Já contei que tenho um amigo de quem muita gente diz que tem todo o ar de ter um piquinho a azedo. Isto dizem os subtis. Outros dizem outras coisas menos finas. Uns quantos, sem ele sequer imaginar, referem-se a ele como Madame Claudette. Eu não sei. Do que lhe conheço não o diria muito viril mas, quanto ao resto, não sei.
Agora uma coisa eu sei: não conheço ninguém que tenha maior reportório de anedotas de gays. Não há ocasião em que ele não se saia com uma. E é frequente, quando chega a um sítio onde estejam conhecidos, arranjar maneira de dizer piadas que metam gays. E, por ele, parece que meio mundo é gay. Tínhamos um colega, bem mais novo, que ele farejava como gay. E um dia veio contar-me que tinha visto o outro num bar com um amigo e que tinha a mão em cima da mesa, como que à espera que o outro a segurasse. Eu olhava para o rapaz e não lhe via jeito nenhum de ser gay mas o meu colega advertia-me que isso, na maior parte das vezes, não se vê. Ele lá sabe.
E vem isto a propósito de quê? Anda por aí um sururu sobre umas afirmações do Cardeal Patriarca Manuel Clemente que parece que prefere padres que gostem de mulheres (ainda que apenas platonicamente, I suppose). Não quer lá nos conventos padres que sonhem com marinheiros ou bombeiros ou que, à noite, quando estão com frio, saltem para as caminhas dos colegas e vão aquecer os pés no meio das pernocas peludas uns dos outros (isto admitindo que as depilações também são proibidas nos seminários).
Portanto, tivesse ele conhecido o bom do Wes Goodman -- casado e pai de família, todo machão, tdo militantemente anti-gays, todo só a favor dos casamentos naturais, homem-mulher, todo ele a boa consciência dos conservadores, cristãos, com uma mulher igual, organizadora de uma marcha anual anti-aborto -- e logo teria pensado que, não se tivesse o Wes casado, seria certamente um bom evangelizador da santa igreja católica, um caridoso e bom pároco, mas mesmo dos bons, daqueles viris certificados que dão uns padres a preceito.
A gaita é que o bom do Wes, afinal de contas, era um daqueles de tipo faz o que eu digo, não faças o que eu faço. E, para pasmo geral, um destes santos dias foi apanhado em flagrante a pinocar com outro homem. No gabinete. Truca-truca, anda cá que és meu.
Deputado republicano anti gays demite-se após ser apanhado a fazer sexo com homem
Surpresa, surpresa.
Agora já veio pedir desculpa à comunidade e diz que se vai dirigir a um novo capítulo da sua vida, seja lá o que isso quer dizer. Claro que se se tratar (que essas maleitas tratam-se, não é?) e conseguir voltar a ser completamente anti-LGBT, pode sempre vir até Portugal a pedir asilo ao cardeal Clemente.
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A propósito disto de coiso e tal no gabinete, lembro-me sempre de um meu colega, casadíssimo, apaixonadíssimo pela mulher e, em simultâneo, um sedutor compulsivo, que conseguia que o mulherame se apaixonasse perdidamente por ele. Não têm conta as que lhe conheci. Namorava com elas à descarada e elas adoravam-no, perdoavam todas as suas traições.
Um belo dia, pediu a um certo administrativo que lhe preparasse um apanhado qualquer e pediu urgência. O homem ficou a trabalhar fora de horas para lhe entregar aquilo. E ele, no gabinete, presumo que à espera. Mas, hiperactivo como era, ou não teve paciência para esperar sentado ou recebeu visita de admiradora -- o certo é que a coisa se deu logo ali mesmo, em cima da mesa de reuniões que tinha no gabinete. Pois bem, estava o meu colega no truca-truca com essa sua namorada, uma senhora também bem casada, quando o dito funcionário bate ao de leve e, na maior inocência, abre a porta, dando de cara com aquele forrobodó.
