segunda-feira, abril 15, 2019

Aquilo da 6ª geração de Marcelo Rebelo de Sousa será mais uma fake new ou algum amigo, afim, equiparado ou colateral do senhor tem participação em alguma empresa relacionada com ADN?


Presumo que aquilo do Marcelo ter pontos em comum com o seu antecessor -- essa ilustre figura da história portuguesa, o marido da Dona Maria Cavaco -- passe por  aquilo de alguém ter que nascer mil vezes para ser mais honesto que ele. Por isso, nada do que adiante se dirá nem o título do post permitirá concluir que ponho em causa a honestidade e a transparência do nosso ubíquo e hiperactivo Presidente. Não.

Já disse o que tinha a dizer sobre esta conversa dos familiares e digo mais: toda esta areia é coisa com a cara do Rangel. Poeira, baderna, injúria, fofoca, intriga, permanente cacarejo -- é com ele. Conhecemos Rangel há tempo de mais para podermos ainda alimentar alguma esperança de que um dia seja mais do que isto. Não será. Rangel é daquelas figuras irrelevantes e cómicas que atravessam a política. Rangel não é para ser levado a sério. 

E Marcelo, com esta sua borbulhante maneira de ser, sempre a querer protagonismo, sempre a querer cavalgar qualquer onda, em vez de se portar como um Presidente a sério, moderado, ponderado e lúcido, em vez de desdramatrizar, em vez de introduzir racionalidade na conversa, não senhor: acelera o passo e resolve tomar a dianteira da demanda populista. Mas, como sempre que é tomado pela suprema ânsia de ser omnipresente, omnisciente e omnipotente, tende a dar passos em falso. Foi o que, uma vez mais, aconteceu. Resolveu armar-se em legislador e, para dar o exemplo, não as mediu:

Não pode o Presidente da República nomear como pessoal referido no número 1 do presente artigo, ou seja, para a Casa Civil, Casa Militar, o Gabinete, o Serviço de Segurança, o Centro de Comunicações e o Serviço de Apoio Médico, o seu conjuge ou equiparado, algum parente ou afim em linha reta até ao 6º grau em linha colateral, adotados ou qualquer outra pessoa sua representada, por si ou por seu conjuge, na situação de adulto acompanhado, ou com quem viva em economia comum
Ou seja, ninguém escapa: só se for cão ou gato. Ou galinha. 

Eu não duvido que o Prof. Marcelo, a quem nenhum pormenor escapa, saiba quem são os seus parentes ou afins em linha recta até ao 6º grau em linha colateral. Pois já eu tenho que pensar um bocado para saber quem são os meus em 2º grau. Ao 3º já lhes perdi o rasto. Ao 6º já teria que recuar até ao tempo dos meus primos etruscos.

E se isto, ainda por cima, inclui afins, equiparados, adoptados, pessoas representadas, amancebados, e isto em linha recta, oblíqua ou colateral, então esqueçam.

E daí eu concluir que, de cada vez que alguém quiser convidar alguém para algum cargo seja onde for, terá que mandar investigar se há algum ponto de semelhança entre as cadeias de DNA e nomear uma equipa de historiadores e espiões que verifiquem ligações clandestinas no século actual, passado ou ainda mais recuado. Já ouvi falar em árvores genealógicas mas isso não serve pois isso não abrange toda a panóplia de afinidades que será sinónimo de cartão vermelho. 

Um nonsense. Um perfeito nonsense.

O mundo está a cer cilindrado por populismos com a ajuda de gente descerebrada que a única coisa que sabe fazer é parir fake news e eu fico assustada quando verifico que isto não acontece só aos outros, aos poucos vai acontecendo também por cá. 

E custa-me um bocado que uma pessoa inteligente e responsável como Marcelo Rebelo de Sousa em vez de se portar como um esteio de um edifício frágil (como é a democracia) se ponha a cavar um fosso no qual inevitavelmente cairão tantos bons democratas, tanta gente válida e honesta.

Brinco quando pergunto se ele terá participação em laboratórios que fazem a sequenciação de DNA mas não brinco quando digo que me decepciona e preocupa quando lhe vejo atitudes bizarras e inconsequentes como estas.

Receio que nas próximas presidenciais não se perfile grande alternativa mas, se Marcelo continuar nesta sua deriva (que o leva a andar de velório em velório, de acidente em acidente, de inauguração em inauguração, de comentário em comentário e até, segundo li, até a fazer selfies no velório da Dina), terei que pensar bem antes de tomar a minha decisão de voto.


