Com toda a gente que conheço, e conheço muitas e com várias entidades profissionais, aconteceram situações gravosas resultantes da crise. Aconteceu comigo, com toda a minha família, com amigos e conhecidos. Houve cortes diversos, não houve aumentos durante anos (e isto já para não falar em quem ficou desempregado).
Escuso de rememorar: a crise internacional, a gestão desastrosa de Passos Coelho, etc, etc. Para o caso, agora não interessa (embora, não nos esqueçamos, haja um aspecto que importa não esquecer: Passos Coelho e Paulo Portas fizeram o que fizeram porque o PSD, o CDS, juntamente com o PCP e o BE lá os puseram). Mas, vá, não é agora o tema. Adiante. Aconteceu.
Agora as coisas voltaram a sair de debaixo de água e começam a aparecer alguns aumentos, embora sempre baixos pois acompanham a inflação e a inflação está baixa. Contudo, ninguém recebeu retroactivos ao tempo antes da crise. Com ninguém. Nem podia haver. Seria um rombo que atiraria as empresas para a desgraça.
Se falar por mim, em termos líquidos, ganho agora menos do que ganhava há uns anos e isto não apenas porque houve anos sem qualquer aumento, por miserável que fosse, como os impostos devoram uma parte mais dolorosa dos meus rendimentos do que antes. Com o meu marido acontece o mesmo. E isto só para falar dos dois casos que agora estão aqui na minha sala.
Houve um ano, na empresa onde trabalho, empresa privada, em que, apesar da crise, a administração resolveu dar um aumento de 0,5% -- e fê-lo porque estava preocupada com o rombo na vida das pessoas e quis dar um sinal de solidariedade Ninguém estava à espera e, mais do que ficarem contentes, as pessoas ficaram preocupadas pois, a bem da sustentabilidade da empresa, preferiam que não tivesse havido aquele gesto, preferiam a contenção.
Mais: na empresa onde trabalho, e, em geral, no grupo onde a empresa está inserida, não existe tal coisa de 'carreiras'. Nem nesta nem noutras empresas onde trabalhei. Aliás, acho que nunca trabalhei numa empresa em que existissem 'carreiras'. Nem percebo a lógica. Não faz sentido. Haver concursos internos para se mudar de funções, haver algumas promoções quando se justifique, ou avaliações com atribuição de bónus, isso, sim, tem lógica. Agora a pessoa ir ali de degrau em degrau, de forma compulsiva, não faz qualquer sentido.
Nem faz qualquer sentido que, estando agora a voltar a haver aumentos, as entidades patronais fossem aplicar aumentos retroactivos aos anos que pararam de os haver. O mundo não anda para trás. Aconteceu uma crise e as pessoas foram afectadas. Ninguém o pode negar. Aconteceu. É passado.
Agora estamos a sair da crise e estamos a voltar a crescer e é mais do que normal e justo que os ordenados acompanhem esse crescimento. O que é de loucos é pensar que se pode fazer de conta que nada aconteceu e se apliquem retroactivos. Havia de ser lindo. Seria um desajustamento automático, um buraco.
Ora se isto é cristalino e óbvio, os professores têm obrigação de saber pensar, de saber fazer contas e de não darem mostras públicas de um despropositado egoísmo.
Enquanto falo, o zapping foi parar ao Fernando Medina, na TVI 24, e, por coincidência, está a falar nisto e acaba de usar um argumento em que eu não tinha pensado: olha se eu exijo de volta os impostos que me cobraram a mais, a taxa extraordinária, etc? Não seria bem pensado...?
Se o Governo resolver ceder a mais esta investida do Mário Nogueira e aceitar repor as carreiras de professores (e só de ouvir falar em carreiras já eu fico com erisipela), então é bom que, de facto, devolva todos os impostos que cobrou a mais a toda a população, que devolva aos reformados os cortes que lhes aplicou e que todas as empresas se preparem para desembolsar milhões e milhões para compensar os não aumentos do tempo de crise. Melhor: que todas as empresas que faliram, sejam obrigadas a reabrir e a readmitir todos os que ficaram desempregados.
Porque não? A lógica não é igual para todos?
Claro que há a EDP e as rendas, os bancos e o escambau -- os sempre beneficiados. Claro.
Não apenas sei disso como o Leitor P. me enviou um mail a lembrá-lo (depois de eu me ter atirado ao macho-alfa Nogueirão que se armou em bicho mau com o Ministro Tiago Brandão Rodrigues).O mundo não é perfeito e há ainda muita coisa para corrigir. Claro que sim. Mas a forma de o fazer não é desatar a cometer outros erros e erros com impactos desastrosos.
E eu só espero que António Costa se mantenha firme e não ceda a Mários Nogueiras e outras figuras sinistras da democracia portuguesa, não ceda a populismos, de esquerda ou de direita. Espero mesmo.
As medidas correctas e que respeitem a equidade nem sempre são as mais populares para todos, nem sempre são fáceis de explicar a toda a gente mas, a bem do desenvolvimento saudável e justo do país, é bom que façamos finca pé e não nos rendamos aos facilitismos e à sedução que enroupa o populismo.
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As fotografias provêm do The Guardian e, se calhar, não têm muito a ver com o texto: mostram estátuas vivas do Festival Internacional de Bucareste
Que amor não me engana, do Zeca, às tantas, também não tem muito a ver com o resto. Mas não garanto.
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Mais uma vez de acordo com UJM, o meu jornal diário!
ResponderEliminarEstá aí muita confusão na sua reflexão, informe-se: os professores não estão a reclamar retroativos! Quando se fala dum assunto sem estar dentro do mesmo, acaba por se fazer figura de comentador de tv!
ResponderEliminarRespeitosamente, João Silva, professor e humilhado, que recebe menos 200 euros que há 14 anos.
Fiquei triste por este post.
ResponderEliminarGostar do PS não é ter vendas.
Os professores não são egoístas . Os professores não são maus.
Dignidade tirada por governos PS e continuada pelo PSD.
Viva os professores!
Lamento discordar.Em duas coisas:
ResponderEliminar1. Mostrar ser tao esqucida como esse génio da gestão qie é Zeinal Baba. Com que então a culpa da crise foi do gestor de falência que tebe de governar sob o jugo dos credores e segundo as regras negociadas com quem levou o país à falencia? Vá lá! Faça um esforço de memória! Não é preciso muito. Não quero pôr em causa a sua honestidade
2.Não deviam ter criado tanta espectativa sobre o fim da austeridade a a reversão de medidas, algumas das quais estapafúrdias vomo foi a redução para 35 h, que irão ter imacto negativo nas contas e na qualidade dos servicos, em especial no SNS.
E paro por aqui....
Só mais uma coisa: Vivam os professores!
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