No dia seguinte, mal cheguei ao meu gabinete já um outro colega estava a vir atrás de mim a saber se eu já tinha ouvido da bronca. Nada. E ele 'O coxo apanhou o X. em cima da F na mesa do gabinete'. E eu espantada, ainda sem captar a essência da coisa: 'Em cima? Mas em cima como?'. E o outro 'Caraças. A papar a F.' E eu de boca aberta. E ele 'Faça de conta que não sabe de nada. Foi o nosso Presidente que me contou mas pediu segredo'
Passado um instante, um telefonema da Secretária do Presidente, para eu ir ao gabinete dele. Mal lá chego: 'Já soube do X?' E eu: 'Não....' E ele, num stress e ao, mesmo tempo, divertido: 'O coxo apanhou-o em cima da F.'. E eu a fazer de conta que não sabia de nada: 'Não...'. E ele: 'Ouça. Já chamei o coxo e já lhe disse que não contasse a ninguém.' E eu : 'Mas como é que soube?'. 'Pelo próprio X. Mal aqui cheguei, apareceu-me com o rabo entre as pernas, a contar. Chamei logo o coxo. Acho que a coisa está controlada. Ninguém vai saber de nada. Já viu a barraca que seria...? Um director a ter relações com a tesoureira na mesa do gabinete...? Uma barraca...'.
Pois, pelo menos entre os directores, não se falava noutra coisa. Tudo divulgado pelo Presidente. Perante o insólito da situação ninguém se detinha para se lembrar do nome do funcionário que dera com a cena. Sabia-se que era coxo e só por aí já toda a gente o identificava, não havia lá outro.
Anos depois, numa remodelação qualquer, aquela mesa veio parar ao meu gabinete. E era inevitável que alguém sempre dissesse: 'Se esta mesa falasse...'. Ou, se alguém desconfiava que alguma coisa se poderia passar fora de horas em algum gabinete, logo se dizia: 'Mais vale despachar já o coxo para casa, não vá ele lembrar-se de ficar a fazer horas'
Mas, lá está, gostando de mulheres como o meu amigo gostava, o Cardeal Clemente aceitaria, de bom grado, que ele ingressasse na carreira eclesiástica. Santinho como ele era, haveria de dar um bom conselheiro matrimonial.
[E se falo no passado é porque infelizmente foi um daqueles que partiu cedo de mais. Muito cedo. Não tenho tido muitos colegas brilhantes mas este foi, seguramente, um deles. No velório lá estavam todas as suas namoradas, entre elas a protagonista da célebre cena da mesa. Choravam tanto quanto a viúva. Era um homem que vivia a vida de uma forma gloriosa].
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Quanto ao Wes, ao Cardeal Clemente e a outros anti-gays encartados nada mais tenho a acrescentar. Podia dizer que desejo que sejam felizes e tenham muitos meninos mas, lá está, se calhar isto de terem muitos meninos ainda pode prestar-se a alguma confusão, mais vale ficar-me pelo 'muito felizes'.
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PS:
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E um belo fim de semana a todos quantos estão a ler estas palavras.
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PS:
É verdade... Tenho uma dúvida. Só ouço falar na sexualidade desejável para os padres. Então e a das freiras? Quais as preferências do Cardeal? Podem ser das que são meiguinhas umas com as outras ou também devem ser das que gostam só de beijinhos de homens?
Ah, este Cardeal Clemente gosta de uma polémica, ah gosta, gosta. Ora vejam bem o tema que ele trouxe para cima da mesa: Igreja vai fazer testes para proibir seminaristas gays. Então isso são lá testes que se façam, oh Senhor Cardeal...? Mas pronto, se insistir, não me importo de fazer parte do júri de avaliação.
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Já agora.
É um cristão gay? -- pergunta-lhe o Rowan Atkinson
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E um belo fim de semana a todos quantos estão a ler estas palavras.
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