Submersa por eventos que perturbam a minha existência e não encontrando explicação para tanta pressão em cima de mim, tenho tentado avaliar a situação.
Apareceu-me com elogios, os maiores, e como sendo o mais honroso dos convites. Pensei: honroso mas, mais do que um convite, um tremendo desafio. Depois pensei melhor: mais do que um desafio, um tremendo transtorno. Depois pensei ainda melhor: mais do que um transtorno, uma infinita canseira e um caminho cheio de permanentes escolhos. Ou, não querendo levar a sério, uma tremenda falta de ética da minha parte se, pensando que não me apetece tal caminho, o aceitasse para depois, pela calada, não o levar a sério.
Apareceu-me com elogios, os maiores, e como sendo o mais honroso dos convites. Pensei: honroso mas, mais do que um convite, um tremendo desafio. Depois pensei melhor: mais do que um desafio, um tremendo transtorno. Depois pensei ainda melhor: mais do que um transtorno, uma infinita canseira e um caminho cheio de permanentes escolhos. Ou, não querendo levar a sério, uma tremenda falta de ética da minha parte se, pensando que não me apetece tal caminho, o aceitasse para depois, pela calada, não o levar a sério.
Só que, ao comunicar que não, o não não é aceite. E, ao não ser aceite o não, a situação complica-se.
Desabituada de contratempos que não consigo ultrapassar e sem oráculos que me ajudem, fui espreitar a conversa dos astros. E, ao contrário do habitual em que, cá para o meu lado, é sempre tudo peace and love e alegria e energia e luz e o escambau, desta vez vejo astros que não costumam estar a pairar pelas minhas bandas e que, agora, por aqui andam a ensombrar a minha existência. Em vão me desloco entre sites onde a coisa costumar parecer bater certo (Vogue, Elle, Madame Figaro). Todos me dizem a mesma coisa. Aconselham-me a descontrair-me, a deixar as coisas fluirem, a esperar que a tormenta passe pois a bonança aparecerá. Tudo novo para mim. O estado normal é a bonança. Não que não apareçam problemas. Aparecem. Mas costumo, apesar de tudo, sentir-me dona do meu destino. Arquitecta do meu destino. E agora não. Agora oferecem-me um novo destino, desenharam-no a pensar em mim.
Mais. O meu não está a causar abalo. Sei de reuniões para o discutirem. Horas de reuniões para discutirem o meu não, reuniões nas quais não participo. Depois, sou de novo confrontada com o mesmo honroso convite. Reconheço: honroso convite. Se eu estivesse para, nesta altura da minha vida, embarcar nele. Mas, justamente, não quero.
Leio nos horóscopos: tormentos, pressões, insistências. Só lá para Abril a coisa se aligeira. No pico do verão uma descida louca ao vazio para dele vir como nova, reentrando fulgurantemente no meu mundo de bons auspícios.
Pergunto-me: mas que é isto? Quando busco consolo nos astros, o que encontro é a confirmação de que há sombras demais para o meu gosto a enlearam-se nos meus passos. Faço o quê?
Sou pessoa de soluções, não de problemas. Quando comecei a trabalhar, fui contratada para fazer modelos sob a supervisão do Banco Mundial. Modelos para resolverem questões complexas e estruturais no país. Uma dimensão estratosférica de condições, restrições, objectivos. Combinações infinitas de soluções e apenas uma óptima -- e era, justamente, essa que eu queria encontrar. Meses, largos meses de trabalho. Mensalmente chegava dos Estados Unidos um senhor simpático que analisava o que eu fazia, discutíamos as minhas dificuldades e os resultados que ia obtendo. Grupos de ilustres passavam horas analisando o meu trabalho. Eu ia arranjando soluções para os nós górdios que iam aparecendo.
E agora não consigo encontrar a solução para o meu próprio caso. Dizem-me: não temos outra pessoa, pela relevância do lugar, pela natureza das situações, pelo equilíbrio de forças, pelas suas características, só pode ser você. E eu digo: seria se eu quisesse -- e eu não quero. E não saímos daqui. O tempo passa, o clima adensa-se e é isto. Parece uma equação impossível. O meu filho pergunta se estarei a ver bem as coisas, que talvez seja uma coisa fantástica. Talvez seja, sim. Mas eu não quero.
