quarta-feira, dezembro 26, 2018

Um post pós-natalício e meio desgovernado


Se não me alongar, percebam que estou um bocadinho cansada. Um bocadinho só. 

O dia foi muito bom, bom, bom, mas preparar os comes todos (que aqui não se compra comida feita, é tudo feitinho de raiz e algumas receitas foram a atirar para o elaborado), ter a casa cheia, com muuuuuito movimento, o som sempre no máximo que é tudo gente com boa garganta, e depois arrumar minimamente a casa deixou-me assim a little bit com vontade de, agora, me encostar e descansar.

Os presentes foram bons, todos muito inesperados, todos surpreendentes e gostei francamente de tudo.

Os festejos começaram na véspera, decorreram hoje desde antes de almoço até já ser noite e continuam esta quarta-feira. É assim e é bom, do melhor que há. Mas isto tem um reverso: é que chego a esta hora e estou como vos disse: capaz de cair para o lado.

Por isso, desculpar-me-ão mas não vou falar de nada que faça sentido. Os meus dedos por aqui andam como as galinhas sem cabeça, mexendo-se descomandados, às voltas.

Se eu tivesse energia contava a receita do rolo de carne e respectivo molho de acompanhamento ou a receita do galo capão e a do arroz de forno que o acompanhou ou a receita dos rolinhos folhados de ricota e alheira ou ricota, maçã e salmão fumado, ou a dos cor flakes salgados e com queijo ralado no forno. Das ervilhas temperadas com hortelã ou do bacalhau com todos não daria a receita porque são coisas já muito conhecidas. Acontece que estou off e se me ponho a escrever receitas nunca mais consigo adormecer como um bebé.

Se tivesse energia também contava quais os presentes que recebi para verem como foram tão bons, todos inesperados e surpreendentes. Gostei francamente de tudo e até gostava de vos contar. Mas não dá. Talvez amanhã ou depois. Agora a minha cabeça, que está desligada, está a querer encostar-se e sem fôlego. Até podia fotografar algumas para verem como não estou a exagerar.

Ou contava graças e gracinhas dos meninos, uns já tão grandes, outros a caminho disso e o bebé tão boa onda e afoito. Tão bonitos, tão queridos, tão inteligentes, tão irreverentes e traquinas. Mas tantas eles fazem que, se me punha para aqui a contar, toda babada, embalava até de madrugada e vocês todos chateados, a acharem que estou uma daquelas maçadoras que não se calam a contar peripécias de crianças sem perceber que estão a exagerar na dose. 
Mas, se não se importam, conto só esta: estava o meu filho a zangar-se com o do meio, ele a esconder-se atrás de mim, estávamos no hall junto à copa, e o meu filho à minha volta e e o menino a correr agarrado às minhas pernas, quando, não me perguntem como, me senti a cair desamparada, de costas, no chão de tijoleira da copa, com ele praticamente debaixo. O miúdo aflito, a chorar, 'desculpa, desculpa'. O meu filho acorreu logo, 'então, como foi isso?' e puxou por mim, para me ajudar. Levantei-me meia dorida, a minha filha que andava na cozinha com o bebé ao colo também acorreu a rir à gargalhada depois de me ver deitada de costas, e todo o mundo veio da sala ver o que tinha acontecido. O meu filho disse que tive sorte por não ter partido o fémur que é o que costuma acontecer às velhinhas que caem, o menino, depois de refeito do susto, disse que tinha sido um bom golpe de judo e eu confirmei, atirou-me ao tapete com uma grande pinta. Também podia contar como o bebé atacou a minha filha que o tinha ao colo, primeiro a dar-lhe marteladas com o martelinho do xilofone e, acto contínuo, quando ela se queria defender das marteladas, com a outra mão a puxar-lhe o cabelo -- enquanto ela gritava por socorro a rir-se, espantada com o sorrisinho safado do sobrinho mais novo.

Mas não me alongo. Aliás, já me alonguei foi demais. Se não se importam, agora vou apenas deixar-me estar aqui a ouvir uma música, convosco. Roo Panes acompanha-nos e, digo eu, ficamos em boa companhia. A pintura que acompanhou estas minhas palavras meio descomandadas é da autoria do pintor chinês Wang Xingwei e, se acham que, uma vez mais, nada têm a ver com o texto, saibam que eu não apenas acho que têm tudo a não-ver como aposto que ainda hei-de voltar a ele pois parece ser rapaz cá muito dos meus.


Se acordar, talvez ainda cá volte.

7 comentários:

  1. Francisco de Sousa Rodriguesdezembro 26, 2018

    Com essas suas iguarias, bem, eu perder-me-ia, cada uma melhor que a outra.
    Nas velhinhas a fratura do colo do fémur é tramada, mas como a UJM não é velhinha, safar-se-ia bem (lagarto, lagarto, lagarto).

