Não sou de campismo, não sou de concertos de verão, festivais do sol, do vento, do mexilhão do nordeste, da cana rachada da lezíria ou da sopa da pedra de alguidares-de-cima, não sou de futebóis, comícios, manifs, procissões -- em suma, não sou de ajuntamentos. Sou de hotéis de qualidade, sejam eles grandes ou pequenos, sejam eles na montanha, no mar ou na cidade. Lembro-me agora de um Le Meridien no sopé de uma montanha perto de Zurique. Lembro-me do Le Chat em Hônfleur. Opostos em tudo e, no entanto, tão bem guardados na minha memória.
Não que seja de me armar em besta. Não sou. Talvez mais bicho do mato e, se calhar, por ser mesmo um bocado elitista. Mas elitista no sentido de achar que, se não me agrada mesmo, então não vale a pena, mais vale ficar quieta em casa. Elitista porque elejo cuidadosamente os meus destinos.
Concertos ao ar livre, até ver, mais aqueles de Oeiras, o Cool Jazz. Mas gosto, sobretudo, é de salas frescas e silenciosas e de museus, de parques serenos, e do mar e de praias quase desertas. E de montanhas e de bosques of my own. E gosto de caminhar e de fotografar, gosto de estar com os meus amores, gosto de ler em sossego. Gosto de deambular pelas livrarias. Coisas assim. E de escrever. E de conversar.
Se vejo na televisão aqueles recintos repletos de gente, se vejo fotografias de tendas e acampamentos, de festanças colectivas e de altas barafundas, a única coisa que me ocorre é que ali é que ninguém me apanha.
Agora que estou cansada de tanto trabalho e o mais possível a precisar de férias, sinto-me incapaz de escolher um destino. Parece que só me apetece não fazer nada. Dormir. Apetece-me pensar que era bom que pudesse ter ara aí uns dois meses de férias: quinze dias para remodelar a arrumação dos livros, reorganizar s roupeiros, dar roupas e sapatos, livrar-me de excessos e inutilidades. Duas semanas para ir de carro até Florença, parando nas aldeias das montanhas, nas praias pequeninas. Aproveitar para conhecer Siena. Se calhar mais uma ou duas semanas para ir até à Sardenha e à Córsega. Ou não. Talvez isso descaracterizasse a natureza do passeio. Ficariam para o ano que vem. Depois mais uma ou duas semanas para ir até ao Algarve, talvez até Lagos, cidade sempre tão branca e feliz. Depois mais quinze dias de paz in heaven. Isto, sim, seriam férias.
Mas não. Em vez disso, apenas uns poucos dias e vamos ver se não são uma tortura de mails e telefonemas e documentos para ver e outros para aprovar. Dantes, quando ia, dizia que podiam ligar à vontade. Agora digo: se houver problemas, façam a caridade de me poupar. Ficam a olhar para mim, a rir. Acham que é uma piada. É.. é...
O meu marido diz: qualquer dia estamos de férias e ainda não decidimos o que vamos fazer. Mas, saturada como ando, parece que não consigo pensar ou decidir nada. E, pelos vistos, ele também não.
Quando a televisão mostra qualquer estivalidade, pasmo com os milhares de pessoas que acorrem, que sabiam que aquilo ia acontecer, que com antecedência compram bilhetes, que se predispõem a ir com antecedência, que passam horas ao ar livre, ao calor, que sabem as canções de cor, que saltam e cantam. Fico mesmo admirada. Que motivação e energia aquelas pessoas têm....Sinto-me um bicho raro, alheado de toda esta realidade. Quanto muito, em dias assim, se me apetecer laurear, penso em ir para o escurinho do cinema ou ir calcorrear ruas, fotografando e observando quem passa. Ou sentar-me numa esplanada à beira rio. Ou ir petiscar, sem pressa, degustando petisquinhos e conversando.
Ainda no outro dia, estando todos na nossa casa de campo, o meu filho sugeriu que, em vez de jantarmos em casa, podíamos ir procurar alguma festa de aldeia nas proximidades, petiscar por lá. Para ele isto é um programa apetecível. Para mim nem pouco mais ou menos. Acho que a última vez que me senti atraída por feiras de verão era eu adolescente e mal podia esperar que chegasse a noite para nos irmos encontrar nos carrinhos de choque, nos carrocéis, nas farturas.
Agora, tomara que ninguém se lembre de me envolver em tais programas.
Mas, enfim. Não vos maço mais com esta lamúria que não é lamúria. Parece que me apetece algo e não sei o que é, só sei que um Ferrero Rocher não é. Não há saldos, livros ou gelados que me tragam aquilo de que preciso -- e pressinto que é isto mesmo: descanso, férias, quebra da rotina. Preciso.
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As imagens que escolhi como entremeio para o meu desfiar de lamentos mostram parcelas de pinturas, do mais clássico que há, inseridas em fotografias de festivas de verão -- e eu acho que fazem todo o sentido neste novo contexto. O artista é Márton Neményi e eu acho que ele tem muito sentido de humor, coisa que muito me agrada. E, como seria de esperar, provêm do Bored Panda.
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Lá em cima, Haley Reinhart interpreta Baby It’s You
(dont't ask me why)
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Boa! Gostei da escolha:). E tenha boas férias. Com espírito de.
ResponderEliminarE eu que tanto a queria convidar para uma voltinha no carrocel,ao som do Quim Barreiros...
ResponderEliminarPaciência,que é boa para a vista!
Boas e descansadas férias
Olá bea!
ResponderEliminarGracias very much. E estou quase de férias, sim. Efe-erre-á, á!
E obrigada pelos votos. Para si também tudo de bom, bea.
Olá Chevy,
ResponderEliminarBom vê-lo por aqui e, ainda por cima, com disposição para o folguedo.
Uma voltinha do carrocel seria bom mas melhor seria num daqueles lugares meio nostálgicos. Agora ao som do Quim Barreiros não, Abe, não leve a mal, não faz muito pendant comigo, não gosto de chinfrins.
E, olhe, uma boa dica me deu: a paciÊncia é boa para a vista? Olha. Vou ter que treinar a ver se curo, de vez, a miopia. Já quase desapareceu mas, na volta, com mais uns pós e fico boa de todo.
Apareça sempre, Chevy.