Sou completamente avessa a conversas miserabilistas em que se invectiva quem ganha razoavelmente ou condena quem faz uso do que ganha para ir a um bom restaurante, comprar meia dúzia de livros ou passar férias num bom hotel. Sou avessa porque racionalmente isso não faz sentido até porque, se não houver quem tenha poder de compra, a economia soçobra pois a classe média é o verdadeiro motor da economia. Um país em que a classe média é débil descamba em desemprego e em miséria. Percebo que quem ganhe mal olhe para quem ganhe bem com algum despeito mas é uma reacção que tem mais de emocional do que de racional.
Dito isto, tenho que dizer que penso que deveria haver limites para as disparidades. Não sei se deve haver limites legais mas, seguramente, limites éticos devem existir.
E, caso a ética não seja intrínseca aos bafejados, então a condenação social pode dar uma ajuda.
Concretizo.
Concretizo.
Acho escandaloso -- e, sendo escandaloso, acho que deveria ser inaceitável -- que elementos das administrações ganhem cem (ou duzentas ou trezentas!) vezes mais o salário mínimo (ou médio) praticado na empresa que administram. Acho escandaloso que elementos das administrações de empresas ganhem chorudos bónus (de centenas de milhares de euros) quando a grande maioria dos funcionários da empresa que, no seu conjunto contribuíram para os lucros, ganham esquálidos bónus da ordem das poucas centenas de euros que não dão sequer para pagar o seguro ou a reparação do carro em segunda mão.
Acho inconcebível que se gastem fortunas a pagar principescamente a meia dúzia de pessoas (já para não falar nas fortunas que se gastam a pagar projectos de fachada, alguns supostamente destinados a fomentar a felicidade dos trabalhadores) quando parte dos ditos trabalhadores anda a pedir adiantamentos de subsídios de férias para pagar explicações dos filhos ou de subsídios de natal para pagar o material escolar das crianças ou algum arranjo em casa.
Acho inconcebível que se gastem fortunas a pagar principescamente a meia dúzia de pessoas (já para não falar nas fortunas que se gastam a pagar projectos de fachada, alguns supostamente destinados a fomentar a felicidade dos trabalhadores) quando parte dos ditos trabalhadores anda a pedir adiantamentos de subsídios de férias para pagar explicações dos filhos ou de subsídios de natal para pagar o material escolar das crianças ou algum arranjo em casa.
Refiro-me, sobretudo, às grandes empresas seja qual for o seu ramo de actividade -- bancos, distribuição e retalho, saúde, energia, aeroportos, etc. Estas empresas são os grandes empregadores do país e as práticas que seguem definem os standards que alimentam o benchmarking que quase tende a ser lei.
Quem vê a sua conta bancária aumentar escandalosamente todos os meses e, ao mesmo tempo, consegue alhear-se das dificuldades pelas quais passam os trabalhadores que ganham menos na empresa que administra perdeu forçosamente a noção da realidade.
E às tantas temos as Fundações financiadas por essas empresas a fazerem estudos sobre como regular a vida dos pobrezinhos, de forma a terem sustento quando forem velhinhos. E esquecem-se que, se cortarem nos seus escandalosos rendimentos e aumentarem os ordenados dos trabalhadores ou as contribuições para a Segurança Social, isso, sim, seria uma ajuda para resolver o problema (se é que há problema). E se o egoísmo ou a estupidez tal não lhes permitir, pois que fiquem calados. É que é isso: se é para dizerem, escreverem ou financiarem estudos que são meras alarvidades, melhor seria que ficassem sossegados.
Talvez por isso, bato palmas a esta congressista democrata desejando que a prática se propague -- e peço que vejam o vídeo porque é exemplar:
California Democratic congresswoman Katie Porter spelled out to JP Morgan's CEO, Jamie Dimon, the real-world implications of the low wages his bank pays its junior employees at a senate hearing on Wednesday. After running Dimon through the numbers, Porter found that a single mother on the bank's starting salary for a teller would be $567 in the red at the end of each month. Asked how a woman in that situation could get by, Dimon said, 'I don't know'
Congresswoman grills billionaire CEO over pay disparity at JP Morgan
Um exemplo a seguir, o de Katie Porter.
Exatíssimamente!
ResponderEliminarSeria de boa ajuda que essa fundação e essa empresa retalhista pagassem os seus principais impostos no seu país de origem.
Nunca tive a menor paciência para os conselhos paternalistas do Soares dos Santos, que não mais foi um propagandista ao serviço da direita dos interesses, da direita "menos Estado, melhor Estado e o que sobrar é para nós".
