quarta-feira, agosto 23, 2017

Cavalos verdes não vi. Mas azuis, sim. Estavam ao pé dos que dançavam em roda, todos nus.



As árvores crescem de forma pouco compreensível. Se eu descrevesse o que aqui se passa poderiam pensar que estava a arremedar o realismo mágico de alguns escritores sul-americanos. Mas Acreditem: prodígios a acontecerem de dia para dia, aos nossos olhos. Gostava de vos mostrar como era, vai para cima de vinte anos: uma pedreira a céu aberto em parte coberta por mato rasteiro. Agora um bosque, árvores gigantes. Não se percebe até onde onde vão estas árvores crescer. E reproduzem-se como coelhos (que aqui também os há): aparecem pinheiros, azinheiras, aroeiras, giestas, arbustos novos por todo o lado. E num dia estão a despontar, passado pouco já estão esgueirados por aí acima como adolescentes espigados.

Mas é tudo. O alecrim ganha um tamanho como nunca vi. A madressilva agiganta-se, faz moitas surpreendentes. As videiras trepam pela grande ameixeira e dos ramos altos desta pendem gigantes cachos de uvas.


O meu marido queixa-se: 'Não se dá conta disto'. Eu não me queixo. Presencio um milagre e abençoo a sorte que tenho por me ser dado viver um tal fenómeno. Claro que temos um trabalho imenso pois, para que a natureza não nos devore, temos nós que tentar controlá-la. O meu filho, no outro dia, pasmado com o crescimento das árvores desde a última vez, assustou-se: 'A natureza vai vencer'. Não creio porque estamos cá para lhe dar luta.


Braçal, tudo. A ver se encontramos a motosserra que queremos, que nos ia ajudar bastante. E estamos em dúvida sobre um triturador. Mas, para ser em conta, é eléctrico e não daria lá em baixo. Não faz sentido estender dezenas de metro de fio nem estar a trazer as coisas cá para cima. Portanto, o triturador está interrogado. 

Ao fim do dia, o cheiro a madeira cortada, o cheiro dos pinheiros ao entardecer, a rama aparada dos cedros, tudo me parece mágico. 


Revivo aqui, rejuvenesço, transformo-me. 

Quando falei com a minha filha, ela percebeu pela minha respiração que eu estava a meio da labuta e avisou: 'Daqui por uns dias nem vais conseguir mexer-te'. Bati três vezes num tronco de madeira e disse-lhe que so far, so good. Admiro-me com a minha resistência mas não posso atirar foguetes. De facto, pode acontecer que, daqui por uns dias, o meu corpo se ressinta porque, desta vez, o esforço está a ser bem maior.


Os pássaros cantam muito ao fim do dia. Devem estar abrigados do calor durante as horas de sol e, quando vem a noitinha, é ouvi-los num chilreio feliz. Eu também. Passeio, olho o céu, as árvores, fotografo, atraso a hora de vir para casa. 


Depois tomo um belo banho, ponho betadine nos arranhões (ao contrário do meu marido que se protege, eu ando sem luvas e de biquini; não é para fazer género, claro, mas é que não suporto o calor; felizmente não se vê da rua, senão, vestida, nem sei como me aguentaria), e vou jantar (o jantar são geralmente sobras do almoço, saladas, queijo, fruta).

Só depois ligo o computador. Mas, como abaixo já vos contei, ainda tenho trabalho para fazer e, portanto, este post, tal o que poderão ver abaixo, sobre a bola de pedra tatuada, são um mero amuse-bouche.


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Ontem, ao falar do bosque que é nosso filho, dizia que, para ser melhor só se visse passar, por entre as árvores, cavalos verdes. Daí o título deste post.

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Não são verdes, mas são azuis os cavalos que, por aqui, vejo. E andam entre o verde, no campo, e não no mar.


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E queiram continura a descer, caso vos apeteça continuar in heaven.

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Até já.

(Queria falar da entrevista da Graça Fonseca e das reacções mas, bolas, vi agora que a Estrela Serrano já me tirou as palavras da boca. Por isso, não sei se ainda falarei disso. Já vejo)

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