segunda-feira, julho 09, 2018

Não querer saber de pântanos.
Preferir o mar, as flores, a música, o sol.







Tenho cá para mim que a democracia ideal é a que se vive em paz e liberdade, em que a defesa de ideias diferentes se faz com tranquilidade, sem o estigma de que a procura de consenso é prática malsã, em que se aceita que é preciso saber esperar pelo tempo certo para que as ideias de uns se provem e a dos outros se exponham para que, no tempo certo, quem deve escolher o faça em consciência.

Depois de décadas de falta de liberdade, de atraso e de provincianismo, veio a reviravolta, veio a longa madrugada pela qual todos esperavam. E, a seguir, vieram os excessos, os ajustes de contas, e, aos poucos, o gradual caminho pelos novos caminhos da democracia e da liberdade. Leva tempo essa aprendizagem. A cada tropeço, vêm os receios de ressurgimento de erros passados, vem a tentação de provocar diferentos agudos, a apetência por crises, quase como se quem não quer roturas e dramas fosse inimigo do bem do país.

É um caminho que leva tempo.

Talvez daqui por mais anos saibamos concentrar a nossa energia não na questiúncula fútil, nos falsos problemas, nas invejas e tricas bairristas que apenas nos fazem marcar passo mas no que verdadeiramente interessa. 

Em vez de andarmos sistematicamente a fomentar clivagens, presos a falsas questões que nada acrescentam, empolando problemas e forçando resoluções precipitadas, melhor faríamos se olhássemos para o futuro e para o que de bom temos hoje.

Somos perecíveis mas, no entanto, agimos como se fossemos eternos e como se todos fossemos juízes e polícias, moralistas e evangelistas -- e imperecíveis.  

Se olhássemos para o muito que há para descobrir na ciência, na tecnologia, no conhecimento em geral, se nos deleitássemos com a beleza que nos rodeia, se soubéssemos ter os olhos abertos para a arte, se conseguíssemos ser generosos, tolerantes e curiosos, talvez não andássemos a toda a hora a inventar crises, a ver pântanos onde apenas há acalmia, a imaginar tempestades onde apenas há aragens.

Vociferamos contra tudo e contra nada como se fossemos os melhores de todos e não percebemos que, ao andarmos apenas presos às insignificâncias que nos põem à frente do nariz, andamos, na verdade, cegos. Põem-nos palas ou véus nos olhos - e aceitamos. Não queremos ver o que de bom existe no mundo porque parece que apenas nos comprazemos a olhar as nossas próprias limitações.

Não gosto disso. Não contem comigo para isso.

Podem a melancolia ou a nostalgia serem literariamente mais interessantes ou o criticismo militante e o tom militantemente censório serem mais politicamente apelativos. Estou-me nas tintas. Digo o que penso. Critico quando acho que alguma coisa é digna de registo, passo à frente do que me parece fútil. Também muitas vezes não comento o que é humanamente dramático porque acho que há temas que merecem recato ou grandeza de alma na forma como se expressam e temo não estar á altura.

Mas, de forma geral, prefiro mesmo olhar para o que é bom ou que abre caminho a uma vida melhor.

É que tento sempre lembrar-me de que a vida é breve. E irrepetível.


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