sexta-feira, agosto 31, 2018

Afinidades electivas? Osmose mútua? Mero efeito da simbiose e do love?




Já não é a primeira vez que me entretenho a reparar nas afinidades entre os membros dos casais, aqui dando conta das minhas observações. Qualquer coisa na forma como caminham, como se vestem, como conversam, como olham na mesma direcção revela que, com o tempo, qual cão e dono, um absorve os traços os modos e os interesses do outro. 
Reparo agora que apenas fotografei casais heterossexuais. Fi-lo com a naturalidade de quem se limita a observar e a registar. E, no entanto, o que não faltam são casais homossexuais, sobretudo mulheres. Provavelmente tantos como de homens mas os homens devem coibir-se mais de se manifestar abertamente. As mulheres, sempre mais destemidas, passeiam de mão dada, abraçam-se. Mas, por qualquer absurdo preconceito, inibo-me de as fotografar, quase como, se o fizesse, corresse o risco de passar por voyeur ou o estivesse a fazer por achar que, por ser anormal, merecia ser registado. Não sei. A nossa cabeça tem pancadas que andam por desconhecidos mares subterrâneos. 
Mas, portanto, apenas homens e mulheres caminhando na praia. É dos prazeres de que posso usufruir nestes dias que entardecem com vagar. Leio, vou à água, fotografo, converso. As manhãs são essencialmente dedicadas às caminhadas à beira de água, as tardes ao doce remansar, as noites à flanação urbana (entre bailarinas de dança do ventre, românticos trovadores, retratistas a carvão, acordeonistas, ginastas, vendedores de rua, animados jovens, apaixonados e enamorados). É bom estar de férias.

Enquanto caminho de manhã ou deambulo à noite não consigo observar atentamente os casais, percebendo-lhes as afinidades, fixando-as nos meus retratos. Mas, de tarde, sim. Estou sentada, invisível, olhando quem passa, pensando que seria um bom exercício imaginar uma história para cada um. Ou como seria bom poder abeirar-me das pessoas e pedir-lhes que me contassem a sua história, como se conheceram, o que fazem, de onde vêm. Se calhar não me repudiavam. Lembro-me muitas vezes de um homem, um homem com umas feições vincadas, que, estando eu a fotografar os barcos, se acercou de mim e me pediu que o fotografasse. Lembro-me de como, apanhada na minha própria armadilha, fiquei assustada, atrapalhada. Tive até algum pudor em me pôr para ali a focá-lo bem ou a estudar a melhor forma de o captar. Apontei a máquina e disparei, ele imóvel a oçhar-me de frente. Dos rostos mais expressivos e impressionantes que já fotografei.






















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