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James Turrell, nos antípodas de Marcelo

Juntei imagens de alguns trabalhos de James Turrell para que o post tenha algum apontamento de beleza. Claro que, sendo tudo tão relativo, haverá quem não veja qualquer beleza nisto. Mas nunca ninguém conseguirá ser sempre consensual e, de resto, quem nivela tudo por baixo para que tudo o que diz ou faz apareça como consensual são os populistas, raça que abomino. Eu arrisco expor os meus gostos e, portanto, arrisco não agradar a todos.

Haverá quem fique na história pela emoção cujos trabalhos sabem transmitir, pela beleza que sabe procurar e fixar para todo o sempre. E há os que gostariam disso mas que se perdem no frenesim com que tentam agradar, deitando tudo a perder. James Turrell, com as suas construções que entrelaçam luz e espaço e que impressionam pela sua aparente simplicidade, faz parte do primeiro grupo (em meu entender, claro)



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8 comentários:

  1. Não é assim tão difícil saber que são os colaterais de 6º grau. É o bisneto do sobrinho. Ou o bisneto do tio (também conhecido por neto do primo). Não é o primo do primo. Muito menos o primo do primo do primo. É gente que provavelmente nem existirá, que a gente ainda não vive tanto, mas pronto, culpa do Código Civil que está antiquado nesta matéria e estabelece as relações de parentesco até ao 6º grau da linha colateral, quando hoje em dia deveria reportar-se para aí até ao 4º grau.
    Abraço
    JV

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  2. A Leitora JV tirou-me as palavras da boca. Seja como for, também não se exagere, pois duvido que não saiba quem são os seus parentes em 2º grau, que Diabo! A não ser que os não tenha, ou porque nunca existiram, ou morreram. Mesmo os de 3º grau também não é difícil de saber, vamos lá!
    Quanto ao Marcelo, espanta-me que ainda tenha dúvidas sobre se irá votar nele. Eu nunca votei, nem tal me passaria na cabeça!
    Quanto ao que está em causa, acho bem, por uma questão de princípio, que os governantes não vão buscar familiares para os coadjuvar. O Estado não é uma empresa privada. Aí, compreendo. Sendo minha a empresa e se um filho for competente para a dirigir é a ele que deixo a incumbência de seguir o que já fiz (como fez Américo Amorim e outros como ele – e muito bem). Já no Estado, há sempre aquela tentação de dar um tacho a um amigo, familiar, etc. Os políticos, que, ou vêem da Política, ou do sector privado, têm a tendência para achar que a o Estado é uma espécie de Quinta deles. Mas, não é. É dos contribuintes. A verdade é que lá usam as funções no Estado para depois, ao saírem, virem ocupar lugares de destaque no sector privado, nas suas administrações, etc. Nunca começam por baixo! Gostava de os ver, por exemplo, ao balcão de um supermercado, «so to say». Uns cabotinos do pior! Daí que, exagerando o que o desgastado Marcelo propõe, eu até ia mais longe: parentes, familiares, só a partir do 10º grau! Um raio que os parta, aos políticos! Não basta as mordomias, as subvenções, a possibilidade de acumularem funções privadas, com as de Deputado, o saírem dos cargos governamentais para as tais administrações privadas, etc.
    Prefiro uma hiena como Pet, do que almoçar com um político!
    P.Rufino

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  3. Olá JV,

    Ah, se a 6ª geração que não pode ser contratada é o bisneto do sobrinho, estamos a falar de alguém que tem um sobrinho com bisnetos. Interrogo-me: e tal tio ainda estará a trabalhar ou também conta se já for defunto?

    É o que eu digo: este Marcelo duplamente exorbitou...

    Abraço, JV!

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  4. P. Rufino,

    Se parentes em 2º grau são, por exemplo, os filhos dos primos direitos dos meus pais lhe asseguro que não sonho quem sejam. Ambos têm primos que sumiram em França, Austrália, Venezuela. De alguns soube-se que tiveram filhos. De outros ninguém tem ideia. Mesmo dos que ficaram por cá, se perdeu o vínculo.

    E se eu fosse ministra e se o 1º ministro resolvesse contratar uma dessas criaturas de quem se viesse a saber ser filho de um primo de um dos meus progenitores, que mal teria isso? Ou se eu fosse ministra e um secretário de estado de um qualquer ministério contratasse a mulher de um sobrinho meu para qualquer coisa? Que é que eu tinha a ver com isso e, pior, que é que o primeiro-ministro tinha a ver com isso?

