sexta-feira, outubro 19, 2018

A mulher peluda


Há hábitos que se arreigam de tal forma que os nossos conceitos estéticos se formatam inconscientemente para incorporar aquilo que já nos parece natural.

Os pêlos das mulheres são aquele tabu que, quando é quebrado, nos causam alguma estranheza. E digo estranheza para não dizer relutância, incómodo. Nas axilas, nas pernas. Se calhar, daqui por algum tempo já acontece também isso com os homens. Quando ouço algumas jovens mulheres falarem quase com asco dos pêlos masculinos fico espantada. Dantes essa repugnância era apenas reservada para as mulheres que, ao levantarem o braço, deixavam ver pêlos nunca imaginados.

Lembro-me de quando era jovem adolescente e me apareceram os pêlos. Não era muito peluda e os pelos eram claros mas, para mim, eram um horror. Quando nos juntávamos em grupo para irmos à praia, eu não conseguia admitir a possibilidade de me apresentar com um único pêlo à vista. Se por acaso não conseguia ter tempo de os tirar, em especial os das pernas, quase preferia não ir. Ir com meia dúzia de pêlos claros e ralos à vista, isso é que não. E, se ia, ia incomodada, quase inibida -- apesar de ser mais do que óbvio que ninguém daria por eles. Mas, para mim, era como se toda a gente não pudesse deixar de reparar e, por isso, ficasse forçosamente com má impressão de mim.. 

Claro que hoje já não sou tão fundamentalista. Também era só o que faltava. Mas não consigo usar cavas se não estiver escrupulosamente depilada nas axilas. Vejo imagens da filha da Madonna e acho feio.

Mas, de facto, pensando bem: que mal pode haver numa mulher apresentar-se no seu estado natural? Nenhum. Mas a formatação cerebral é um espartilho tramado. Não há pior do que isso. 

Apesar da mulher se apresentar peluda, o vídeo abaixo é muito bonito. 

The Art of Change: Feminism // A Prickly Subject de Helen Plumb


1 comentário:

  1. Francisco de Sousa Rodriguesoutubro 19, 2018

    Cada um como entenda, sem dúvida, mas realmente mulher com pelos e homem sem pelos não entram lá muito pelos meus parâmetros estéticos (ao homem se for só o tronco, mal o menos).

    O que eu sonhei na minha infância com os sinais exteriores de masculinidade, hehe.

    Um abraço.

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