    Espero que já esteja mais recomposta de tão esborrachante jornada.

    Um belo primeiro dia de saldos.

    Abraço.

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  2. My dear Old Lady,

    Espero que esteja bem!
    Não pode permitir que lhe apliquem golpes desses, e logo num chão de tijoleira...
    A sério, espero que esteja mesmo bem ⚘

    Gostei do Wang Xingwei!

    🌲L

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  3. Gosto sempre de ler a descrição das suas festas alegres - menos da queda, de que espero que tenha recuperado, pela energia com que escreve. E dos menus, dos quais já partilhou generosamente connosco algumas receitas noutros anos e que revisitei hoje. Será este ano que experimento fazer as tiropitas. Um abraço e continuação de Boas Festas,

    Ana

    PS - Ao reler alguns dos posts antigos, gostei da ideia de lavar as couves debaixo do chuveiro. Muito prática e é sempre bom pensarmos na casa ‘fora da caixa’. Já tenho deixado amigos entre o espantado e o divertido ao pôr o bacalhau a demolhar e o peru em salmoura no lobby da casa, que por não ter aquecimento está nesta altura do ano na temperatura adequada e sempre me liberta o frigorifico.

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  4. Olá Francisco,

    Bem sei que começaram os saldos que bem tenho visto as filas de carros a caminho dos centros comerciais. Mas eu não me dediquei a isso. Almocei em casa do meu filho e daí fomos para casa dos meus pais onde a minha filha e os miúdos já estavam. Lanchámos lá e os miúdos fizeram uma daquelas suas chinfrineiras doidas que, felizmente, o meu pai não ouviu (estava meio a dormir, está surdo todos os dias e a porta do quarto estava encostada) senão haveria de ter ficado num nervosismo. Por mais que a minha mãe ainda tente que falem baixo, é escusado: transbordam de enrgia, não conseguem contê-la.

    E da ida ao tapete (ou melhor, à tijoleira) não restaram sequelas, pelo menos que eu dê por elas. Tanto trabalho, tanto me mexo, tanto ando com o texuguinho ao colo (o "tchuguinho mais fofo", como eu chamo ao mais novo, gosta é de correr, trepar, saltar -- mas eu não perco uma oportunidade para andar com ele ao colo) que o meu corpo está preparado para tudo. Se a Telma Monteiro me dessa uma coça, haveria de me levantar do tapete fina e pronta para outra...

    E já anda a decorar o cenário para o bailarico do réveillon...? Trate de caprichar, ouviu...? :)

    Abraço, Francisco.

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    1. Francisco de Sousa Rodriguesdezembro 27, 2018

      Folgo em saber que é boa de queda.
      Que maravilha os seus meninos ainda terem os bisavós, agora imagino que às vezes para os seus pais tanta energia seja assim um reboliço.

      Já estou a preparar isso tudo!

      Um abraço.

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  5. Olá Ms Tree Lover,

    Como já disse ao Francisco, não me dói nada pelo que penso que estou fresca -- embora não tenha muita vontade de dizer que estou pronta para outra, pois, no momento da queda, quando a gente percebe que vai cair desamparada, vem sempre aquele breve receio de que a coisa dê para o torto, especialmente a nível de pancada na cabeça. Mas, por sorte, levantei-me dorida mas passado pouco tempo já não me lembrava sequer de onde é que me tinha doído.

    Uma boa quinta-feira aí pelas terras frias!

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  6. Olá Lady Anne,

    Por ter lido essa do peru em salmoura no lobby da casa é que me deu vontade de contar como deixei o meu galo de molho em banho perfumado, uma espécie de spa para galináceos (excepto que não é para consolo dos próprios mas para consolo de quem os papa).

    E arrisque nas tiropitas. Sem medo. Práticas de fazer e de sucesso garantido. Faço-as com o que me vem à cabeça e ficam sempre boas. Só uma vez que fiz com queijo e compota é que os miúdos protestaram: iam à espera de uma entrada e saíu-lhes um doce. Pediram-me para eu me deixar disso e eu deixei. Agora é com salmão, farinheira, alheira e o que calhar. E sempre a ricota e a fruta, que acho que fica ali bem. Nem se dá por ela porque tudo se funde mas acho que fica bem.

    E tem razão: essa de pôr os bichos à fresca numa divisão bem temperada da casa é boa ideia. Eu não foi isso mas o ter feito o rolo de véspera e ter deixado o galo em banho de imersão também me desafogou o frigorífico porque isso é sempre um problema.

    Um abraço, Ana!

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