quarta-feira, fevereiro 07, 2018

E isto também para dizer que venha o primeiro e afirme:
aqui está a linha vermelha para mim e para ti e juremos já aqui que nenhum de nós alguma vez a pisará
[Ou a minha impossível autobiografia]



Não sou de frescuras nem de filosofias. Nem de semânticas, ousadias pró-literárias, pulsões agrárias, angústias agarradas às mãos ou ao peito, flatos ou devaneios rotineiros. Não sou de temores, tremores, dúvidas apocalípticas, guerras ortográficas, movimentos feministas, ecologistas, muito menos populistas ou racistas. Não sou fashionista, exibicionista, radialista, minimalista. Não sou moralista, papagaista, analista, mangas de alpista. Não sou beata, patarata, não tenho beiças de pata, não sou de não ata nem desata. Não sou de palavreados, de ocos desafios, não sou de falsos arrepios, não sou de tantarantans ou, sequer, de pio-pios.

Não sou de alegorias, de falsas alegrias, de béu-béus, de clubites, partidarites ou de artrites. 

E não sou de modas: se não sei definir-me pela minha essência, mais vale ir escavando da pedra o que não sou, na esperança de que, no fim, reste um pouco de qualquer coisa: eu, aquela tal, esta aqui, o que sobrou depois de muitos nadas.

Agora uma coisa eu sei. Se há linhas vermelhas, cá estou eu para as pisar. E se do outro lado está aquilo ou aquele que eu quero, piso e piso e torno a pisar. E que venha o primeiro para se pôr com lições de moral que aí eu piso-lhe é os calos. 

E mais não digo.

Ah. Digo. Digo que bom mesmo é o desequilíbrio. A incompletude. A indefinível vontade de experimentar a tentação pelos atraentes abismos. Voar quando o corpo antecipa a queda. Partir e chegar e recomeçar. Virar tudo de pernas para o ar. Ser. Ousar. Não querer saber. Dizer apenas pelo prazer de dizer. Fechar os olhos. Apenas para que, quando os voltar a abrir, neles vejas o secreto brilho que guardo só para ti. 

Isso ou o silencioso uivo do lobo. Rasgar os medos, os sustos, deixar que o vapor quente do meu sangue se sinta na perdição da noite. Silenciosos os passos, silencioso o deslizar na noite fria.

Fecha tu os olhos. Sente como vibra o ar com o bafo da minha respiração que atravessa o silêncio da noite. Procura-te, a minha respiração. Procuro-te eu. Toma estas minhas palavras. São tuas, escultor. Retira de mim a pele que os outros vêem. Despe-me. Procura a essência de mim. Terás que procurar por ti. Não posso ajudar-te. Não sei onde está, não sei com que se parece. Sei apenas que a guardo para ti.
















Olé!

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Encontrei as esculturas que desafiam a gravidade e que me inspiraram a escrever estas maluqueiras no Bored Panda.

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Recomendação: não desçam para não darem de caras com o pénis de Trump 
(nem com a referência à pilinha-leiteira do ALA)

Avisei.

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