Entretanto, hoje acordei depois de uma noite de sono profundo e, do nada, apareceu-me uma possível solução. Uma contraproposta de alto risco, a que me ocorreu. O meu marido diz: eles não devem aceitar -- e pensa bem antes de avançar.
Quanto mais quero libertar-me de teias e apertados laços mais tentam enlear-me, prender-me, usar-me. Chega a um ponto em que o que sinto é isto: chega de me usarem.
Mas do outro lado, atónitos pelo não que não esperavam, quando esperariam agradecida aceitação e entusiástico reconhecimento, o pasmo não é menor. Penso que mais do que pasmo: desconforto. Pior: desagrado.
Lêem-me, vocês, e não me percebem, talvez. Presumo que estejam aí desse lado, intrigados: 'De que raio está ela a falar?'. Mas não posso ser mais explícita. O meu mundo é cheio de coisas das quais não quero falar. Se falo é por meias-palavras e acredito que soe encriptado para quem não está por dentro. Aliás, quase ninguém está por dentro. Tudo isto se passa entre gabinetes silenciosos, em ambiente reservado, sigiloso. O meu mundo é um mundo em que mais de metade não se sabe. Quando há questionários para averiguar o grau de satisfação dos colaboradores, quase sempre se queixam que há um défice de comunicação. Então, reforçamos a dose de newsletters, portais internos, reuniões de feedback, encontros. Mas a mesma metade continua a não poder ser dita. Podem as pessoas trabalhar anos no mesmo lugar e não saber de metade do que lá se passa. Segredos, reservadíssimas combinações, compromissos, negociações, acordos não revelados.
O que vale é que é domingo, que o outono entrou bem, que o dia está uma maravilha, que as minhas árvores estão grandes, cheirosas e cheias de pássaros, que a janta já está pronta que hoje é para todos, lotação esgotada e conversas e risos como se mais nada houvesse no mundo. A vida é cheia de enredos, de armadilhas, de labirintos -- mas também de jardins, de abraços, de cantos e de luz, de silêncios e afectos bons.
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As fotografias foram feitas este fim de semana in heaven
Ainda bem que chegou à tranquila e tranquilizante conclusão do último parágrafo, é que já estava a ficar com dor no peito. Pode crer, já me passava pela mente a terrível ideia - este blogue não é para mim. Não tarda nada estou despachada e já não tenho idade para tanta aflição.
ResponderEliminarTenha uma excelente semana e mantenha o NÃO. É preciso sermos firmes nas nossas decisões.
PS- Não, não sou essa Antonieta de que tanto gostava. Pode ser que a possa substituir, quem sabe? :)
UJM, nem sei que lhe diga!
ResponderEliminarPor favor acredite que não tive intenção de a melindrar nem enganar. São coisas minhas e houve uma falha. Lamento, tanto! Se o desejar mande os comentários para Spam ou elimine-os. Desculpe.
- Romeiro, Romeiro, quem és tu?
ResponderEliminar- Sou aquela vontade que me ata ao leme... A vontade de ser quem quero!
Olá Janita,
ResponderEliminarFiquei foi baralhada com o comentário e contra-comentário. É a menina que também se assina como Maria Antonieta? Ou estava simplesmente a brincar?
Não me melindrou, a sério. Baralhou-me apenas. Mas está tudo bem, a sério, não se preocupe.
:)
Ah, E., obrigada
ResponderEliminarNem sabe como me soube tão bem ler as suas palavras. Tenho estado aqui a pensar nelas, a repeti-las. Sentidamente, mil vezes lhe agradeço.
Presumo que desabafos desta natureza sejam apenas para ler. Se não forem, pior para si porque, como muito bem nota, é tudo muito encriptado e para além do seu mau estar e do não a não sabemos o quê mas que só lhe faz mal, pouco se entende. Se lhe faz mal, nada de ceder.
ResponderEliminarA UJM que imagino é muito senhora do seu nariz, vai sair-se bem. De certeza. Ainda bem que esteve no seu lugar preferido, não se perde tudo neste fds.
Agradeço a Katie Melua que canta às maravilhas essa canção que a mim me faz bem a tudo, até à pele, e é tão bonitinha.
Nota: as pinhas estão prontas para a lareira. Melhor apanhá-las UJM, o ar do verão não dura sempre. Mas o calor que hoje faz....
