segunda-feira, fevereiro 12, 2018

Na era da inteligência oculta que nos segue e ampara,
as minhas dúvidas sobre o que é a verdadeira beleza e o genuíno assombro


O meu marido estava a perguntar-me onde queria eu ir. E eu, com uma branca, sem conseguir lembrar-e do nome da livraria que ando para ir conhecer e de que lhe tinha falado. Lembrava-me do sítio onde me disseram que fica, lembrava-me do género, segundo quem lá esteve me contou. Mas nem pista de nome. Melhor: lembrava-me quase do nome, quase, quase. Mas aquele aflitivo 'quase' que não facilita. Zero. Como se a cabeça estivesse a querer dizer-me que pensasse antes com os pés e a deixasse em paz. Fechei os olhos, a palavra mesmo aqui na rebentação da memória, mesmo, mesmo -- mas nada. 

Pensei: google. E, enquanto ia para a barra de pesquisa, ia pensando que não percebia como vivíamos antes de haver motores de busca

Bem. Fui, então, ao google e escrevi livraria e, quando ia escrever mais algumas dicas para ajudar o algoritmo que está por detrás do motor de busca, antes de ter escrito mais o que quer que fosse, apareceu o nome da livraria que eu procurava. Abaixo mais umas mil linhas, todas com nomes de livrarias (Bertrand, Almedina, Lello, ..., etc, etc) mas, para meu supremo espanto, em primeiro lugar o nome daquela livraria. Daquela mesmo. E não é uma livraria comercial ou especialmente conhecida... Nem pouco mais ou menos. Fiquei em estupor catatónico. E ainda estou. A inteligência que a google coloca no algoritmo vai a ponto de adivinhar aquilo que desejo ou que se esconde nos baixios do meu pensamento? Percebe que, se vou pesquisar uma livraria, só pode ser uma livraria como aquela...? Fogo... Tão estranho...

Enfim. É o admirável mundo novo.

Entretanto, voltei a entrar no YouTube pensando, 'deixa cá ver o que é que vai ele sugerir-me desta vez...?'.

Gosto de ser surpreendida. Na vida real as conversas de que mais gosto são as que tenho com pessoas que me falam de coisas fora da caixa, inesperadas, surpreendentes. Infelizmente, cada vez há menos pessoas aptas a isso. Ou, então, sou eu que cada vez mais tenho no meu CV tanta e tanta coisa que já não há muita gente capaz de me apanhar desprevenida ou de me ensinar coisas do além. E o drama é que acho que isso nem tem a ver com o meu nível de exigência ou de conhecimentos mas com a vulgaridade crescente que parece que vem, paulatinamente, cobrindo a maior parte das pessoas. Parece que, em geral, as pessoas se limitam a ler o que os facebooks desta vida repetem e repetem e em que o que mobiliza as atenções é o que a maré despeja na praia à mistura com a espuma dos dias. Cansam-me as pessoas que, como alguma empáfia, aparecem com novidades que nada têm de novo, apenas têm banalidade, imprecisões, irrelevâncias.

Mas, pelo contrário, o meu amigo algoritmo está cada vez mais apurado na sua argúcia. Sabe despertar o meu interesse.

Desta vez apareceu-me com um escultor cujo matéria prima são os tecidos, nomeadamente o tule. Estive a ver. Quando se começa a ver, causa impacto. Mas depois parece que o efeito surpresa se atenua. Do tule passei para as fitas. E por aí fora. Fez-me lembrar os trabalhos de Joana Vasconelos que têm um lado espectacular que torna os trabalhos bastante mediáticos ou 'comerciais'. Benjamim Shine, do que já me foi dado perceber, tem muito trabalho, muita obra feita, muitos clientes.

Benjamin Shine studied fashion design at The Surrey Institute of Art and Design and Central St Martins in London. In 2003 he set up his creative studio, where materials, techniques and constructional ideas continue to inform his diverse portfolio and multidisciplinary approach.
Benjamin's work has attracted a range of clients encompassing fashion labels, product and interior manufacturers, international Arts and Design institutions such as The Crafts Council, UK and The New York Museum of Arts and Design. Global brands include Givenchy, Barclays Wealth, MTV, Eurostar, Deutsche Bank, Coca-Cola and Google.
To date, Benjamin has won the Red Dot Design Award, The Enterprising Young Brit Award and The Courvoisier Future 500 Art & Design Award.
Mas vejam, por favor, pois, seja como for -- achemos que o que ele faz é de inequívoca ou de dúbia qualidade, de efeito imediato e efémero ou que tem, em si, alguma perenidade -- este é o género de coisa que nos abre a mente. A mim, pelo menos, produz um efeito positivo. Se me traz um toque de assombro e outro de beleza e umas pitadas de dúvida, então, a mim, já me prende.


This Artist Makes Incredible Sculptures Out of Fabric


From Bergdorf Goodman and Givenchy to Sotheby’s — and across much of the internet — artist Benjamin Shine’s ethereal work with tulle has made him perhaps the foremost fabric sculptor in practice today. We met with Shine in his studio to see, and try to understand, his process.


Benjamin Shine and the idea behind the 'Entwined' Ribbon Sculpture. 


'Entwined' celebrates  the idea of two souls taking physical form, falling in love and sharing every twist and turn along the way. The wedding sculpture and installation takes the form of two ribbons, floating from the air as they loop and converge to define each profile. The ribbons continue meandering around trees and over branches, into the forest where they entwine to form the wedding arch. Located inside the venue's entrance, friends and guests were asked to follow the ribbons which lead them to the ceremony and seating area, 200 metres away in the forest. In total, over 4 kilometers of handwork was required in bending and compressing the edging to create the ribbons, which were powder-coated in white.


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O que Benjamin Shine faz é arte?

Não sei. Sei pouco de tudo.

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