sábado, março 23, 2019

Noite de sono profundo depois de um longo dia no país profundo





Não foi dos dias piores. Madruguei e isso não é bom e fui eu que conduzi e isso também não é das melhores coisas. Mas, por junto, não devo ter feito mais que trezentos quilómetros, talvez um pouco mais, não sei bem, e isso não foi mau de todo. E andei pelo país profundo e os campos estão lindos e isso só pode ser muito bom. Que tenha estado sentada tempo demais não posso dizer que é coisa que se deseje. Mas, enquanto orei, por sinal palavras muito profanas, estive de pé e isso foi bom. E o almoço também se comeu, não dos melhores que lá comi mas, ainda assim, bom. E a companhia não foi das piores e isso também foi bom. 

Mas ainda fui a casa dos meus pais antes de regressar à minha e isso sendo já noite -- e estar lá e vê-los é sempre bom mas, depois de um longo dia é bom mas, quando vinha de lá, cansada, cansada, e liguei para casa reparei que vinha a cento e nove e disse isso e o meu marido ficou admirado, perguntou porquê e eu expliquei que nem tinha dado por nada porque vinha ao ritmo do meu baixo biorritmo e ele disse que tivesse juízo e que viesse mais depressa. E eu tentei e fui aos cento e vinte e cinco mas passado uns instantes reparei que já vinha outra vez a pisar ovos. 

Depois resolvemos ir até à praia comer um peixinho grelhado mas nem quis passear à beira mar nem nada. E depois cheguei aqui e reclinei-me. Horas demais. Daqui a nada quase há vinte e quatro horas.


No durante, espreitei os comentários. Li apreço pelo que escrevi ontem. Espantei-me Não me lembrava do que tinha exactamente sido. Lembrava-me que estava quase a dormir e que queria a palavra certa, a palavra única, a palavra que não desvirtuasse o sentido, e não queria ruído em torno da minha demanda, queria silêncio, nada que perturbasse a limpidez elementar do sentimento, talvez amor, talvez saudade. E o azul em cristal. A fragilidade das lâminhas em blue, flores desfolhadas, água pura. Mas não me lembrava exactamente de como o tinha dito. E um comentário. Quando vejo os comentários à espera de moderação, só vejo o princípio. Não vi o autor. Li e pensei: fui eu que escrevi isto, alguém está a transcrever o meu dito. Mas aquilo seria conversa de outro dia, conversa minha mas não de ontem. Agora fui ler outra vez. Fui até ao fim até perceber que não tinha sido eu, tinha sido a JV. E sorri. Podiam ser minhas aquelas palavras. Li-as como se as estivesse a reconhecer. Aquela menina é tão parecida comigo. E antes tinha lido o poema de Drummond de Andrade a pensar, ena que justeza de palavras, tão a descrever isto de as palavras andarem à procura dos dedos, alminhas perdidas à procura do aconchego das mãos. E a Isabel, sempre tão querida, sempre tão directa e clara, sempre tão amável, sempre com gostos próximos dos meus, e eu sempre a pensar que uma pessoa assim deve ser um bálsamo para quem com ela convive regularmente. E a Maria a referir que o azul é a cor mais quente, e é verdade, especialmente quando vem com flores amarelas no colo, mas é preciso perceber que o calor do azul tem dias e o de ontem não era quente, era gelado, feito de pétalas de cristal celeste.


E agora estou aqui, adormecida, enquanto na televisão uns casais em lingerie, sentados numa cama, fazem conversas de sedução ou tímida aproximação. Estou praticamente a dormir e não consigo prestar-lhes grande atenção mas falam em italiano e isso é uma boa música de fundo. O italiano é a língua do amor doce, do amor ternurento. Também pode ser do amor secreto. O francês é mais do amor provocante, do amor que prefiro, mal comportado. O português só é língua de amor se for em meias palavras, sussurradas. Penso: seria eu capaz de participar numa coisa assim? Agora não, nem pensar. Pelo menos para um programa de televisão. E também não em lingerie. Acho eu. Mas, se estivesse desemparelhada e com vontade de ter companhia, não me chocaria uma experiência assim. Mas estar a ser filmada, não. Tirando a filmagem, parece-me razoável. Acredito na empatia ao primeiro olhar, acredito na atracção instantânea, acredito na força irresistível de um beijo que se quer dar, acredito que é um desperdício de vida não ceder a impulsos e a intuições. 


Isabel, estas pinturas hoje são de Gino Severini e são coloridas mas aos pontinhos para serem como eu estou agora, a meio gás. E convidei Denis Matsuev para aqui nos trazer Chopin e ele veio e trouxe a Balada Nº 4

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Um belo sábado. Be happy.

5 comentários:

  1. Pois, caríssima e cansada Ujm, o Azul Quente referia-se ao Poema Azul do Sérgio Ricardo (e às águas quentes do Brasil), ao Mar Sonoro da Sophia (inspirado nas águas azuis e quentes de Lagos e da Grécia), à voz quente da Maria Bethânia, à quentura do mar azul do vídeo.
    Nem pensei em flores amarelas...
    Mas parece que ultimamente andamos a navegar em different wavelenghts.
    Sorry!
    Lamento ter quebrado, mais uma vez, a harmonia dos comentários.
    Sorry again!
    Um belo sábado.
    Be happy too!
    Maria

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  2. Gostei muito das pinturas. Muito obrigada por dizer sempre o nome do pintor. Não conhecia.

    Dia cheio! Como sempre, não é?

    Obrigada pelas palavras tão simpáticas a meio respeito, mas bálsamo...as minhas irmãs diriam mais: uma chata! E sou! Por acaso não sou rancorosa, nem invejosa, nem conflituosa, mas sou um bocado refilona e impetuosa. São coisas de que não gosto, em mim e tento melhorar, mas ainda tenho muito que trabalhar. Também sou um bocado preguiçosa, quando o trabalho não me agrada. Tenho sentido de humor. E outra coisa que detesto e não consigo mudar, é que falo alto - defeito de profissão.

    Acho que mesmo assim, mesmo assim, não sou das piores companhias.

    Mas aqui pela blogosfera, quando gosto das coisas digo e elogio, mas se não gosto, não digo nada. Para quê? Por isso, talvez fique uma imagem de mim, mais simpática do que a realidade.

    Enfim...

    Beijinhos e um bom domingo:)))

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  3. Olá Maria,

    Alguma coisa deve estar a escapar-me pois não percebo o seu comentário.

    Bom domingo.

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  4. Olá Isabel

    Pois é assim mesmo que a imagino, solar, bem disposta, franca e a saber dosear o entusiasmo em função do que realmente interessa.

    E fiquei com vontade de ver a Bety Faria. Não consegui ver e aqui não tenho box. A ver se a consigo ver durante a semana.

    Beijinhos, Isabel.

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