mas também não tenho nenhum problema em cumpri-los quando é necessário. Não ligo muito à Páscoa, mas costumamos almoçar em família (os que estão na cidade).
Beijinhos e uma boa Páscoa:))
Muito assertiva, muito inteligente, a melhor de todos, a que tinha boas notas sem estudar, a perfeitinha, mas a voz é uma bela porcaria,sim senhora. E agora hão-de os comentadores fidelíssimos babarem-se todos a defendê-la. Isto um gozo pegado.
ResponderEliminarNão é que os comentadores fidelíssimos se babem a defender ninguém, porque não é o meu estilo, mas não compreendo as pessoas que (neste caso) não gostam do blogue, nem da pessoa que o faz e continuam a vir vê-lo. Ou é masoquismo ou maldade pura, essa vontade de dizer mal. Faça um favor a si próprio(a) e procure coisas que o(a) façam feliz e não coisas que o(a) deprimam.
ResponderEliminarNão é melhor?
E escusa de me ofender...
Tenha um bom dia e seja feliz!
Que lindas fotos e vídeo, com direito UJMSR 😉
ResponderEliminarEsse céu maravilhoso.
A Fé e a religiosidade foram-me transmitidas de uma forma muito aberta, muito voltada para o questionamento e esclarecimento, para um realidade que me coloca em busca permanente e sobretudo que me ligue de forma mais profunda aos outros.
A minha mãe esteve alguns anos afastada da prática religiosa, eu vivi todo o processo de reaproximação e foi muito belo. Claro que haviam muito boas bases, pois estudou numa escola católica (era o que havia de pós-Primário em Alenquer até aos 70) onde se aprendiam baladas do Zeca em Canto Coral, com um ambiente muito voltado para a consciência social e para a abertura ao conhecimento e ao mundo.
Uma rica Páscoa para a minha santa secular UJM.
Olá Pôr do Sol
ResponderEliminarUma vez uma pessoa muito católica disse-me que a Páscoa é o momento do ano mais importante para um crente porque corresponde à Ressurreição de Cristo. E eu fiquei muito admirada porque pensava que era o Natal. E eu perguntei se ele acreditava que Cristo tinha ressuscitado mesmo. E ele disse que sim. E eu fiquei ainda mais admirada. Insisti: 'Mas em sentido figurado?' e ele insistiu que acreditava mesmo e que isso é que distingue um crente de um não crente.
E tudo isso me parece tão abstracto e tão distante da bondade e da genorisade e tolerância e simplicidade que para mim é o mais importante em tudo que não consegui dizer mais nada.
Acho que não são precisas grandes liturgias, grandes ajuntamentos, grandes festividades: basta que as pessoas sintam os outros como iguais, os respeitem, queiram o bem dos outros.
Por isso, estou consigo. Vivamos em paz e vivaos felizes.
Um beijinho e um bom domingo de Páscoa, Sol Nascente.
Olá Isabel,
ResponderEliminarPara mim o importante é respeitar o que nos rodeia: o planeta, os outros. Penso muitas vezes que gostava de deixar 'as coisas' melhores quando eu partir. Que este meu bocadinho de terra seja mais verde, seja a casa de mais pássaros, que a empresa onde trabalho seja mais aberta, mais inovadora, mais humanizada, que as pessoas que um dia me conheceram lembrem todas as vezes em que me bati pelo direito à diferença, pelo respeito pelos outros.
Do que a Isabel diz, penso que -- mais do que essas coisas de 'não pecar' e mais não sei o quê -- o seu ensamento seja também um pensamento virado para a felicidade e para a legria das coisas genuínas e simples. Por isso, me identifico tanto consigo.
E isto de haver gente maldosa não se aborreça, Isabel: sempre haverá gente que gosta de fazer mal. É uma pena mas é assim. Eu tento não me deixar afectar: aceitar críticas construtivas é uma coisa e eu agradeço; críticas destrutivas não valem nada, são apenas maldade, não interessam.
Um beijinho, Isabel, e obrigada pela simpatia sempre tão presente. E uma boa Páscoa.
À pessoa que agora não gosta da minha voz,
ResponderEliminarTenho uma dúvida: se não gosta de dançar aqui, porque não sai da pista?
Faz-lhe impressão que eu seja sincera e que tenha esta minha maneira de ser? Está no seu direito e lá terá as suas razões. Mas então porque não desampara a loja?
