caladas há tanto tempo não se calam
trago-as em mim e sem falar te falam
estão dentro do silêncio e cantam para ti.
Palavras nunca ditas e no entanto
não param de dizer-te o que não digo
palavras para ti e a sós comigo
palavras que não digo e são o canto.
Palavras que não disse e tu esperavas
não sei se ainda esperas ou se é tarde
o que nelas ardia ainda arde
não são de mais ninguém essas palavras.
Palavras que te digo sem dizê-las
palavras onde pulsam várias vidas
e são a escrita mesmo se escondidas
Gosto da escrita de Manuel Alegre. Em prosa e verso.
ResponderEliminarOlá bea,
ResponderEliminarTambém eu. Por vezes parece-me que ele tende a usar um pouco excessivamente as 'bolas de efeito', usando conjugações de palavras que surtirão, de certeza, efeito. E também me acontece uma coisa que me arrelia e de que ele não tem culpa nenhuma: estou a ler e parece que estou a ouvir aquela bela voz dele, que quase absorve a poesia que diz, quase me impedindo de sentir, por mim, a musicalidade dos poemas, em estado puro.
Mas, independentemente disso (e que, na volta, são coisas só cá minhas), acho-o capaz de belíssimos poemas.
Não são só coisas suas, UJM. Tenho a mesmíssima opinião da poesia do Manuel Alegre. Quanto à capacidade de escrever poemas belissimos, como o que aqui partilhou. E quanto ao artificiozinho em exagero. Muito típico da poesia portuguesa, aliás, contra a qual tenho um preconceito assumido, fruto dos traumas Cesário Verde (se na crueza e na miséria pode encontrar-se um olhar poético, certamente não será nos poemas dele), António Nobre (ai, o horror, o horror!), e tantos outros, desde a desilusão do Herberto Helder (li os Passos em Volta e gostei muito, comprei a poesia completa - o que fui eu fazer? Em vinte aproveita-se meio. Nem imaginá-lo a escrever aquilo podre de bêbedo safa a coisa. Tanto seio e tanta cona... Tudo muito bem, mas não passa disso?), aos ortónimos pessoanos (não só pela intelectualóidice mal pegada, mas sobretudo porque é uma "gaaanda" seca e eu tenho mais paciência que muitos, havendo quem me diga corajosa por ter lido o D. Quixote, volume i e ii de uma assentada e me ter deliciado. Já agora, com os Lusíadas foi o mesmo - fácil, mas fácil de ler tão bem que me soube ir descobrindo aqueles mundos sonhados de outros tempos). Recentemente, sofri novo trauma: Florbela Espanca. Uns poemas até se fazem, mas bolas, cada lamechice que até dói. Traumas que Jose Régio, O'neill e mais um poema aqui e outro ali deste e daquele não são suficientes para apagar. Uma estrofe de Pushkin bate-os a todos. Até parece que tenho gosto em dizer mal dos nossos só para parecer esperta. Mas não, tenho é gosto danado em dizer mal do que não gosto (olhó artifico, hã): abaixo o Racine! Abaixo o Schiller! Sacrilégio maior: abaixo o Fausto! Sim, o do Goethe! E mais, este sim ressabiamento pessoal e mesquinho confesso: abaixo o Byron que disse não haver coisa pior que uma mulher baixa (chamando-nos atarracadas!). Um coxo sem gracinha nenhuma, onde é que já se viu? ;)
ResponderEliminarJV
Eita brava JV!
ResponderEliminarQuando começo a ler, ainda sem ver quem assina, concluo logo: cá está a nossa brava JV.
Mulher pequenina, JV? Bonita, baixinha e danada de inteligente...? Ui, que perigo. Os interlocutores a acharem que está ali uma bonequinha inofensiva e sai daí uma fera.
Um dia destes -- hoje não que é tarde -- faço um post só com poemas de poetas que rejeita. Vai ver que vacila.
Mas fico feliz ao ver as belas leituras que tem feito. E, já agora, já ouviu, certamente, dizer que 'mulheres que lêem são perigosas'?
Até à próxima, com poemas banidos!