quinta-feira, março 07, 2019

He's in love (and we're all gonna die)
[Mais uma paródia de Randy Rainbow]
E uma ou outra breve reflexão sobre isto tudo em tempo de cinzas


De vez em quando dá-me para o pessimismo e dou por mim a pensar que isto ainda não vai acabar bem. E isto é, nada mais, nada menos, que o mundo. Pessimista que é pessimista não faz por menos. Nada de dramazinho particular, choradinho pífio. Nada disso. Se é para antecipar desgraças pois que seja em grande, a malta toda a implodir, coisa assim, tragédia do mais tenebroso que há. 

E digo isto porque.

Nestes momentos em que me parece que estamos a ser absorvidos por um buraco negro, sinto-me especialmente perplexa e assustada por ver que, um pouco por todo o lado, o povo -- e nessas alturas deixo-me de delicadezas e mentalmente digo 'a populaça' -- parece que gosta de lamber o rabo de quem o pontapeia. Vai um país a votos e os que mais têm a perder são os que mais depressa votam nos maiores estafermos. 

Pessimista mas ainda com um resquício de racionalidade, penso que não admira: os mais carentes de tudo são os mais vulneráveis, os mais facilmente manipuláveis. Mas como pobres, dependentes de apoios, pouco escolados, mal informados e etc. são a maioria, são eles que decidem as eleições. E, portanto, se aparecer um anormal qualquer a dizer que vai correr com os bandidos, os malandros e os imigrantes a varapau, o zé povo aplaude e, sem pestanejar, brinda-o com likes no Face e no Insta e, na altura de votar, entrega-lhe o voto. E nem cuida de saber que, na boca dos malucos como o Trump, o Bolsonaro, a Le Pen e tantos outros, os bandidos, os malandros e os imigrantes são justamente eles, os pobres, as vítimas.

Só que, para meu bem, apenas sou pessimista a espaços. Poupo-me o mais que posso. Portanto, passado pouco tempo, já eu estou a consolar-me, a desfiar argumentos beneméritos, que toda a história foi sempre este descer ladeira abaixo -- e forço a redundância, descer-abaixo -- que sempre pareceu que o mundo estava a bater no fundo, e que, afinal de contas, como uma bola saltitona, volta e meia surpreende o mundinho com lampejos, momentos de luz. 

Mas, não sei se já repararam, também sou dada à dialética. É que, logo a seguir, ocorre-me que nada de optimismos vãos porque momentos de esperança só mesmo nos momentos de ruptura, coisa breve, quando a malta ainda está boquiaberta a ver no que a disrupção vai dar.  Fogachos. Porque, logo a seguir, mal a poeira assenta, já a malta se divide, uns a acharem que afinal foi só fumaça, outros a reivindicarem outra coisa, que não era para ser nada daquilo, outros a quererem combater, outros a quererem mais, outros a quererem menos. E quanto mais letrados, mais dados a frioleiras, pior. Gente que usa a cabeça é gente infeliz, parece que nunca nada está bem, uma seca. Passam a vida a dissertar, a jogar conversa fora, ninguém aguenta. E, por isso, a maltosa, a dita populaça, farta de conversa, vai mas é na lábia fácil, no mamar doce dos badamerdas deste mundo, dos populistas, das bestas quadradas, dos tiranos e tiranetes, dos fascistas ou dos simples palhaços.

E aqui chegada.

Não sei tirar nenhuma conclusão. Uma ou outra bissectriz eu ainda sei tirar. Agora conclusão no meio de uma confusão destas eu não sei. Isto é coisa para se resolver com recurso a grafos, a heurísticas, a algoritmos desencabrestados no meio de topologias aluadas. Na volta, aqui é que entrava bem a tal de inteligência artificial. 

Entretanto, aconselho-me a não me preocupar muito com inequações que gostam de se fazer difíceis e a, em vez disso, me divertir a observar com quem consegue rir-se dessa desqualificada tropa fandanga.



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E até já

4 comentários:

  1. Paulo Batistamarço 07, 2019

    Tropa fandanga. Estava tudo aqui:
    https://youtu.be/HtTSFiX3Csk

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  2. Francisco de Sousa Rodriguesmarço 07, 2019

    Quando as pessoas necessitam de imaginar e concretizar que há quem esteja numa situação mais precária que elas e que os últimos precisam é de chicote, claro que vão na cantiga de quem lhes toque na índole primária de dividir o mundo em bons e maus.

    De qualquer modo, tenho a maior esperança que esta dominancia de populismo de direita tenha os seus dias contados, pois os eleitores ao constatarem que em nada são beneficiados voltarão ao seu estatuto de abstencionistas birrentos.

    Rica quinta-feira.

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  3. Olá Paulo,

    Tem razão. É isso aí. As suas referências são sempre oportunas (e o teatro sempre lá, certo?)

    Obrigada!

    Um abraço.

    PS: Estou em falta (não me esqueço...)

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  4. Olá Francisco,

    Concordo e gosto de ler as suas observações. E aprecio muito também a sua ironia.

    E tomara que tenha razão, ouviu? Quem dera que sim, que o populismo morra e a malta, em vez de decidir pelo pior, opte por ficar calada.

    Dia feliz, Francisco.

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