    E digo de novo: se a mim alguém me convidasse para uma qualquer cena dessas (e será que nunca convidaram...?) eu diria é que fossem dar banho ao cão que ninguém merece tamanho castigo.

    Não percebo sequer que se pense que é grande coisa: já contei e volto a afirmar. Quem eu conheço que foi ministro, secretário de estado ou assessor foi para lá perdendo dinheiro (pois cá fora ganhava muito mais), perdendo qualidade de vida, perdendo paz e descanso.

    Pode haver um ou outro oportunista (e no tempo do Cavaco pululavam e conheci alguns) mas estou em crer que não é a regra.

    E não misturemos isso com ser deputado. Os deputados são eleitos, não são nomeados.

    E porque haveria de ver um ministro a ser caixa num supermercado? Gostaria de se ver a si próprio lá? Não, claro. Tem experiência e conhecimentos demais para isso, não lhe parece?

    Conversas generalistas como a sua, P. Rufino, são boas para alimentar o populismo pois põem tudo no mesmo saco, alinham tudo por baixo. Pior, abrem a porta à demagogia. Não me agradam. Acho-as perigosas.

    Uma boa noite, P. Rufino.

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  5. Paulo Batistaabril 16, 2019

    Olá,

    Pessoalmente acho que esta questão é de princípio. Não é propriamente um problema legal. Este episódio só veio revelar, mais uma vez, a faceta populista de Marcelo Rebelo de Sousa, pelo que não nos deve surpreender.
    Mas o que me desilude mais é a aparente e recorrente incapacidade das cúpulas do Partido Socialista para não abdicar de um conjunto de questões de princípio - para mais, tão importantes para quem se diz de esquerda! (a "terceira via" foi o exemplo mais gritante, que varreu os partidos do centro - esquerda europeu por 20 anos, com resultados lamentáveis...).

    Mas vim aqui para contrariar - com o maior respeito e amizade - o P. Rufino: eu discordo da ideia de que a questão só se coloca no "estado". Não. Independentemente de sermos adeptos de um sistema mais ou menos liberal, os valores humanistas obrigam-nos a uma responsabilidade social e coletiva, apelando ao controlo de certos impulsos biológicos. Uma empresa tem uma dimensão social e coletiva que, mesmo num sistema socioeconómico liberal dever-nos-ia impelir a colocar a empresa ao serviço da sociedade, sobrepondo-se ao laço biológico.
    Para além das questões éticas (nas quais não sou versado), a minha intuição e a minha experiência pessoal sugerem que a arte de bem governar (uma comunidade, um estado, mas também uma empresa), exige uma preocupação constante com a diversidade dos decisores. Só agregando pessoas com diferentes sensibilidades, diferentes experiências, diferentes "culturas" nas estruturas de comando e controlo se conseguem produzir soluções governativas e de gestão duráveis, eficazes e integradoras de diferentes sensibilidades. No fundo, a ideia de "equilíbrios de poder" na construção dos sistemas políticos democráticos a isso aspiram, não?!
    Para terminar, parece-me que um dos maiores problemas do nosso tecido económico é, exatamente, a cultura de um "capitalismo" de laços de sangue. Que percorre as famílias portuguesas, dos mais "bem sucedidos" empresários portugueses até ao Sr da Peixaria aqui debaixo do prédio. Aliás, nestes últimos casos, ao abrigo das santas alianças familiares, cometem-se muitos crimes graves, que não só destroem os indivíduos que deles são vítimas (trabalhadores assalariados), como, sobretudo, corroem certos princípios éticos basilares para uma vida coletiva saudável.


    PS: Todos os partidos têm "rabos de palha" nesta questão. Não coloco em causa a competência de muitos daqueles que estão a ser usados como bodes expiatórios (de todos, apenas o Carlos César não me inspira lá muita confiança... mas é uma desconfiança irracional, pois desconheço factos muito concretos, sem ser aquelas insinuações que têm surgido recorrentemente na comunicação social...além do mais não pertence à equipa governativa... menos mau...).
    Reconheço as dificuldades de encontrar gente competente, disponível para funções governativas, mas raios... isto também é uma prova de incompetência política: 1. um contacto mais próximo com as "bases" e as "camadas populares" e era de prever que isto ia acontecer... 2. apesar de se "gabar" de ter dos melhores quadros (e até acho que sim, que têm bons "quadros"!) o recurso a estes laços familiares deveria ser evitado precisamente porque conflitua com princípios ainda mais importantes! 3. como refiro acima, acho positivo para a governação a diversidade dos agentes políticos envolvidos e este governo peca, por vezes, por uma falta de diversidade de percursos sócio-culturais dos seus atores (mais gente com vida pessoal e profissional estruturada fora da Região de Lisboa por exemplo).