Olá Bea,
ResponderEliminarMesmo que pudesse (ou quisesse) ser explícita não seria fácil contar: há muito contexto que, para que a história fizesse sentido, deveria ser também contado. E são tantos os meandros e as circunstâncias que é o tipo de coisa que mais vale ficar fechadinha a sete chaves. Nem nunca falo de coisas destas. Hoje é que me apeteceu. E contei um pequeno nada, acredite.
Tenciono manter-me na minha mas em lugares destes ninguém diz não. Quando aparece alguém a dizer 'não', ninguém parece saber lidar com a situação e o caminho possível parecer ser um único. O que acontece é que ninguém quer que eu ouse sequer falar dele. Fica uma situação deveras complicada e tensa.
Mas há-de ter uma solução. Tudo tem sempre uma solução. Melhor: quase tudo.
E sabe, Bea, hoje andei às pinhas. O meu marido até agarrou na máquina e fotografou-me: eu às pinhas. Já tenho saudades das noites frescas...
Uma boa semana para si, Bea, e obrigada pela companhia.
Bom dia, UJM!
ResponderEliminarRespondendo à sua pergunta: sim, sou!
Não porque seja minha intenção tratar mal quem quer que seja a coberto de um anonimato disfarçado de gente. Nada disso. Decidi isso, no dia em que quis comentar blogues que não me comentam e não quis que pensassem que o fazia para me visitarem. Lá está; coisas minhas. Outra razão foi a de querer botar palavra em alguns blogues que se encontram num nível intelectual superior ao meu e que todos os leitores diziam Amém, sem que houvesse uma voz discordante que se atrevesse a opinar contra. Porém, tenho tão pouco jeito para lidar com duas contas, e com subterfúgios, que já não é a primeira vez que 'meto a pata na poça'. Enfim...
Fiquei imensamente aliviada - esta noite até tive pesadelos - com a receptividade que encontrei por aqui.
Obrigada! :)
Olá Janita,
ResponderEliminarPesadelos...? mas, então, porquê? Cada um faz o que quer e ninguém tem nada a ver com isso. Se estava mais à vontade a comentar sem relação com a blogger Janita, pois que mal tem?
E porque acha esses tais blogues estão num patamar superior ao seu? Não sei se estão. O que há muito por aí, se me permite a expressão, é muita cagança. E muito mau feitio. Gente quezilenta. Ou gente que acha que pode dizer tudo porque tem sempre uma corte. Por isso percebo o que diz e percebo que tenha vestido a pele da Maria Antonieta para falar de uma maneira mais 'desbocada'.
Sabe uma coisa? Eu, cá para mim, é bom a gente andar por aqui se for para se divertir ou para desabafar, para estar na boa. Se não for isso, então acho que mais vale estar quieta.
Olhe, Janita, receba um abraço.
Lendo o que tem escrito sobre o seu mundo agora um bocado ensombrado, lembro-me de uma situação que se passou comigo.
ResponderEliminarEra uma coisa em grande que ia ser a grande novidade e a grande mudança ... Uma coisa estrondosa.
Pois ainda bem que eu não fui na cantada. A esta hora sei lá o que eu estaria a fazer.
Valeram-me os reflexos. Em algumas situações tenho tendência para ter 'um olho no burro e outro no cigano'.
Aquilo que ia ser uma coisa estrondosa, uma novidade, uma grande mudança, uma inovação... Não foi. Não deu em nada.
A esta hora podia eu estar bem instaladinha, numa prateleira.
Acredito que o seu caso não seja sequer comparável ao meu.
Mas eu aconselho-a a manter-se alerta! atenta!
L.
Olá L.
ResponderEliminarSorri ao ler o 'seu assunto'. É verdade: quem imagina a coisa, imagina como coisa em grande. Vende-a como a imagina e embarca quem quer. Claro que a pessoa pode ser posta entre a espada e a parede e não ter como recuar nem ir em frente.
Claro que há quem seja vivo, contorcionista, e consiga esgueirar-se por entre as armadilhas e os engodos.
Mas é fácil a gente sorrir e falar depois da coisa passar e escapar incólume. O pior é quando está no meio dela.
Mas eu não costumo ser de me ir (muito) abaixo. Nem costumo falar quando estou no meio da tormenta. Cá para mim o facto de ter falado é porque, no meu íntimo, mesmo sem o saber, sinto que já estou a caminho 'dar a volta'
Obrigada pelo alerta e pela simpatia.
Um abraço, L.