segunda-feira, fevereiro 04, 2019

Sem rede


Já contei muitas vezes: padeço de vertigens. Ter vertigens não é opção, acontece -- queira-se ou não. É como uma orientação sexual. Por mais que queira não consigo deixar de ser hetero. Nem de ter vertigens. Só de pensar já as sinto a assomarem-me à sola dos pés, a darem-me aquela sensação de que corro sérios riscos de me despenhar.

Estava a podar árvores e a serrar troncos e ramos, atirando lá para baixo as ramagens que o meu marido haverá de queimar num dia em que não chova, não faça vento nem demasiado calor. E, de cada vez que me aproximava da barreira, pensava que bastava um tropeção ou um pé mal colocado para lá ir cair abaixo. Por vezes, ao atirar um ramo, em vez de ir para lá abaixo, ficava preso à beira do precipício. Bem que eu tentava debruçar-me para o soltar. Mas qual quê? Incapaz. Sempre com a sensação de que, mais um passo, e voava sem asas. 

Pois bem. Numa destas coisas que não se explicam, resolvi ir espreitar as novidades ao National Geographic. Logo que vi, pensei: caraças, para que é que vim?

É que não é apenas corajoso. É mais do que isso: é de loucos. Parece-me, até, suicida. Imagino a aflição dos pais. A aflição da namorada vêmo-la nós. Coitada. Coitados os que t~em um doido destes na família. Mas, bolas, ao mesmo tempo que valentia, que superação...!

Não é a primeira vez que aqui trago Alex Honnold. Era mais miúdo e já subia às alturas. Agora vêmo-lo mais adulto, a subir mais alto, mas ainda com aquela assombrosa leveza e força. Sem rede. Sem plano B.

Não sei que pulsão é esta que leva alguém a pôr a vontade de arriscar acima da vontade de viver mas não temos que saber as motivações alheias para admirar alguém. 

Partilho convosco.

Free Solo - Trailer | National Geographic


From award-winning documentary filmmaker E. Chai Vasarhelyi and world-renowned photographer and mountaineer Jimmy Chin, comes FREE SOLO, a stunning, intimate and unflinching portrait of free soloist climber Alex Honnold, as he prepares to achieve his lifelong dream: climbing the face of the world’s most famous rock... the 3,200ft El Capitan in Yosemite National Park… without a rope.
(Apertem os cintos...)



Também bastante interessante. A palavra a quem registou a concretização do sonho. E da loucura.

How They Filmed the First El Capitan Climb With No Ropes in "Free Solo" | Vanity Fair


Elizabeth Chai Vasarhelyi and Jimmy Chin, the directors of the documentary “Free Solo,” discuss how they captured rock climber Alex Honnold’s free solo climb (without any ropes, harnesses or protective equipment) of Yosemite’s El Capitan in June 2017. The film crew was challenged to record his incredible achievement without affecting Honnold’s climb.

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E atenção: ainda não recebi palpites para a adivinha dos patos que não gostam de outros patos.

E bons sonhos, sem pesadelos, sem inexplicáveis alpinismos, sem formigueiros nos pés.

Só altos voos, só planagens felizes.

4 comentários:

  1. Francisco de Sousa Rodriguesfevereiro 04, 2019

    UJM, apesar de não ter propriamente vertigens, ver imagens de pessoas nas alturas, com uma superfície de poucos centímetros, arrepia-me.
    Li no outro post que não gosta de trabalhar de luvas, pois eu por vezes tenho esse dilema entre usar luvas e não esfarelar as mãos, ou que se lixe que dá mais jeito sem luvas.

    Uma boa semana!

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  2. Quando era criança tinha tal medo das alturas que até atravessar uma ponte de automóvel me perturbava. Felizmente passou, a ponto de entretanto já ter cometido algumas loucuras, incluindo uma vez que fiquei pendurado só pelos braços numa ponte por me terem escorregado os pés ao passar duma para outra secção interior da ponte. Mas em qualquer caso, nem de perto nem de longe me aproximo deste tipo de escaladores (Alex Honnold), que também admiro profundamente. De resto e no que a mim concerne, ultimamente, a coincidir com alguma perda de forma física recomecei a ganhar algum receio das alturas, ao menos quando dependo do físico para as ultrapassar.

    Como sempre gostei muito da partilha

    Boa semana

    Abraço

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  3. Ai Francisco, havia de ver as minhas mãos agora. Um Cristo no feminino. Mas um Cristo que tivesse dormido com um gato assanhado. Quando andei na minha faena não me doeu. Mas um dia decorrido, são arranhões de lés a lés. Uma vergonha. E o pior é que sou uma desavergonhada.

    Mas eu nem na cozinha nem no campo me ajeito com luvas. felizmente não sou cirurgiã... Já viu se me punha a oprerar sem luvas...!

    Uma boa terça-feira, Francisco.

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  4. Bolas, Víctor, isso é lá história que se conte a uma pessoa com vertigens... Só de ler já fiquei com aquele formigueiro assustado na sola dos pés... E não ficou aterrorizado, com pesadelos medonhos...? Bolas, bolas, bolas, nem quero visualizar a cena...

    A ver se não volta a andar em sítios arriscados, ouviu?

    Um abraço, Víctor!

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