sábado, junho 23, 2018

Receio bem que hoje seja apenas mais um daqueles dias




O que foi este meu dia nem vale a pena dizer. Digamos que foi o culminar de uma semana inteira mal dormida, pouco ou nada descansada e em que o trabalho tombou imparavelmente em cima de mim.  À hora de almoço, a um colega que entrou no meu gabinete, enquanto saía outro, eu disse: acho que isto está a começar a ser de uma violência desumana. Depois não disse mais nada porque senti que estava a começar a ter pena de mim.

Drew Barrimore
Passado um bocado, à hora de almoço, saí nas horas de estalar para ir à consulta de ginecologia que deveria ser anual ou bianual ou sei lá e à qual não ia há anos. A maior parte das vezes, quando me lembro, peço a algum médico qualquer que me passe precrição para exames, vou e, se estiver tudo bem, acaba aí, já acho que não vale a pena perder mais tempo com consultas.

Desta vez, quando soube de pessoa próxima com um problema, e já lá vai ano e tal, pensei que tinha que ir à médica. Afinal só há uns meses lá fui. Mandou fazer uma série de exames e deu-me uma desanda. Para conseguir agendá-los todos de seguida e ao início da manhã, tive que esperar uns meses. E a seguir, para conseguir vaga com a médica à hora de almoço, mais uns meses. Foi hoje. Mas a consultra atrasou-se e eu comecei a ficar sem tempo pois, daí a nada, nova reunião. Portanto, com a pressa de me vir embora, nem fiz a pergunta que levava engatilhada com o propósito de marcar logo, nem que fosse para daqui a dez anos: qual a periodicidade indicada para este tipo de revisões. Esqueci-me. Agora olha, é quando voltar a lembrar-me. 

Drew Barrimore
Mas, portanto, no meio das trabalheiras do costume, tem-me acontecido ter que encaixar coisas inesperadas ou extra-curriculares. E, por tudo e também por mais isso, ando que não posso. Eu e o meu marido -- porque, por alguma bizarra conjugação astral, parece que, por simpatia, os deuses estão a fazer o mesmo com ele. Hoje, mal conseguimos cair aqui, cada um em seu sofá, foi tiro e queda. Um sono pesado, incontornável.

Ele levantou-se agora para se ir deitar e eu abri a tampa do computador mas mais por vício do que por inspiração.

À vinda para casa, conversei com os dois rapazinhos da minha filha e, à despedida, o mais novo, o que fez sete, perguntou como se chamava a quinta filha daquela família que só tinha meninas, a Pata, a Peta, a Pita e a Pota. Pelo inesperado, ri e disse que não podia responder, que ele me estava a sair um belo malandro. E ele: 'Porquê? A menina chamava-se Maria'.

Ainda me estava a rir quando liguei à minha mãe.

Depois fui ver a menina que ontem passou por uma cirurgia com anestesia geral. Hoje estava fresca, como se nada se tivesse passado. Tem que ficar uma semana em casa e tem que fazer dieta mas, quem não saiba jamais desconfiará. Em contrapartida, o mano bebé estava cheio de febre, embora mal o ben-u-ron tenha começado a fazer efeito, tivesse também ficado fino como um alho. Depois chegou o mano do meio, que vinha do judo com o pai. Radiantes e brincalhões, todos.

Ontem toda a gente deu cromos à menina (todos menos eu...) e ela esteve a mostrar-me a caderneta e os que tem repetidos. É a colecção das Lol, umas meninas gaiteiras, cheias de brilhantes à volta. Depois perguntou se eu gostava que ela me colasse um na carteira do telemóvel. Aí desarmou-me. Sou furiosamente anti-piroseiras mas senti que desvalorizaria a sua ideia se recusasse. Como tendo muito a deixar cair telemóveis e dei cabo de alguns, agora tenho o actual dentro de uma espécie de capa que supostamente o protege. Infelizmente, sempre que precisei que o fizesse, não resultou lá muito, mas enfim. Mas é uma capa preta do mais discreto que há. Então, face à generosidade da minha menina, disse que sim, na parte de dentro. Perguntou qual a boneca de que eu mais gostava. Disse que ela pusesse a de que gostava menos. Disse que gostava de todas e que eu escolhesse a mais bonita. E assim fiz. Ficou toda contente. Depois disse que eu podia escolher outra para pôr na parte de fora. E eu, perdida por cem, perdida por mil, escolhi. Uma coisa que, em condições normais, não lembraria ao diabo. Nem imagino como vou andar de telemóvel na mão com meninas Lol auto-colantes e auto-brilhantes. Um vexame. Mas como a minha condição é a de devota dos meus amores, abro mão de todos os pruridos e faço o que os faz felizes a eles e ponto final.


Mas ando cansada e agora que acordei estou já a pensar nos dias que aí vêm. Dias loucos até às férias e, na verdade, até ao fim do ano. É a economia a abrir à força toda -- investimentos, internacionalizações, modernizações -- e tudo o que se conteve durante os últimos anos, irrompe agora com sentido de urgência.

Julia Roberts
Claro que, no meio das reuniões contínuas, mil coisas a resolver, vários projectos a decorrer, tanta coisa séria para tratar, há os momentos de pura desbunda, de anedotas, de Brunosdecarvalhadas, de piadolas de toda a espécie e feitio, picardias a torto e a direito. E nesses momentos sai-nos o peso de cima, saem-nos os anos de cima, esquecemo-nos do que temos entre mãos, esquecemo-nos do que temos pela frente. Duram minutos estes intervalos loucos. Outras vezes, duram mais, apetece-nos que seja sexta-feira, apetece-nos que as responsabilidades sejam peso para outros e não para nós.

Mas enfim, é fim de semana e não quero pensar em nada disto. Quero é dormir, passear, ler. Claro que não tendo máquina fotográfica de jeito, o entusiasmo esfria um bocado. A nano máquina não me enche as mãos, quanto mais as medidas. Mas, não tarda, faço anos pelo que pode ser que alguma alma caridosa se apiede de mim.

E pronto, fico-me por aqui porque tenho mesmo que ir dormir. Continuo com mails (pessoais) importantes  para responder (importantes para mim, sobretudo), continuo faltista em relação a tantas coisas, a telefonemas para amigos, a palavras de afecto para quem o espera. Mas o meu tempo não estica mais. Nem alguns dos blogs que gosto de seguir diariamente tenho conseguido ver.

Mas isto para dizer que, com vossa permissão, me vou retirar e, como tem sido apanágio dos últimos tempos, não consigo dizer nada. Vou ver se sonho com o Brad Pitt que isso seria uma bela preparação para um fds em grande. Aleluia.


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Fotografias do Velvet Code, um espaço onde se divulgam imagens pouco conhecidas de figuras públicas bem conhecidas.

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