Claro que fomos à livraria. Mas já lá chego. O meu marido ainda no caminho e já rogando praga: 'Sempre quero ver. Quando vens com coisas dessas, já se sabe.' Também pensei que sim, que podia não ser nada por aí além. Mas só pelo nome já merecia uma visita. Não é fácil de explicar. Fazer tantos quilómetros só para conhecer a livraria que tem tal nome. Pode uma palavra chamar assim por nós? Por mim pode. O meu marido já tinha desistido, à partida já dava o tempo por perdido. Mas, enfim, também faz parte da maneira de ser dele. No fundo gosta de andar nisto, a descobrir coisas comigo mas sempre a gozar, acha que sou 'marada'.
Mas, para mim, o pior aqui é mesmo o trânsito. Tantas vezes que aqui vim, tantas, tantas vezes em serviço sem tempo para turismo, e nunca fui capaz de vir eu a conduzir. Não consigo vencer o receio. Acho que me perdia (apesar do GPS). Acho que me batiam no carro, acho que, com a atrapalhação, sem perceber as orientações do GPS, causava congestionamento. É que aqui andam todos sem cuidado, muito rapidamente, entra gente por todos os lados, há cruzamentos de metro a metro e ninguém abranda. Não me arrisco. Nem pensar. Mesmo indo ao lado, confundo-me. Só me oriento se andar a pé e com um mapa de papel na mão. Mas isso já não há. Agora é com o telemóvel a guiar-me os passos. Mas a imagem deita-se e fico sem saber se estou a ir bem ou ao contrário.
Mas, tirando isso, é bom. É sempre bom.
E vou andando, sempre turista, sempre a apreciar cada bocadinho. E sou atraída pelo graffitti, pela luz do corredor, pelos azulejos do terraço, pela nesga de casa onde se vendem legumes, pelo quintal que parece o da minha avó. No meio de tanta obra de arte, de tanta arquitectura e tanta coisa importante, logo o meu olhar se detém em fragmentos. Fragmentos luminosos, momentos radiosos. O tempo veste de tons cinza mas eu vejo o dia brilhando de luz.
........................
Até já.
...................................