Até o José Gomes Ferreira, o jornalista, cascou no tal estudo...
Um rico dia.
Pela primeira vez desde há muito tempo que não estava tão em consonância com José Gomes Ferreira, no seu comentário, que o Leitor Francisco de Sousa Rodrigues invocou. De facto, aquele estudo trazia água na boca.
ResponderEliminarP.Rufino
Errata: "não mais é" em vez de "não mais foi", pois o senhor não virou presento...
ResponderEliminarUJM,
ResponderEliminarPermita-me algumas considerações pessoais sobre o debate em torno da “Sustentabilidade do sistema de pensões português”. Não sou especialista na matéria e, correndo os riscos de imprecisão de um leigo, procurarei apenas com as minhas considerações pessoais ancoradas no tal estudo, demonstrar que o grande problema do estudo não é “técnico” mas político.
O “crime” cometido pelos autores e promotores do estudo é exatamente procurarem esconder a relação – incontornável – entre a economia (enquanto ciência) e a política.
Ora, os estudos em ciências sociais (e na economia em particular) adotam necessariamente um conjunto de pressupostos e assumpções as quais, na generalidade, podem facilmente ser associadas a determinadas opções políticas.
Neste estudo em particular as conclusões são facilmente explicáveis desde logo pelos pressupostos explícitos (ou seja, sem analisarmos os implícitos): consideram-se a) a imutabilidade das regras atuais do sistema, b) baseia-se num determinado cenário de projeções demográficas e c) assenta numa análise da evolução da economia no que concerne apenas ao emprego e salários.
O que salta logo à vista neste trabalho é uma análise cuidada dos diferentes efeitos associados à evolução da produtividade e à consequente distribuição da riqueza gerada.
- Para começar, mensurar a produtividade não é tão simples como possa parecer. O estudo adopta a perspetiva salários+contribuições sociais / hora trabalhada. Ora, este indicador é especialmente indicado para avaliar a resistência de uma dada opção política estabelecida face a possíveis efeitos exógenos. Por exemplo, a produtividade mensurada pelo PIB / horas trabalhadas dá-nos, naturalmente, perspetivas diferentes sobre a economia como um todo e é especialmente útil para analisar diferentes opções políticas face a um mesmo cenário.
https://data.oecd.org/lprdty/gdp-per-hour-worked.htm#indicator-chart
Um dos argumentos do estudo para os resultados negativos do atual sistema de protecção social é uma evolução muito comedida do primeiro indicador de produtividade que referi. No entanto, um comportamento negativo deste indicador não tem de representar necessariamente uma baixa geral da produtividade dos trabalhadores (ou seja, não tem de ser propriamente “negativo”). De facto, tal poderá ocorrer por motivos positivos (por exemplo, redução do horário de trabalho mas manutenção dos níveis remuneratórios). Infelizmente, os motivos negativos provavelmente são os mais prováveis: uma tendência de moderação dos salários e contribuições, mantendo-os sistematicamente abaixo da evolução do produto interno bruto (ou seja, uma diminuição do bolo que é produzido atribuído aos trabalhadores…). Assim, um dos primeiros pressupostos questionáveis do estudo é considerar que os cidadãos vão permitir uma perda dos ganhos crescentes associados ao cada vez maior volume e valor da produção (que pode ser obtido por via da crescente automatização e robotização de muitos processos produtivos num período em que transitoriamente os trabalhadores não terão as competências necessárias para abraçar os novos trabalhos que surgirão na economia – e note-se que até estou a pressupor que no longo prazo não haverá propriamente uma destruição de emprego por via da robotização, mas no curto / médio prazo acho-a inevitável.
(cont.)
ResponderEliminarVamos agora às questões de distribuição.
As contribuições para a segurança social somam apenas 9,3% do PIB (valor que não tem registado grandes alterações desde 2000), sendo uma das percentagens mais baixas da Europa.
https://data.oecd.org/tax/social-security-contributions.htm
Ora, não vejo porque devemos admitir que esta opção política de colocar em segundo plano o esforço coletivo na construção do sistema de segurança social não se irá alterar. De facto, poderá alterar-se de muitas maneiras. Podemos, claro, privatizar o sistema, o que provavelmente tornará o sistema mais caro e, desta forma, para os mesmos níveis de protecção, necessitaremos de gastar mais. Mas podemos admitir também que a segurança social passa a ser um dos grandes desígnios de política pública e, das duas uma, admitimos um aumento da carga fiscal (com a contrapartida de um sistema melhor e mais robusto) ou, mantendo a mesma carga fiscal em % do PIB, abdicamos do papel do estado noutras áreas geridas pelo estado. Note-se, no entanto, que o estudo refere, no cenário mais negativo, a necessidade do orçamento de estado transferir para a segurança social o equivalente a 5,2% do PIB. Ora, independentemente deste valor ser obtido por via do aumento de impostos ou realocação da despesa do estado, isto colocaria o peso relativo do financiamento da segurança social ao nível do que se regista hoje em países como a Alemanha, Eslovénia ou República Checa. Nada de extraordinário portanto.
