quinta-feira, junho 21, 2018

Meninas golden buzzer e um menino que gostava de ter um cão



Ao contrário de muitas pessoas que acham que as crianças ainda não são bem gente, eu respeito e presto-lhes atenção desde que nascem. Do mais fundo do meu coração, sempre prezei a opinião dos meus filhos, tal como prezo a dos meus netos e a de todas as crianças com quem lido. Dizer que aprendo com eles pode parecer um lugar comum mas, para mim, não é. Aprendo. Aprendo ao ver como, desde que se nasce, já há inteligência, instintos, conhecimento.


E, se há momentos gravados para todo o sempre na minha memória, alguns dos que vivi com os meus filhos estão seguramente entre eles. Conto dois deles.

A minha filha ficou em casa da avó paterna até ir, aos três anos, para a infantil. Quando foi para a escola, estava eu ainda de licença de maternidade. Contudo, quando o meu filho fez quatro meses, fui trabalhar e ele passou a ficar, durante o dia, em casa da minha sogra. Na altura, eu estava com licença de amamentação, trabalhava menos duas horas por dia.  Como, na altura, não me dava jeito conduzir (achava que não tinha experiência suficiente e tinha medo de ter algum acidente com os miúdos no carro), ao fim da tarde, saía do trabalho a correr, apanhava um eléctrico, ia a correr a pé até casa da minha sogra, pegava nele, voltava à paragem de autocarro, depois apanhava um e depois outro e depois outro autocarro e, a correr e com ele ao colo, ia buscar a minha filha à escola e dali, a pé, com ambos para casa. O meu marido chegava mais tarde. Eu andava arrasada -- e o meu filho sempre foi grande e pesado -- e andava sempre com medo de me atrasar e não chegar a horas à escola onde a minha filha, pequenina, nos esperava. Depois de muito ponderarmos, acabámos por achar que o melhor era pormos o menino num infantário ao pé de casa. Na altura, o colégio onde andava a minha filha, não tinha berçário. Mas o que a mim me custava a ideia de ir deixar o bebé, que tinha seis meses, num lugar desconhecido... Partia-se-me o coração, só de pensar em tal.

No primeiro dia, perdida de tristeza, lá fui com ele ao colo e com a minha filha pela mão. Quando o passei para o colo da educadora, eu estava destroçada por dentro mas tentando manter-me de cara alegre para que o bebé não sentisse a minha aflição e para a minha filha não achar que eu estava a fazer algo de errado com o irmão. Então, para minha grande surpresa, quando, a medo, olhei para ele para lhe dizer adeus, vi-o a olhar para mim, a conter o beicinho, o labiozinho a tremer, tentando não chorar. E não chorou. Eu é que saí de lá de rastos, a chorar, a chorar, e a tentar que a minha filha não percebesse.

Até hoje não me esqueço da forma contida como ele me olhou. Um bebé a ensinar a mãe a ser corajosa.

Outra vez, foi com a minha filha. Era pequenina, estava na infantil. Tinha muitas amigas, sempre foi muito comunicativa. Era muito alegre, muito brincalhona. Uma vez, disse-me: acho que estou doente. Mas eu olhei para ela e pareceu-me que estava normal, bem; achei que estaria a repetir alguma coisa que tivesse visto a uma amiga, alguma coisa que lhe tinha apetecido dizer. Depois, pôs-se a brincar, parecia que já nem se lembrava daquilo. No dia seguinte, disse-me: acho que estou com febre. Mas pequenina que era, não prestei grande atenção, uma criança daquele tamanho sabe lá se tem febre; ou melhor, sabe lá o que é ter febre. Pelo sim, pelo não, pus-lhe os lábios na testa, não me pareceu quente. Não liguei, parecia-me que ela estava de boa saúde. Levei-a para a escola. Quando me ligaram a dizer que ela estava muito quieta, que parecia não estar bem, que era melhor eu lá ir, voei para a escola, aflita, arrependida, infeliz, morta de pena dela, sentindo-me a pior das mães. Lá estava, muito quieta, dizendo-me que estava doente. Senti-lhe o hálito alterado. O que me assustei, o que me penalizei, o que me censurei ninguém imagina. Corri para o médico. Estava com febre, quase com uma pneumonia. Ela tinha sabido o que eu, adulta e mãe, não tinha sido capaz de perceber, apesar dos seus alertas. O arrependimento pesado que senti na altura, sinto-o até hoje.


Agora com os meus amorzinhos pequeninos, eu ouço o que têm para dizer, gosto de saber o que pensam, espanto-me com o tanto que sabem, fascino-me com o que dizem, enterneço-me perdidamente com tudo o que fazem.


Não interessa se são ou não os mais inteligentes, os mais talentosos, os mais generosos, os mais queridos, os mais meigos, os mais lindos do mundo. Todas as crianças o são aos olhos de quem as ama. Mas são únicos, são sangue do meu sangue e condensam no seu corpinho todo o conhecimento, capacidade de aprendizagem e amor de todos os que os precederam.


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Estive aqui, entretida, a ver crianças que, tendo-se apresentado como tímidas, nervosas, mesmo referindo algumas dificuldades quando ainda mais pequenas, no momento em que podem libertar-se e mostrar o que têm lá dentro, surpreendem pela intensidade, pela espantosa maturidade, pela alma imensa que revelam

Vejam, por favor.

Tudo se passou há pouquíssimos dias, no America' Got Talent  2018

Amanda Mena, 15 anos



Courtney Hadwin, 13 anos



Jeffrey Li, 13 anos


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As imagens mostram trabalhos feitos por crianças

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