sexta-feira, dezembro 28, 2018

Balanço do ano:
2018 em revista à moda de Um Jeito Manso





Não quero que venham ao engano. Vou já avisando que não vou ser capaz de dizer coisa que se aproveite. Gostava de saber dizer alguma coisa, a sério. Quando for grande quero ser apertadinha, organizadinha, bem alembradinha. Mas, infelizmente, ainda não cheguei lá.

Não me lembro de nada sobre coisas importantes deste ano que está a dar as últimas. Se se puserem a dizer coisas aqui à minha frente acho que me vou lembrando mas eu, por mim, não consigo. Não consigo discorrer sobre o passado de forma limpinha, hierarquizadazinha, sequencial -- só se for aos bochechos ou às arrecuas. Para mim o que passou, passou, e, quanto muito, decanto para deixar sair as impurezas e reciclo o que resguardei. E só guardo o que é bom, o que envelhece bem.


E depois tenho outra fraqueza: sou míope, vejo as coisas de forma esbatida, impressionista. E gosto.  Desabituei-me de usar lentes ou óculos. Já me habituei a não ver os pormenores. Prefiro assim, ganhei-lhe o gosto: das coisas prefiro ver a grande mancha, não quero saber de malhas caídas, pegões, ruguinhas de nada, nodoazinha imberbe na gravata, inofensivas minudências. Juntando isso àquilo de decantar não sobra muito. 


Portanto, dizer o quê de 2018? 

Não sei bem. Juro que não. Talvez que não foi mau de todo. Acho até que foi bom. Não me lembro agora exactamente dos sucedidos para me ter ficado esta impressão mas também confesso que geralmente acho que os anos são bons. Por maus que sejam, no conjunto acho-os bons. Mas também não sei bem explicar porque digo isto. Na volta é porque o meu corpo larga muita serotonina e o meu cérebro amanha-se logo com ela e é com cada piela que só visto, e eu, à conta disso, toda peace and love.



Podia falar de ter estantes novas e os livros organizados que é coisa que me deixa mesmo feliz e que foi coisa marcante na minha vida ou de ter retomado os tapetes de arraiolos que é coisa que me motiva muito  mas isso é capaz de ser muito petite histoire, coisa daquelas que não é para vir no jornal. Só se falasse do novo presidente de Angola que está a dar com os outros em malucos e a mudar aquilo tudo mas, não sei porquê, ainda não percebi bem qual é a dele já que antes era vice do outro e parecia unha com carne. Tenho que perceber melhor qual é a cena. Ou podia falar dos jaunes de duas patas que andam a fingir que são herdeiros dos soixante-huitards e a virar poubelles e a partir vidros mas, para isso, preferiria falar dos meus cogumelos amarelinhos e frágeis mas, se falo deles, a caruma ruiva ou o musgo verdinho ou as flores fofinhas ou a aragem nas árvores ou o canto dos pássaros ainda me rifam, todos enciumados. Ná, um risco desses eu não corro. Ou podia falar de não ter havido muita seca nem muitos incêndios mas não gosto muito de gabar de coisas boas porque parece que atrai. Podia também falar da maluqueira do brexit ou dos estarolas dos italianos sempre a puxarem-lhes o pé para o chinelo e a elegerem comediantes ou parvalhões ou do atraso de vida que para ali vai nos brasis com um bolsonaro e suas crias à roda do próprio rabo com a sua inconsequência e incompetência mas parece-me um bocado deselegante vir para aqui dizer mal dos outros, coisa de vizinha. Não. Nessa não me apanham.


É que, por mais que tente, não me ocorre nada assim de muito relevante. Alguém que me ajude... Devia ir tirando apontamentos ao longo do ano para, no final, não vir para aqui fazer estas figuras. É que se, ao menos, conseguisse elencar as melhores músicas, os melhores filmes, as melhores exposições, as melhores danças, as barbas mais larocas avistadas por aí, a voz mais caliente ouvida wherever, os deputados menos baldas e as deputadas menos bardajonas, as toilettes menos estapafúrdias da judite, os actos menos mediáticos do nosso ubíquo vocês-sabem-quem, os actos menos esclerosados do seu antecessor, as enfermeiras menos cavacas, as sindicalistas mais avoilas, os homens mais sexys da blogosfera, as bloggers mais mal-comportadas que por aí andam... mas, assim de repente, não saberia bem como descalçar a bota. Para isso precisava de ter critérios bem artilhados, fundamentação escorreita, raciocínio isento. E essa não é a minha praia: eu sou toda de predilecções, sou toda dada a xodós que me embotam a neutralidade. Não me arrisco.

Embora, para ser franca, o que eu gostava, mas gostava mesmo, era de ser capaz de ser como o Henrique que faz coisas surpreendentes e que só não fazem com que me torne sua devota porque, cá para mim, ele não é lá muito santinho que se ponha num altar. Portanto, adiante.
Embora pudesse falar noutros que também me cativam, os matreiros. Mas não, não caio daí com essa facilidade. Pode parecer que não, mas gosto mesmo é de de me fazer de difícil. 
Quanto muito posso dizer que gostava muito que ter notícias da Ana, de saber que está bem. E gostava que voltasse a escrever. Mas isso não tinha a nada a ver com o tema deste post.

Portanto, lamento mas daqui não sai mesmo nada que se aproveite. Uma tristeza. Devia esforçar-me mas sou avessa a esforços, nasci para a leveza, coisas pesadas derreiam-me as cruzes. Vou mas é ficar à espera que os outros os façam, que têm uma competência que eu não tenho. Balanços, quero eu dizer, balanços bem feitinhos de 2018.