Por fim, olhemos para o problema concreto do financiamento indexado às compensações por trabalho recebidas pelos trabalhadores assalariados (salários mais contribuições para o sistema de proteção social). O indicador que mede o peso dessas compensações em função do valor acrescentado produzido pela economia tem vindo a cair ligeiramente (de 54,92% do valor acrescentado em 2000 para 50,12% em 2015 e uma ligeira recuperação para 51.87% em 2018. https://data.oecd.org/earnwage/employee-compensation-by-activity.htm#indicator-chart Ora, estes dados sugerem que um dos grandes problemas do sistema de segurança social pode ser exatamente a cada vez menor repartição do valor acrescentado produzido com trabalhadores; como o financiamento da segurança social é sensível à alocação de recursos que a economia coloca nos trabalhadores, se estes recebem uma proporção cada vez menor, naturalmente o sistema, num momento de transformação demográfica, ver-se-á sobre pressão (lembra-se daquela medida fantástica do Passos Coelho de diminuir drasticamente as contribuições asseguradas pelas empresas por cada trabalhador e aumentar as contribuições diretas do trabalhador? Vinha exatamente acelerar este fenómeno de realocação dos recursos produzidos pela economia, beneficiando a empresa e os seus proprietários). Claro que a direita argumenta que é necessário dar uma parte maior do bolo às empresas, para elas investirem e fomentarem o crescimento económico; dando crédito a esta ideia peregrina em Portugal… eu diria… sim, tudo bem, mas não vamos financiar as empresas à custa da segurança social! (e depois são os “ciganos” que vivem à custa da segurança social…)
(cont.) (part 3)
ResponderEliminarAgora que descasquei no estudo, vamos ao que interessa mas que os senhores do estudo se esqueceram – bem como a maioria dos actores políticos no geral: existem mudanças importantes / opções políticas “indirectas” que poderiam ser adoptadas e ter efeitos muito positivos sem mudar por aí além o sistema atual (ou seja, como os senhores do estudo fizeram, assumindo o sistema atual como ele é e atuando noutras variáveis do sistema socioeconómico que alterem, de alguma forma, os pressupostos base adoptados nas previsões que fizeram). De entre essas alternativas destaco algumas que poderiam permitir aumentar significativamente a eficiência do sistema contributivo atual:
- Acabar com grande parte dos inúmeros regimes de exceção de contribuições para a segurança social, os quais abrangem desde a) isenções a empresas como forma de estímulo ao investimento e à contratação (note-se que não falo acabar com estímulos ao investimento, mas sim que os mesmos não sejam financiados pela segurança social!) até b) os regimes de trabalho não reconhecido – puxando a brasa à minha sardinha – como é exemplo os bolseiros de investigação (mais de 25 000 que não contribuem durante anos para a segurança social, na fase da sua vida em que mais “lucro” dariam ao sistema! Estamos a falar de valores que devem andar na ordem dos dez milhões de euros por ano, que o estado desvia da segurança social para outras despesas públicas… ou seja, mais uma vez, fazendo outras políticas públicas com o financiamento que deveria ser direcionado para a segurança social!)
- Tornar os sistemas de proteção social na doença mais eficazes. É necessária uma “reforma estrutural” enérgica nas condições de segurança e higiene no trabalho: continuamos a ter estatísticas negras de acidentes de trabalho e a eficiência de utilização dos seguros de acidentes de trabalho está longe de ser efetiva (acabando quer por o serviço nacional de saúde ser onerado em muitos casos sem ser ressarcido pelas seguradoras, quer a própria segurança social que acaba por assegurar prestações e afins que deveriam ser asseguradas pelas seguradoras!).
