segunda-feira, abril 24, 2017

Conversas em família
-- Mais uma entrevista feita pelo marido à UJM... ou nem bem isso --
Uma forma, como qualquer outra, de festejar a vida
(com a vantagem de quer a autora quer o marido... estarem ambos acordados)

[E uma ou outra reflexão]


O láparo, todo fashion, à sombra



Não é que a vida seja um mar de rosas. Se pensarmos nela como um organismo complexo que é, visto de maneira diferente consoante o ângulo ou a profundidade com que o observemos, perceberemos que não é possível descrevê-la com simplicidade.

Poderia falar do meu dia de domingo, do passeio que dei, do que fiz aqui em casa, das pessoas com quem falei e, de cada uma dessas vertentes, transmitiria uma ideia diversa.

Poderia falar de arrumações, de pôr a máquina a lavar, de um spray mágico para tirar nódoas ou sujidades maiores e que se aplica antes de pôr a roupa na máquina, poderia falar do livro que li, do que almocei ou jantei.


Ou poderia falar da beira rio, do coelho de chapéu e óculos de sol que vi à sombra de um pinheiro, da rapariga com flores no cabelo, ou poderia falar das mil vozes que se ouvem, línguas diferentes, casais apaixonados ao sol ou amizades antigas, conversadas à sombra, ou falar dos pescadores e dos ciclistas, e da equipa de filmagens e das meninas vestidas como bailarinas, ou podia falar dos barcos, tantos.


Ou poderia falar dos meus pais, preocupações permanentes, estados de saúde que oscilam, fragilidades e surpreendentes resistências, angústias e alegrias, o tempo a andar ao ritmo que a vida permite.

Ou poderia falar da descendência, filhos e netos, sempre todos tão cheios de vida e de feitos e de por fazer. Ou poderia, aqui, fazer um zoom sobre o mais novo membro da família e falar do bebé e do bom que é ter uma criança assim ao colo, adormecê-lo enquanto entoo o meu menino é de oiro, é de oiro fino, não façam caso que é pequenino, de José Afonso, e do bom, bom, que é ele sorrir para mim,

Ou poderia falar das rasteiras que a vida prega a quem menos espera, mostrando que, sobre todas as vontades, impera o imponderável, o inexorável poder das células que habitam o nosso corpo e que, de um momento para o outro, podem mostrar que, afinal não se está tão bem quanto se pensa e que, pelo contrário, se está é a braços com desafios de vida ou de morte, tendo que encontrar forças e coragens que não se supunha ter.

Ou poderia ainda falar das lutas profissionais, lutas, lutas, uma luta constante.

Ou poderia falar de tantas outras coisas.

Sobre cada uma dessas vertentes eu poderia falar, aprofundar, esquecer as demais. E talvez, consoante a perspectiva ou o tom, pudesse transmitir a ideia de que apenas essa vertente era relevante.


Mas prefiro nunca me esquecer que há esta multiplicidade -- que por cada mau momento numa das vertentes, vários bons momentos estão a acontecer nas outras, e que por cada susto que atravessa o nosso caminho, vários sorrisos nos espreitam nos caminhos que estão por vir, e por cada árvore que tomba, várias outras despontam, e que por cada uma que se mostra tortuosa, muitas outras têm uma coluna vertebral bem vertical, e que por cada íngreme vereda que temos pela frente, suaves planícies nos esperam. 

É certo que sou uma optimista e isso é coisa que nasce connosco. Li que as pessoas criativas são mais felizes e se calhar é isso que acontece comigo. Mas, enfim, sou como sou e não tenho que me desculpar por isso. Mas que não se pense que a minha vida, lá por eu a encarar assim, é feita a feitio para mim ou que tem apenas o lado solar. Não, tem também o lado lunar. Mas, sou assim: amando de tal forma a luz, o sol, a beira de água, amo igualmente a noite, o silêncio e quietude da casa adormecida. E se caio, levanto-me, e se me molho, seco-me. E etc.


E devia era estar a falar do 25 de Abril que aí vem e estou nisto, a deitar conversa fora. Moleza de noite de domingo.

Gosto de estar assim, tranquila, a televisão a passar um programa qualquer onde ouço falar em francês de La Fontaine, de Molière, de Fouquet, e não sei a que propósito falaram também poeta Adonis, e, ao mesmo tempo, a ouvir Yiruma e a escolher fotografias para aqui colocar, e a fazer o carregamento de um dos vídeos que fiz no sábado à tarde.
Ganhei-lhe o gosto... 
Não estranhem a voz ainda mais apanhada do que o costume. Estava deitada de barriga para baixo e a voz, volta e meia, ressente-se dos movimentos. Como verão, não consigo, mas não consigo mesmo, manter-me com voz bem comportada. Ao pensar que estava a gravar, poderia dar-me para estar concentrada e atilada mas, qual quê?, dá-me é para rir. Claro que o interlocutor também não ajuda. Bem que lhe peço para me fazer perguntas sérias mas é mais forte que ele. Aliás, comecei por querer fazer-lhe eu perguntas mas tive que desistir: a nenhuma pergunta encontrou qualidade suficiente para se dar ao trabalho de responder.

Aconteceu também outra coisa que não ajudou: estava sem espaço no telemóvel e os vídeos eram automaticamente cortados por insuficiência de espaço. Portanto, este que aqui poderão ouvir interrompe-se abruptamente. Depois deste, gravei mais uns três mas cada um a interromper-se antes de atingir 1 minuto. Uma coisa completamente anti-profissional, uma vergonha. Se tiver paciência, apanhã passo-os para o youtube. Mas, se não, como verão, também não se perde nada.

Agora uma coisa vos confesso: ao ouvir-me, reparo nos disparates que digo, palavras mal usadas, parece que começo a pensar dizer uma coisa e que depois, por algum estranho motivo, há uma inflexão que me leva a dizer outra coisa que deixa a frase mal alinhada. Vou passar a estar mais atenta enquanto falo. E aquilo do Camões até me deixa doente. Pensei que, mais do que dos Lusíadas, preferia outros poemas dele, estava a lembrar-me de alguns, mas fiz para ali um short cut e saíu um nonsense que eu deveria era nem publicar isto. Credo. Será que dá para apagar e fazer uma montagem?

Se para outra coisa não servirem estes vídeos, para além de nos divertirmos a fazê-los, servirão, talvez, para me ajudar a falar melhor, a pensar mais antes de falar. Minha mãe santíssima...!

E já agora: aquele livro da Maria Teresa Horta a que me referi como 'A mon seul désir' chama-se, afinal, 'A Dama e o Unicórnio'. Compreende-se a confusão: as palavras são praticamente as mesmas.

A referência ao facto de festejarmos a vida enquanto estamos os dois acordados tem a ver com um comentário muito divertido que há dias recebi.

Conversas em Família -- a UJM e o marido conversam sobre o que calha


Vídeo nº 1


Não se aprende nada com estes vídeos, essa é que é essa.

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Sobre as eleições em França, caso estejam para aí virados, podem descer até ao post seguinte.

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