#Coletes.pretos.para.parar.de.vez.com.estas.cenas

Malta, bora lá para a rua. Para não nos confundirem com esses mal-inspirados dos amarelos, vamos vestir um colete preto porque com um colete preto eu nunca me comprometo e vocês verão que também não. As ladies podem ir como eu: salto alto, porque um salto alto dá muita presença [Isabel, não proteste com os meus sapatinhos altos, vá lá...], calcinha preta ou, querendo, saia justa, e, de resto, não se precisa de mais nada. Aliás, precisa: um esguinchinho de eau de parfum, nº 5 de preferência. Um colar de pérolas também pode ser. Os cavalheiros podem ir de jeans e, de resto, para além do colete, o que quiserem, sendo que se não quiserem também não carece.

Podemos ir de trotinetas ou como quisermos e vamos sentar-nos numa esplanada à beira-mar. E vamos mostrar o nosso desagrado.

Chamamos a CMTV, a SIC, a TVI e vamos dar a conhecer o nosso manifesto. E vamos fazer selfies e pondo no Face e no Insta e nos sites de fake news que são do melhor que há. O País tem que saber que a gente está chateada com isto tudo. O Governo tem que perceber que a malta está farta de gente mal vestida, de calças de ganga com buracos maiores que sei lá o quê, que diz está em vez de tá, há-des em vez de tá-se, fónix em vez de fornique-se ou lá como é. A gente tem que dar um basta nisto tudo. Não se aguenta. Não há paciência [e não vale estar a dizer que o mal são as margens, ó menina JV, arranje lá outras desculpas].

Também acho que devíamos exigir que o Marcelo passe a ir para a cama antes da meia-noite e não se levante antes das oito [já para não falar naquele forrobodó todo em que anda, que o P. Rufino bem nos contou], que o Costa deixe de usar casacos de quando pesava menos dez quilos, que a Cristina Ferreira volte para a casota do Goucha, que o PSD corra com o mangas de alpaca do Rio e eleja o Santana Lopes e que se lixe a Aliança e que o Marques Mendes deixe crescer o cabelo e o pinte de louro para parecer a Judite Sousa. Vamos exigir. Tem que ser. Não mais tiraremos os coletes pretos enquanto isto não acontecer. Mesmo que o País pare, de boca aberta, para nos ver. E quem diz de boca aberta diz a rir à gargalhada. 

Também exigimos que algumas pessoas deixem de dizer mentiras e que outras sejam invejosas e outras maçadoras. Não se aguenta gente chata e, ainda por cima, pecadora. Queremos um mundo de pessoas boazinhas. E queremos que passe a ser proibido pintar o cabelo de encarnado ou de roxo porque se vê logo que não é natural e exigimos ao Centeno que passe o IVA dos livros que são uma seca para 50% para haver dinheiro para os livros que valem a pena como, por exemplo, os de lifestyle ou auto-ajuda.

E mais. Se não passar a haver uma enfermeira ao lado de cada professor, um bombeiro ao lado de cada juíz, uma avoila ao lado de cada estivador, um marcelo ao lado de cada velhinha ou um marta-soares ao lado de cada cabrita a malta não se calará. Mas é que não se calará mesmo. E, se for preciso, endureceremos a nossa forma de luta. Nos aguardem. Em vez de nos sentarmos na esplanada ou de desfilarmos em trotineta na avenida, a malta acampa no areal da Caparica. Mas é que acampa mesmo. Ninguém nos demoverá. Os coletes pretos vieram para ficar. Vão ver, ah vão, vão.

Mais: em último caso, arregimentamos um grupo de amigas do nosso ubíquo Marcelo para se irem pôr a fazer uma coreografia a preceito à porta do Governo. Ou, então, à porta de Tancos, que aquela cena de Tancos também já não se aguenta. Ou do Vaticano. Ou da Casa Branca. Ou whatever. Vão ver, ah vão, vão.

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Para cenas de amamentação e tal, queiram fazer o favor de continuar a descer.