Gosto de bibliotecas e não apenas das clássicas. Gosto de bibliotecas porque acho que são verdadeiros templos de saber e porque guardam segredos, mistérios, relatos de outras vidas, registos de mil mundos e porque podem esconder provas ou recordações e porque mil outras coisas que não cabem em palavras.
Quando, há cinco anos, voltei a Amesterdão, um amigo disse que não deixasse de ir ver a nova biblioteca. Fui. Maravilhada. Nunca tinha estado numa biblioteca tão inclusiva, tão aberta à sociedade. Ampla, luminosa, verdadeiramente feita para ser usada, sempre disponível. As pessoas em cadeirões com vista para os canais, lendo, ouvindo música. Outras com sandes na mão, conversando, comendo, lendo. Vim estupefacta pela dessacralização, pela alegria de quem frequentava a biblioteca com a naturalidade de quem sempre o fez.
Lembro-me de quando era pequena. O meu pai sempre praticou desporto e fazia parte da direcção de um pequeno clube ligado à empresa onde trabalhava. Não apenas jogava voleibol ou futebol como organizava aquilo, gostando de estar presente nas diversas actividades. Eu, que sempre fui de querer conhecer tudo, pelava-me por andar atrás dele, coisa que não lhe agradava muito mas que suportava porque me entretinha com os outros miúdos, não lhe dando trabalho. Lembro-me que, na sede daquilo, havia mesas de ping-pong, um bar e uma pequena biblioteca. Mas era uma biblioteca fraca. Nunca liguei patavina. Se calhava espreitar, nada despertava o meu interesse.
Só quando fui para o liceu é que me apaixonei por uma biblioteca. Era uma biblioteca a sério. Enorme. Estantes altas à volta. A parte de cima tinha uma redezinha. Foi de lá que trouxe os livros que me iniciaram no prazer da literatura. Não havia filtros ou censura. Chegava, escolhia, trazia. Somerset Maugham, Pearl S. Buck, Steinbeck. Nem os meus pais vigiavam nem o funcionário da biblioteca se interessava pelas minhas escolhas.
Anos mais tarde, vim a conhecer talvez a mais extraordinária biblioteca que me foi dado conhecer de perto. Era a biblioteca privada, de um grupo empresarial. Uma coisa indescritível. E tinha uma bibliotecária a sério, senhora que me fascinava pelo seu saber. E tinha um encadernador cuja oficina era, para mim, um outro fascínio. Não sei que foi feito desse tesouro de valor certamente desmesurado. Tenho pensado muitas vezes nisso. Terá sido doada? Ainda hoje passei junto ao edifício onde funcionava, um edifício agora abandonado. O que era aquele edifício... um mundo. Um labirinto imenso cheio de surpresas. Numa das salas havia um quadro a óleo de um tamanho incrível, vários metros por vários metros.
Anos mais tarde, vim a conhecer talvez a mais extraordinária biblioteca que me foi dado conhecer de perto. Era a biblioteca privada, de um grupo empresarial. Uma coisa indescritível. E tinha uma bibliotecária a sério, senhora que me fascinava pelo seu saber. E tinha um encadernador cuja oficina era, para mim, um outro fascínio. Não sei que foi feito desse tesouro de valor certamente desmesurado. Tenho pensado muitas vezes nisso. Terá sido doada? Ainda hoje passei junto ao edifício onde funcionava, um edifício agora abandonado. O que era aquele edifício... um mundo. Um labirinto imenso cheio de surpresas. Numa das salas havia um quadro a óleo de um tamanho incrível, vários metros por vários metros.
Quando penso em tudo o que já vi e vivi fico um bocado estonteada. Serei já assim tão velha para ter memórias tão inacreditáveis? Parece que já vivi em mundos inexistentes. E o pior é que perdi o rasto a quase toda a gente que hoje pudesse testemunhar a veracidade dos meus relatos. E não tenho registos fotográficos. Nada. Apenas a minha memória. Fui agora googlar. Nada. Há tempos, em conversa, falei nisto e referi o nome da dita bibliotecária. Para minha surpresa, o meu interlocutor tinha-a conhecido. Já morreu, disse ele. Não sabia. Pensei, cá para mim, que um dia destes vou ter dúvidas sobre se vivi mesmo aquilo que recordo. Se calhar, tudo isto é ficção.Bem. Adiante.
No domingo, quando fui à Gulbenkian, deixei o carro na garagem. E vi pela primeira vez, ao vivo, uma carrinha da Biblioteca Itinerante da Gulbenkian de que já tantas vezes ouvi falar e que sei que fez os encantos de muitas pessoas que viviam em lugares sem acesso a livros. Fui ver de perto e enterneci-me, pensando no prazer que deveria ser a chegada desta bonita carripana. Não sei se ainda funciona, se ainda anda de terra em terra emprestando livros. Tomara que sim.
E isto vem a propósito do que li no Bored Panda e de onde retirei também as fotografias que aqui coloquei:
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China Opens World’s Coolest Library With 1.2 Million Books, And Its Interior Will Take Your Breath Away
Located in the Binhai Cultural District In Tianjin, the five-story library, which was designed by Dutch design firm MVRDV in collaboration with the Tianjin Urban Planning and Design Institute (TUPDI) and has since been dubbed “The Eye of Binhai”, covers 34,000 square metres and can hold up to 1.2 million books. Taking just three years to complete, the library features a reading area on the ground floor, lounge areas in the middle sections and offices, meeting spaces, and computer/audio rooms at the top. We’re not sure how much studying we’d get done though – we’d be far too busy marveling at the awesome architecture!
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