Acordei e, mal abri os olhos, saltei da cama e fui ter com o meu marido que já tinha feito a sua caminhada matinal, já tinha feito certamente muito mais coisas e estava a instalar-se na sala.
Na véspera tinha estado de roda de mim: Quando é que te apetece falar do que vamos fazer nas férias? E eu: Qual a pressa? E ele: A pressa é que estamos a entrar nas férias e ainda não se conseguiu perceber o que queres fazer. E eu: Faço o que tu quiseres. Decide tu. E ele: Havia de ser bonito. Tudo o que eu escolhesse tu não haverias de querer. E eu: Tenta. E ele: O que eu gostava era que tu quisesses falar sobre o assunto. E eu: Pois. Mas não é agora.
Mas este sábado, levantei-me, liguei o computador e perguntei-lhe: Mas então queres já ir hoje? E ele: Eu, por mim... E eu: Vou ver o que há.
Pareceu-me que havia em qualquer dos dois para onde costumamos ir. Perguntei-lhe qual preferia. Preferia o mesmo que eu senão lá teria que tentar demovê-lo. Assim não deu luta. Perguntei: Hoje? E ele: Acho que sim.
E assim foi. Em menos de nada fizemos a mala. Mas primeiro ainda quis que lhe cortasse o cabelo. Usa-o praticamente rapado e é assim que gosto de vê-lo.
Parámos, a caminho, para comer uns petiscos de asian street food e depois foi de seguidinha. Eu a ler e ele de chauffeur que é assim que eu gosto. Se há homem a bordo não hei-de ser eu a conduzir. Sou feminista a sério, que é lá isso.
E, portanto, acabei o Fabián e o Caos do Pedo Juan Gutiérrez e o que tenho a dizer é que é um grande livro. Já aqui o disse que, ao princípio, fiquei a olhá-lo de lado. Aquela forma de sincopar a escrita não estava a cair-me no goto. Frase curta demais. Parecia futilidade. Mas ultrapassei o engulho e a verdade é que, mais à frente, a coisa entrou nos eixos, começou a fluir com aquela espessura visceral que lhe é tão característica.
E, mais para o fim, a coisa adensa-se, tudo é muito intenso, aliás, sempre tudo é muito intenso, e tudo é muito verdadeiro, muito emotivo, muito cru. Livro muito bom. Quando acabei tive pena que tivesse acabado. Não acabou entre risos. Acabou como era quase inevitável. Fabián, da maneira que era, não tinha lugar na sociedade cubana.
Fiquei com pena que tivesse acabado porque já sei que vou ter que esperar uns anos para que apareça um outro. E não há muitos escritores que eu acorra logo a comprar mal sai livro novo. Assim de repente há dois: o Pedro Juan Gutiérrez e o Paolo Cognetii. Ambos têm blogs e ambos estão aqui na minha galeria lateral. Pode ser que aconteça isso com mais algum mas não estou a lembrar-me.
E, então, chegámos e, passado pouco tempo, já estávamos na praia. Sempre aquela luz clara, aquela amplitude de horizontes, as palavras de Sophia vagueando sobre as águas, percorrendo os caminhos de areia.
É bom respirar o ar e contemplar o mar a sul.
Mas a água fria, fria. A minha filha tinha dito que estava de dar gosto, boa, boa. Mas que nada. Já deve ter soprado algum anticlicone vindo do atlântico, afastando as correntes mediterrânicas. Mas que sei eu disso. Estava fria e pronto. Tentei. O meu marido aventurou-se, mergulhou. Mas eu não. Não deu. Fui andando, água adentro, fui andando devagar. Mas, quando estava quase a ganhar coragem, o frio atou-me as pernas e arrepiei caminho.
Mas ficámos por lá até já bem tarde, o sol muito brando, muito dourado, a temperatura macia, as gaivotas descendo sobre o areal.
Fotografei muito, a luz estava bonita e eu estava tão tranquila. Tão bom.
À noite, depois de jantar, andámos a passear e já vi um chapéu muito lindo, com uns bordadinhos, umas florzinhas. Chamou logo por mim, tentador. Noutra encarnação eu fui uma mulher muito sedutora que usava os chapéus como arma de sedução. Ou isso ou outra coisa qualquer; mas lá que o chapéu é lindo, lá isso é. Não comprei porque achei caro. Pode ser que nas barraquinhas encontre algum do género e mais em conta. Sapatos e chapéus. Perco-me. E soutiens. Tenho-os de todas as cores. Mas não tenho azul claro e, como me visto muito nesse tom, tenho que usar soutien branco. Já fui espreitar ali à loja de lingerie e vi um bonito todo em renda. Mas a renda é ingrata quando o tecido da blusa é muito fininho, fica a perceber-se como que uma rugosidade por baixo. Prefiro em liso na zona mais proeminente e renda nas zonas mais oblíquas. Mas, enfim, não vim de férias para andar às compras. Vim para desligar de tudo o que é hábito da cidade.
Agora tenho aqui ao meu lado para ler o Palomar de Italo Calvino, os Contos de Petersburgo de Nikolai Gogol, o Embalando a minha biblioteca de Alberto Manguel e o 3º volume de Entrevistas da Paris Review porque, à última hora, quando estava a escolher os que queria trazer, lembrei-me que me parece que ainda me faltam alguns dos escritores deste livro.
Tirando isso, espero que esteja tudo bem convosco. Vou dando notícias e espero que elas vos encontrem de boa saúde e com boa disposição. Agora fico-me por aqui. Vou adormecer enquanto, lá fora, as gaivotas dançam e cantam. Bem as ouço, felizes da vida, livres, livres.
Enjoy
Presumo q esteja,finalmente,de férias em Lagos.Cidade bonita. Cidade de Sofia.Descanse mas n se esqueça q a máquina fotográfica não tem direito a férias.Bjs da " vizinha" algarvia de Portimão.
ResponderEliminarBoas férias. Divirta-se. Não pense nas coisas de todo o ano, como o blogue. Tire férias. À séria e sem cachecol. A gente espera que volte. Nas calmas.
ResponderEliminarSabia,pelo Blog,que tem netos.
ResponderEliminarTambém eu os tenho,e sei o que sente.
Este mundo vai ser muito melhor...
Um grande abraço
Viva UMJ!
ResponderEliminarAnda a ler o mesmo que eu...
Aqui há uns tempos - isto de vidas ocupadas é assim... - falou no El Greco e ia-me dando um baque! Um revolucionário que inventou o impressionismo e o surrealismo antes de tempo, cheio de cor, vida, magia, religião, profanidade...!
Um abraço,
JV
A todos,
ResponderEliminarAgradeço as vossas palavras e respondi no corpo do post.
Desejo-vos um dia muito bom.