- Tornar o sistema de protecção no desemprego muitíssimo mais eficiente e focado naquilo que é essencial: requalificar a força de trabalho, diminuindo dessa forma as probabilidades de desemprego e aumentando o valor acrescentado que o trabalhador pode oferecer ao sistema produtivo. O sistema de proteção no desemprego atual está inundado de ineficiências – desde colocar os desempregados em formações curtas, de qualidade e utilidade questionáveis, desarticulando / segregando os desempregados socialmente, colocando os desempregados a cumprir exigências absurdas e descabidas (como a caça ao carimbo em empresas para comprovar a procura ativa de emprego) e terminando nos benefícios fiscais (mais uma vez redução ou isenções nas contribuições para a segurança social dos empregadores) na contratação de desempregados, sem que se garantam exigências como contrato sem termo, taxa de rotação reduzida, etc.
Desculpe(m) o longo comentário mas é um tema que me interessa e que me preocupa, pelo que não podia deixar de debater.
E desculpe(m) a escrita enrolada (é texto bruto, sem revisão).
Aqui há já algum tempo, mais de um par de anos, tive o gosto de estar presente a assistir a um colóquio, ou conferência (no estrangeiro), onde, entre outras coisas, se discutiam questões de carácter económico. Recordo-me de duas intervenções, quase coincidentes, que defendiam que praticando-se salários baixos, “como em alguns países no seio da U.E” (Portugal foi um dos exemplos referidos, na altura com o governo Passista a finar-se), a economia de um país não terá nunca grande sucesso, pois, como referiam, “só com dinheiro no bolso e poder de compra na generalidade dos consumidores se pode fazer crescer uma economia”. Concordo inteiramente. Esta prática dos salários baixos, que vem do tempo das “trevas” (Passos/Portas), de que de algum modo esta greve dos camionistas de combustíveis perigosos é um reflexo (com salários de 630 euros), não leva a lado nenhum. Mas, é a realidade actual. Depois há os procedimentos políticos. UJM, vou contar-lhe dois episódios com que me confrontei em tempos, aqui há pouco menos de uma meia dúzia de anos. Tendo de ir em trabalho à Suíça, mantive um encontro com um “ministro” desse Cantão (Zurique – uma cidade aliás encantadora!). No final da reunião, à despedida, após o aperto de mão da praxe, saímos juntos, eu e o meu interlocutor. Vi que se preparava para ir de eléctrico, ao que lhe perguntei se não usava um automóvel do serviço. Respondeu-me que não, algo escandalizado, explicando-me que essa viatura era utilizada exclusivamente para viagens de serviço, o que não era o caso dele, já que ia para casa. Na mesma ocasião, estoirava um escândalo, em toda a imprensa Suíça: uma Ministra do Governo, de Berna, tinha-se deslocado de helicóptero, nada de mal até aí, para uma reunião em Zurique. Só que, após a dita ter terminado, perto do fim da tarde, a Senhora achou por bem ir à compras na Bahnofstrasse (a chiquérrima rua daquela cidade suíça). No dia seguinte caía do seu cargo governamental. Porque tinha aproveitado a reunião e o uso do helicóptero, obrigando o piloto a esperar mais de 3 horas por ela, que achara por bem “juntar o útil, ao agradável”, indo às compras. E lá foi à vida. Aquela malta tem um sentido ético-político que nada tem a ver connosco. Ela até poderia ter passado um dia inteira nas compras, mas não naquele dia, em que ali se dirigira no exercício das suas funções governamentais e utilizando um “veículo” do Estado, o tal helicóptero, para depois das compras a conduzir a casa, em Berna. Por cá, ninguém entenderia semelhante escândalo. Quando um dia seguia na A-5, de Cascais para Lisboa, a uns 130 km, fui, eu e outros, ultrapassado, a alta velocidade, pelo motorista que conduzia o PM de então, Passos Coelho. Na Suíça, isso seria impensável – porque, como lá dizem, “o exemplo deve sempre partir de cima”. Já houve tempos, em que alguns políticos, como Jorge Coelho (com a Ponte de Entre-os-Rios), António Vitorino, por uma bagatela sem importância de maior (um impostozeco que se esqueceu de pagar) e Murteira Nabo (cuja razão já não me recordo), se demitiram, num gesto de grande dignidade, das suas funções, ou assumirem responsabilidades políticas (JC), ou outras. Hoje, tal não sucede. E sem querer ser provocador, de todo, acredite-me, o mesmo não sucedeu, por exemplo, com o nosso PM, após o 2º incêndio de 15 de Outubro de 2017. Nem com Cavaco Silva, a propósito do seu comportamento no respeitante à acções do BPN e à sua vivenda Marani, no Algarve. Enfim, como dizia o meu avô duriense, “vivemos num país patusco, onde ser responsável custa muito”.
ResponderEliminarCordialidade!
