quarta-feira, outubro 24, 2018

Cavaco, o homem que queria ser Quinta-Feira.
[As páginas rasgadas que jamais serão lidas]





A Maria ensinou a criada do Palácio a ter sempre pastilhas de mentol em cima da mesa para ninguém ter desculpa para ter mau hálito.
Porra, Maria, era preciso uma canelada dessas? Mais logo já vais ter que me dar aqui uma fricção. Porra, vou ficar com uma nódoa negra.
Pronto, corrijo: como tenho mau hálito, tanto que a Maria diz que tenho que comer sabonetes antes de falar com alguém -- e ela não quer que os invejosos se sirvam disso para me atacar -- ensinou a sopeira a pôr os rebuçados de mau hálito em cima da mesa. Pois o gajo, pouco dotado como é, nunca se enxergou e, ao longo de anos, tive que estar ali a gramar-lhe o pivete dos maus ácidos. Sempre que eu tinha que lhe dar uma rabecada, subia-lhe do estômago uma baforada fedorenta enquanto todo ele se retorcia para fazer de conta que me respeitava. Mas nunca conseguiu. 

Só me trazia burrices, tudo ao lado, o gajo não percebe nada de nada. Pudera. Com a outra gaja como professora de que é que se estava à espera? 

Por causa dessa gaja, queria o outro menino mimado, um menino da mamã cheio de raivinhas, demitir-se. Fingi que me ralava muito com isso mas, claro, que não mexi uma palha. Desde os tempos do Independente que só se não puder é que não lhe mostro que quero é que ele se f...
Porra, Maria, vai chatear outro. Queres ver que já não posso dizer o que quero aqui na minha marquise? Era só mesmo o que me faltava. Queres lá tu ver que o defendes? Convencido que é um marquês, um lord inglês. Não há pachorra. 
Mas voltando ao destituído. O gajo até salivava quando vinha apresentar as sacanices que ia fazer aos portugueses. Cheguei a temer que tivesse um orgasmo ali mesmo à minha frente. Eu bem tentei ensinar-lhe que havia alternativas àquela receita mal parida mas o gajo é um caso perdido. A outra gaja convenceu-o que é dos livros que austeridade até espremer os cidadãos até ao tutano é que bom e o gajo aplicou-a até deixar o país e os portugueses depenados e as grandes empresas públicas vendidas ao capital estrangeiro e, até, a Estados estrangeiros. Bem tentei dizer-lhe que era melhor ir estudar a sério com professores a sério mas o gajo, obstinado e pouco dotado como é, não percebeu. Por três vezes disse que se ia demitir. Uma coisa na base do 'agarra-me senão eu bato-te'. Também não mexi uma palha. Era o melhor que ele fazia era demitir-se. Mas está bem, está. Não arredou pé. Só fez merda. Aquilo da TSU ainda foi o menos. O pior foi o resto. Só merda. Que ninguém diga que o apariquei ou que lhe pus uma mão por baixo. Mentira. A Maria está aqui ao lado e não me deixa mentir. 
Pois não, Maria? 
Ela diz que não. Eu tive foi vontade de lhe dar biqueiradas. 
Não é a ti, Maria, porra que nunca percebes nada. Qual má dicção, qual carapuça. É ao aluno da outra gaja que também só fez porcaria, desde os Swaps até ao rectificativos, que nunca acertou uma.
Que fique para a história: eu ao Passos Coelho nem com molho de tomate. Não gramo, nunca gramei. Que fique para a história: Não apoiei nem uma das muitas medidas que tomou. Zero. Levou o país para o lixo. Que fique para a história: sempre achei e sempre mostrei aos portugueses que tudo o que Passos Coelho fez foi porcaria. Porcaria da grossa.

Mas foi corajoso. Não é uma galinha qualquer que faz merda anos a fio e, mesmo constatando-se que nada daquilo se aproveitava, se mantém fiel ao seu rumo. Nunca percebi foi se fez porcaria sem perceber que fazia porcaria ou se aquele era mesmo o seu rumo, o de dar cabo do País. Mas foi corajoso.
É pá, Maria, deixa-me dizer parvoíces, não estejas para aí só a dar-me belinhas. Acho que me fica bem elogiá-lo, não quero saber que não seja coerente com o que escrevi acima. Alguém repara lá nisso? Vai fazer tricot e deixa-me dar largas à minha maneira de ser.
E depois apareceu-me o outro, o que leva tudo na boazinha. Não aguento. Gente bem disposta tira-me do sério. Eu a ranger os dentes e com o esfíncter apertadinho e o gajo todo Babush, a rir, a dizer que tudo se resolve. Não suporto gente bem resolvida. Por muito que eu me mostrasse cinzento, bafiento, múmia encartada, por mais que o bafejasse com o meu hálito sinistro, o raio do monhé não desarmava. E o sacana conseguiu mesmo dar o braço àquela caganita que fala pelos cotovelos e ao Jerónimo que, filho da mãe, se vendeu e agora já não se importa de apoiar o PS. Os comunas que estavam no túmulo ainda devem estar aos pinotes.  