E sabe que mais: eu até acho que sei porque que é. E sabe porquê? Porque sei quem é, e sabendo, conheçoo as suas motivações e frustrações. Mas tenha calma, isso há-de passar-lhe.
Um bom domingo, vivido em paz.
Olá Francisco, Senhor de Arimateia,
ResponderEliminarEspero que tenha estado bonito pois do que vi na net, José de Arimateia apresentava-se garbosamente. Usou turbante, ricas vestes?
(Ou seja, confesso: não conhecia a figra história/religiosa, tive que ir ver. Figura interessante, essa que escolheu para representar)
Quanto à religião: eu, no fundo, até tenho um sentimento de religiosidade. O que é é uma religião muito abrangente, muito simples, feita de agradecimento e veneração pelos milagres de todos os dias, feita de respeito e afecto pelos outros, feita de tolerância pelas diferenças.
Gostei muito de ler o que escreveu sobre a sua mãe, sobre as bases de tolerância que a levaram a reaproximar-se da religião.
Uma boa Páscoa para si e para a sua Mãe, Francisco. E muito obrigada pela sua simpatia.
Olá UJM,
ResponderEliminarVesti, sim!
A religiosidade têm mesmo de ser abrangente, seja ela sacralizada ou não, caso contrário não passa de um exercício de algo que tem uma função totalmente egoísta e que se traduz numa total hipocrisia de vida.
Muito obrigado e uma rica Páscoa também!!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarMinha cara UJM,
ResponderEliminarvc tente não se irritar com os comentários anónimos a deitar abaixo a sua voz. Ou outra coisa. Pense nas caixas de comentários onde os anónimos apedrejam este ou aquele, ou isto ou aquilo, como serviço público.
No meu tempo, fazer figura de parvo dava um trabalhão. Mas acima de tudo era arriscado; um gajo para fazer figura de parvo tinha mandar-se curvas de Lamego abaixo numa Citroën Dyane com maus travões a cortar curvas por dentro, andar a pegar vacas nas picarias, partir espelhos de carros estacionados a pontapé, ou passar toda a santa tarde pra cá e pra lá à frente da casa da rapariga almejada com uma motorizada barulhenta a deitar fumo de trezentos diabos, rotações no máximo (pistons e segmentos que durassem um mês eram um milagre). O que mais cedo ou mais tarde corria mal. Em ossos partidos e escoriações, visitas às urgências dos hospitais...
Aqui nas caixas dos comentários é mais fácil, dá menos trabalho, não põe a vida (própria ou alheia) em risco. Não deixa pegada ecológica (os litros de gasolina e gasóleo que eu gastei...). Mas acima de tudo não sobrecarrega o Serviço Nacional de Saúde. Ao acarinharmos as ofensas dos anónimos em caixa de comentários estamos a prestar um enorme serviço ao país e à natureza; acima de tudo, nestes tempos de escassez, à fazenda pública.
E uma boa páscoa para si.
Olá Maria,
ResponderEliminarTem razão: a voz da Cristina Ferreira jamais (ler à francesa). Da voz da Carla Bruni gosto. Não sei é se sou capaz de cantar como ela. Cantar não é bem a minha praia.
Quanto aos poemas, ali, in heaven é um lugar onde a poesia pousa ao de leve e eu gosto de caminhar e ir lendo e dizendo os poemas.
Uma boa semana, de nov
Olá Soliplass,
ResponderEliminarIa a andar por entre as árvores e a ler o seu comentário e a rir de gosto. Tem razão.
A mim não é que me mace especialmente o que dizem mas faz-me confusão que haja gente que embirre com quem escreve um blog e, em vez de lhe virar costas, continue a vir e a despejar fel. Parece masoquismo.
Mas sobre isto da voz reconheço que não dá para fazer locução de documentários, para cantar ópera ou para gritar num comício. Mas também não faz mal, que não faço a vida com nada disso.
Estou a escrever e a ver os meus braços e mãos, tudo arranhado. E as pernas estão na mesma. E amanhã vou ser madama de escritório onde nada disto existe. E lembro-me dos seus braços também arranhados e do orgulho com que os mostrou. E eu, quando alguém olha de lado para as minhas mãos e me pergunta o que me aconteceu também sinto orgulho quando digo: andei a cortar mato e a desbastar árvores. É como se nessas palavras transportasse um bocadinho daquele meu adorado bocado de terra.
E muito obrigada pela sua simpatia. Gostei de ter recebido o seu divertido comentário.
Dias felizes para si, Soliplass!