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Agora uma coisa garanto eu que sou: bem formada. Não gosto que venham ao engano. Por isso, para ter com que receber condignamente quem, tão ingenuamente, daqui se acercou, vou partilhar um vídeo muito surpreendente, daqueles que me dão vertigens nos pés, impressões na alma. Uma capela no céu. Coisa de fazer doer a minha ausência de fé.


E para fazer pendant com o espírito do momento, uma carol boa de ouvir -- ou não tivesse o carimbo de qualidade da presença da menina Natalie Merchand.


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Isto há coisas: tudo o que é maluco vem ter comigo. Hoje foi Rafael Silveira, um menino brasileiro que só faz coisa assim, coisa boa. As imagens mostram obras dele.

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Dias felizes. Saúde. Alegria. Boa onda, minha gente.

10 comentários:

  1. Sou a Maria Luísa B., sim, e o seu balanço fez-me rir. Obrigada. Bom 2019 para si e para os seus.
    Abraço amigo.

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  2. Olá Luísa,

    Que bom saber de si. Pensei em si quando escrevi na véspera de Natal, não sei se deu para perceber.

    Espero que esteja tudo bem consigo e com os seus. Penso muitas vezes em si.

    Um abraço com amizade.

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  3. Percebi e estou-lhe muito grata pelo seu apoio amigo. Sigo a UJM diariamente, esteja eu onde estiver.
    Tudo de bom para si e que nunca se canse de nos fazer companhia.

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  4. Dear Heavenly Lady,

    Gostei deste seu balanço, mas não foi surpresa nenhuma, fui-a lendo ao longo do ano.
    Eu já deixei de fazer balanços há anos, mas há sempre coisas (boas e más) que marcam um ano.
    2018 não me deixa saudades.
    Foi um dos anos mais quentes de sempre e, no espaço de 3 dias, tive 2 incêndios a começar a 2 kms de minha casa - o primeiro com 11 meios aéreos e já nem sei quantos operacionais, e tvs etc. e tal: inesquecível... e assustador!
    Também não posso esquecer os sustos com os furacões (que agora até têm nome e tudo); pensei seriamente que a minha "fantástica e robusta" casa iria levantar vôo.

    Também foi mais um ano em que não fiz férias, não fui ao cinema, nem ao teatro, nem sequer a concertos aqui ou na minha aldeia à beira Tejo.
    Li alguns livros, vi alguns filmes (em dvd), ouvi alguma música, mas muito menos do que o costume...
    E nem lhe saberia dizer quais, deixei de ter tempo para listas.
    Até tive de alterar o meu nome nos 2 ou 3 blogs em que comentava, pois gerou-se uma confusão de nomes iguais; enfim, já sabe a história.
    Também perdi o meu tablet com montes de coisas irrecuperáveis lá dentro.
    Por muito optimista que eu queira ser (e não sou!) não posso dizer que 2018 me deixa saudades.
    Mas também aconteceram coisas boas, algumas mesmo muito boas.
    A minha mãe continua viva.
    Este Outono foi maravilhoso, as árvores ficaram lindas (como há muito não as via) e algumas pessoas foram muito amáveis comigo.
    As minhas desculpas se deprimi alguém (basta não lerem, ok?) 😏

    Então que entre 2019!
    E que seja um grande ano para todos 🥂🍾

    🌲L



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  5. Gostei muito deste balanço e olhe que fazer Arraiolos é obra, só isso já é um grande feito!
    ~CC~

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  6. Luísa, de novo,

    Com saudade das nossas 'conversas' e muita estima, saiba que fico muito contente por achar que lhe faço boa companhia. Volta e meia, quando estou mais cansada ou disparatada, penso que se calhar desiludo até os meus leitores mais pacientes...

    Abraço. E votos de saúde e alegria. E força.

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    1. Comove-me saber que se lembra das nossas 'conversas'. Está a fazer agora um ano e foram tao importantes para mim. Não me tenho atrevido a ocupar o seu pouco tempo livre mas continuo a tê-las só para mim.
      Bom domingo UJM.
      Luísa

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  7. Olá Ms TL

    Quando se chega ao fim do ano com saúde, com aqueles que amamos vivos, com a nossa casa de pé, com os nosso gostos intactos, recebendo a amabilidade de algumas pessoas -- só temos razão para estarmos agradecidos.

    Que 2019 se mantenha bom mas sem incêndios a rondar a casa, sem vendavais, sem perdas de tablets e sem gente a plagiar-lhe o nome.

    Saúde.

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    1. Saúde, precisamente, aí é que está o busílis.
      O resto são peanuts
      (ou será peanurs?)
      😄

      Muita saúde também para si e família.
      🌲L

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  8. Olá ~CC~

    Sou fazedora de Aarraiolos de longa data mas faço uns Arraiolos pouco usuais: ora dos primórdios, sec XVI ou XVII, réplicas de originais que estão em museus, ora invento e bordo à mão livre. Tenho carpetes e tapetes e tapetões e agora, quando estou no campo até estou a fazer uma 'passadeira'. Na cidade (à noite) estou a fazer um dos antigos.

    Adoro fazer. É a minha forma de 'meditar', de limpar todo o ruído que se acumula durante os dias agitados na cidade.

    Tinha deixado de fazer, tal como deixei de pintar, porque o blog ocupava todo o meu tempo livre à noite. Agora tento dosear o blog para me sobrar tempo para os tapetes.~

    Também faz?

    Abraço ~CC~

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