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  6. UJM,
    O exemplo do caixa do supermercado foi figurativo, ou seja, para exemplificar que quem vai e está na Política sabe bem que está a fazer um investimento para o seu futuro profissional. Para o que se seguirá depois do exercício do cargo. Quando há tempos toquei nesta questão, invocando o exemplo de outros países europeus, do R.U aos nórdicos, ALE, etc, esse aspecto, aparentemente, foi-lhe indiferente. É que vejo-a muito, digamos, compreensiva, relativamente ao comportamento dos nossos políticos, quer governantes, quer deputados, aos privilégios que têm, ás sua vidas pós-governantes (embora não sejam todos, haverá que se lhes fazer justiça). Ora eu sou muito "britânico", digamos, nestas coisas e exigo o máximo no que ao comportamento e atitudes dos governantes e deputados, quer perante os eleitores, quer perante os contribuintes, respeita. E o que vejo é que os governos descuram e muito este país, gastam milhões em quem não merece, como Bancos, Escolas privadas, Universidades Católicas, EDP, PPPs, a lista é longa, descurando, por exemplo, a Saúde (aqui para já não falar nos tempos de espera que um desgraçado, sem grande poder económico, passa para ser operado, sobretudo na Província, conheço casos chocantes), as Escolas e Universidades Públicas, os apoios sociais, o Interior do país, o apoio às empresas privadas (sobretudo de menor dimensão), com uma política fiscal diferente e mesmo de acesso ao crédito (poderia citar vários exemplos que conheço, de quase todos os dias). Ora é isto e muito mais que nos deve indignar, a mim pelo menos indigna-me UJM, e nesse sentido exigir a quem nos governa que proceda de outra forma e que olhe com mais atenção para o País Real! Não é com paninhos mansos e muita compreensão que se lá vai. Desse modo, com essa atitude, aumenta-se o desânimo e com ele vem então sim o tal populismo que refere. Não é com críticas como a que faço - porque não sou condescendente com comportamentos como os que refiro e critico.
    Boa semana para si também!
    P.Rufino

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  7. Olá Paulo,

    Claro que acredito que existem talentos fora da órbita dos partidos ou dos círculos mais próximos da capital ou dos 'conhecidos'. Tantos. A questão é que sem se conhecer bem as capacidades de trabalho, a maneira de ser, etc, vai-se convidar alguém para funções de responsabilidade? Talvez para assessorias mas provavelmente para não mais do que isso.

    Quando não são cargos de responsabilidade e, ainda por cima, pagos com dinheiros públicos, quem convida quer ter a certeza que a pessoa convidade tem boa cabeça, tem bom carácter, é leal, é resiliente, tem boa capacidade de trabalho.

    Mas percebo muito bem o que diz e acho que vozes como a sua devem saber fazer-se ouvir.

    Abraço, Paulo.

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  8. Olá P. Rufino,

    Aquela Maria Luís Albuquerque das Finanças e que saíu de lá e foi para um Fundo que compra créditos de bancos (mantendo-se como deputada!), a dizer as maiores hipocrisias), ou o Sérgio Monteiro também do Governo do Passos Coelho que vendia empresas a quem calhava e que depois ia trabalhar para lugares que nos deixaram de cara à banda... esses casos assim não me agradam. Tudo o que se passou na era do Láparo foi lamentável. Mas toda aquela gente e as suas actuações, vendendo o país ao desbarato, isso incomodava-me. Agora estes que mal têm feito ao país? Que ligações estranhas e escusas ao mundo dos negócios opacos se lhes conhecem? Eu desconheço.

    Nem percebo como é que se junta tudo no mesmo saco. Gente incompetente, anti-patriota e estúpida não pode ser posta ao mesmo nível que gente séria e competente que integra um governo que melhorou a vida dos portugueses de forma sustentável e honesta.

    Uma boa quarta-feira, P. Rufino.

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