Tenho ali ao fundo, no hall, sobre aquele móvel de portas de vidro -- que, lá dentro, está cheio de livros, fotografias, pequenas figuras, caixinhas, uma lupa delicada e várias ampulhetas -- duas pequenas jarras, estreitas, não do mesmo tamanho. As pequenas jarras estão ao lado uma da outra, num dos cantos do móvel. Em cada uma estão rosas vermelhas de pano. Mas tão perfeitas são que parecem mais perfeitas e frescas do que se fossem naturais.
Num outro móvel também com portas de vidro, um pouco mais alto do que o do hall, no corredor que vai desta sala para o hall, e onde se guardam livros e outras pequenas peças, tenho em cima, ao pé de uns candelabros de tamanhos incertos, duas pequenas jarras redondas. Em cada uma dessas jarras, tenho rosas de pano, estas rosas abstractas, umas em cinza claro, outras em rosa chá, outras em rosa champanhe. São delicadas.
A estas não tenho que deitar fora. Quando recebo rosas de verdade, deixo-as ficar até não resitirem mais, acaba por lhes cair as pétalas.
Gosto muito de rosas, tenham elas nascido da natureza, das mãos de alguém ou tenham elas sido, simplesmente, sonhadas. Ou sejam elas apenas palavras. Uma rosa é uma rosa é uma rosa.
Uma rosa é um daqueles muitos milagres da natureza. Uma rosa é um ser perfeito. O seu desenho harmonioso, as suas cores, o seu perfume, tudo é quase transcendente.
Todos os homens, alguma vez na vida, deveriam oferecer uma rosa a uma mulher. Todas as mulheres, alguma vez na vida, deveriam ser agraciadas com a delicadeza de uma rosa.
Já recebi muitas rosas. Durante um ano e alguns meses, a cada dia dez, recebi uma rosa. Depois disso, de vez em quando, mais rosas. Mas, quando recebo, penso sempre que vão ter um fim triste e fico com pena. Se alguém me disser, por palavras, que quer oferecer-me rosas eu fico mais contente do que se as recebesse de verdade. Só se fossem de verdade mas eternas.
E é por pensar que vocês, meus Caros Leitores, também gostam de rosas que eu aqui as deixo. São um presente meu, com carinho. As mulheres que as coloquem nas abas de algum chapéu branco ou no cabelo, ou tomem-nas nas vossas mãos. Farão parte de vós. Os homens recebam-nas também com carinho e usem a imaginação para sentirem o seu suave perfume. E digam baixinho, para que o som da vossa voz distante chegue até mim, como um sussurro imaginado: uma rosa é uma rosa é uma rosa.
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Não sei se faz sentido recomendar que desçam para saberem da tecnologia quântica pelo que não digo mais nada.
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http://xilre.blogspot.pt/2017/03/o-importante-e-rosa.html
ResponderEliminarE a Leitora sensível, culta, feminina e com sentido de humor...Rosa Pinto? Tem aparecido pouco! Venha daí um poema da sua escolha.
ResponderEliminarUau!!!
ResponderEliminarEstou aqui. Caro anónimo um beijo para si.
Bom fim de semana
Por teu livre pensamento
ResponderEliminarForam-te longe encerrar
Tão longe que o meu lamento
Não te consegue alcançar
E apenas ouves o vento
E apenas ouves o mar
Levaram-te a meio da noite
A treva tudo cobria
Foi de noite numa noite
De todas a mais sombria
Foi de noite, foi de noite
E nunca mais se fez dia.
Ai! Dessa noite o veneno
Persiste em me envenenar
Oiço apenas o silêncio
Que ficou em teu lugar
E ao menos ouves o vento
E ao menos ouves o mar. - David Mourão Ferreira. (ouvi esta quinta pelo Camané - e gostei (muito))