Mas, calma aí, inteligente e sábio como sou, percebi logo que aquela coisa que dá pelo nome de geringonça -- e que eu, por mim, tinha feito o que na minha terra fazem aos gatos que nascem a mais -- estava para dar e durar. Que fique para a história: adivinhei logo que a caranguejola se ia aguentar até ao fim. Adivinhei tudo. E mais: que fique registado que tenho uma memória de elefante. Tomei nota de tudo, tenho opiniões sobre tudo, acerto sempre, sei tudo. E se me pisam os calos tenho ainda mais para sair à cena. Posso contar do outro que, numa recepção, deu um pum e depois ficou com um risinho amarelo, posso contar do outro que, mal chegava a Belém, ia a correr à casa de banho e vinha de lá sempre de braguilha aberta (tinha que ser o Liberato a puxar-lhe a orelha para lhe chamar a atenção), posso contar da loura inconveniente que, num jantar de cerimónia, deu tal arroto que o convidado perguntou se não estaria nenhum cavalo escondido atrás do cortinado. Não venham para cá com bocas senão vão ver.

Ah, e só espero que o Marcelo não ande agora por aí com indirectas e piadinhas para a geral senão a ver se, no próximo livro, não leva também umas bujardas que até vai de lado, catavento do caraças. Não tenho pachorra nenhuma para aquele emplastro, sempre pregado às televisões, sempre a dar beijinhos em tudo o que é velha que se lhe apresenta à frente. Como se aquilo fosse maneira de ser presidente. E não acerta uma. Eu é que acerto sempre. Eu é que sou o presidente. 
Presidente das Marquises...? Vai gozar com a prima, ó Cavaca duma figa. Porque é que não te candidatas a Presidenta para ver se deixas de andar colada a mim? Olha, já escreveste hoje a carta do dia ao Oliveira e Costa, ao Arlindo de Carvalho, ao Dias Loureiro? Vá, os amigos não se esquecem. Diz que mando saudades.
Agora vou interromper antes que apareçam por aí os invejosos do PS a dizer que estou a fazer felação delação ou que me falta sentado de Estido. E, para mais, tenho que ir ali pôr água na tigela da casota do cão que está ali no canto da casa de jantar. Enfiei lá o Lima. Aqui não tenho sótão e a Maria, esquisita como é, não o quer na marquise, diz que ele é como o Coelho, larga pêlo.

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Ei ei ei. Calma aí. 
Não foi o Cavaco que me deu estes apontamentos. Nem pensar. Encontrei estas folhas a voar por aí. 
Estavam dentro de um envelope voador que dizia  fake sheets. Ou seja, tudo fakeria.

As imagens provêm do saudoso We Have Kaos in the Garden

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9 comentários:

  1. Está aqui um retrato muito bem feito do traste da coelheira, falta só uma coisinha pequenina como ele... Era vê-lo a trás dos arbustos a escarrar naqueles que ele bem podia morrer e nascer 3 vezes que eram muito melhores que ele

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  2. Francisco de Sousa Rodriguesoutubro 24, 2018

    Está demais! Mesmo a cara de tão possidónias figuras.

    Um abraço.

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  3. Não me parece nada fake news. Pelo contrário, é a versão mais verosímil que li sobre o sr. Quinta-feira que nunca se engana e raramente tem dúvidas. Apenas estranhei a UJM não ter relatado que foi ele que, em 2013, numa Segunda-feira anterior a uma Quinta-feira, deu a dica sobre sobre o tráfego de vesículas nas células aos laureados com o prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina, Rothman, Sechkman e Sudhof.
    João L.

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  4. Olá Abel Pacheco,

    Tem razão, a mão atrás do arbusto e tem razão aquilo de ele ser mais sério do que todos nós.

    Também poderia lembrar-me de coisas mais bucólicas como aquela vez em que achou que as vacas estavam felizes ou quando se derreteu com as cagarras. Tudo lembranças que guardamos dele e que, para grande desgosto dele, não lhe são muito favoráveis.

    Abraço, Abel.

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  5. Oi Francisco,

    Possidónias é pouco. O casal Mariani é mais do que isso, muito mais, são o expoente máximo de uma classe da elite: são os Marqueses da Coelheira, Viscondes da Marquise do Possolo.

    Abç, Francisco

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    1. Francisco de Sousa Rodriguesoutubro 25, 2018

      Foi uma cortesia, claro que é sabido que estamos perante o maior desastre de gente para o exercício da bela arte que é a política.

      Abraço.

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  6. Olá João,

    Acha que foi ele? Ele é dado a essas matérias? Não sei. Ele é mais dado à literatura, tem veia de crítico literário. Não se lembra de quando não gostou do Evangelho e não o deixou concorrer? Mas talvez tenha razão. O Aníbal sabe tudo, à posteriori reescreve a história e coloca-se no centro de tudo. Acerta em tudo, sabe tudo, alertou para tudo.

    Mas animemo-nos. Agora deve hibernar durante mais algum tempo enquanto vai destilando fel contra aqueles de quem nunca gostou e, daqui por uns anos, há-de parir novo livro. E há-de aparecer a Leonor Beleza no lançamento que há-de estar igual, com o mesmo penteado e tudo.

    Abraço, John, e boas pedaladas por sítios não poluídos, livres de cavacos e cavacas.

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