P.Rufino
Permita-me só mais um comentário:
ResponderEliminarAs conversas criticas / miserabilistas que refere não são propriamente uma inveja genuína sobre quem ganha razoavelmente. Essas conversas, parece-me decorrem de várias situações, das quais destaco: 1) as pessoas têm rendimentos miseráveis (o rendimento declarado por 72% dos agregados familiares não vai além de cerca de 1300€/mês mais coisa menos coisa!! cerca de 650€/mês/pessoa num agregado com dois elementos que obtém rendimento), pelo que acaba por ser difícil de compreender e aceitarem as decisões de consumo de outros que os rodeiam (até porque as condições miseráveis tornam as pessoas muito mais dependentes umas das outras e isso leva-as a criticar a pessoa que compra um livro e depois dá o golpe no autocarro e não paga o bilhete...); 2) as pessoas têm ambientes de trabalho muitas vezes inacreditáveis, convivendo com desigualdades gritantes no dia-a-dia, inclusive com a ostentação agressiva de pessoas que ganham pouco mais que elas mas o suficiente para investirem na ostentação e em mecanismos de uma patética demonstração de estatuto; e isto nem é tão pronunciado na grande empresa, onde o tal CEO , filho do patrão, ganha 153x (tipo pingo doce) mais que o empregado caixa (mas nunca se cruza com este e até mostra um certo low profile quando isso acontece) [se bem que me recordo do recente caso do senhor da altice que veio visitar o centro de investigação e desenvolvimento da empresa que comprou (PT), de helicóptero, com aparatos de rock star... e passado uns tempos desatou a despedir malta de forma agressiva... e estamos a falar de malta altamente qualificada nas tecnologias de informação... ], mas por vezes não se imagina a violência dessa ostentação agressiva a que as pessoas são sujeitas na "chafarica" da porta ao lado, onde trabalham, numa pequena / média empresa familiar, em que 50% dos funcionários são familiares em primeiro ou segundo grau, que não cumprem códigos do trabalho, de segurança e higiene, etc (e o nosso tecido económico é maioritariamente constituído por pequenas e médias empresas).
Sim, por cada exemplo mau, acredito que haja pelo menos um bom. Mas ainda assim... para quem vive com a corda na garganta todos os meses, até o mais ínfimo luxo (um livro), pode ser uma "afronta".
A classe média é importante sim. Mas infelizmente ela é muito reduzida e não tem propriamente aumentado. O que temos é muitas situações miseráveis e uma massa de malta remediada, mas que tem pouco autonomia, depende muito da decisão do vizinho do lado (porque se ele mostrar-se muito aberto a luxos, aumentam o pão...) e por isso pouco racional nas observações que faz sobre a vida dos outros.
Um problema complicado!
Paulo,
ResponderEliminarJá deve ter visto: ache que o que escreveu merece destaque e, por isso, fiz um post com o que escreveu.
Força, Paulo, vá em frente.
Abraço.
Olá Francisco,
ResponderEliminarConcordo consigo.
A hipocrisia é sempre uma coisa feia e quando aparece travestida de 'sabedoria' ou de 'generosidade' é insuportável.
O senhor do Pingo Doce gosta de se portar de forma paternalista e só é pena que não se veja ao espelho.
Abraço, Francisco
Olá P. Rufino
ResponderEliminarTambém gosto muito de Zurique. É um dos sítios onde gostaria de voltar.
Tem um dos mais evoluídos sistemas de transportes que há. Não admira que o carro seja quase desnecessário.
E não nos esqueçamos que Portugal é uma democracia recente. O caciquismo imperou durante largos anos e acredito que a nível autárquico, especialmente fora dos meios urbanos ainda impere.
Tudo isso não se limpa dos hábitos tão facilmente.
Um dia feliz, P. Rufino
"E não nos esqueçamos que Portugal é uma democracia recente. O caciquismo imperou durante largos anos e acredito que a nível autárquico, especialmente fora dos meios urbanos ainda impere.
ResponderEliminarTudo isso não se limpa dos hábitos tão facilmente."
O caciquismo, um câncro só sera curado com uma quimioterapia de gerações, nalguns locais está tão vivo ou tão pouco que nem para os amigos chegam os favores e os lugares.
Temos um historial de muita dependência dos poderes centrais, não é por acaso que nem com candeia se encontram Liberais por cá, pois temos uma área conservadora muito dependente do Estado, que defende o Estado mínimo, mas para os outros. Basta vermos que o tecido empresarial que prosperou no Estado Novo dependia em muito do protecionismo e dos favores do Estado.
Um rico Mittwoch!