quarta-feira, dezembro 21, 2016

Não sei se a Beleza da Ciência ou Glenn Gould a tocar Bach têm alguma coisa a ver com a minha falta de tempo para me entregar ao espírito natalício.
Mas, se não tiverem, olhem, façam o favor de relevar; está bem?





Aproxima-se o Natal e eu ainda sem me apetecer colocar aqui votos e devotos cânticos festivos.

A verdade é que continua o de sempre: reuniões e mais reuniões -- e eu com uma disposição muito pouco benta. Muito trânsito, tudo cheio de gente, muito tempo para conseguir almoçar, muito tempo para estacionar. Consome-se uma vida nisto. Uma seca. Uma seca insuportável. A minha mãe, no outro dia, dizia-me que por causa disto é que muita gente larga a vida nas grandes cidades para ir viver para lugares mais pacatos. Percebo essa opção. Eu não faria isso mas percebo.

Por ora já me daria por feliz se conseguisse chegar mais cedo a casa, se pudesse começar a abrir os sacos que para ali estão no chão do que era o quarto da minha filha para distribuir os presentes por destinatários -- o que, até à data, ainda não consegui. É que nem sei se já tenho tudo. Para este, para aquele e para aqueloutro -- e já nem faço bem ideia do que é. Só abrindo a sacalhada e organizando. Não tenho nada embrulhado. Nem vou embrulhar. Dantes tinha uma trabalheira a fazer embrulhos, a pôr laços. Depois, ao dar os presentes, num ápice estava tudo cheio de papéis e fitas para deitar fora. Aboli essa parvoíce. Tudo dentro de sacos. Não sei se é ecologia se é contenção de esforços mas tanto faz. É assim.

Entretanto, há pouco, tendo acabado de me entreter com o Casanova, deitei mão a uma outra empreitada. Finalmente chegaram as fotografias que encomendei pela net. Como ontem, por mais um jantar, cheguei tarde demais a casa, foi o meu marido que as foi buscar. Uma caixa de cartão com uns quantos envelopes lá dentro. Para cima de setecentas. Sentei-me no chão e comecei a distribui-las em montes. Já está tudo distribuido. Mas ficou tudo no chão.


Agora a ver se ordeno cada monte por ordem mais ou menos cronológica para não dar tudo baralhado. tomara que amanhã consiga.
O tempo que eu levo com isto -- entre seleccionar, encomendar, distribuir, etc -- ninguém pode imaginar. Mas, enfim, é coisa que faço com gosto. Embora o que gostasse mesmo era de poder ter mais tempo para poder fazer estas minhas coisas com mais vagar. Mas, enfim, é o que é e, de resto, nem posso queixar-me pois mau mesmo era se tivesse tempo a mais, tédio a rodos e uma agonia por não ter o que fazer.
Também já esquematizei o que vou fazer para levar para as entradas do jantar (noutra casa que não a minha) e o que vou fazer de almoço no dia de natal que é cá em casa. Já tenho quase tudo mas há coisas que só na véspera é que poderão ser compradas. Gosto imenso de manter em suspense na minha cabeça o que vou exactamente fazer pois sei que é na hora que vou deixar a criatividade entrar em acção. Isso, sim, é prazer. Mil coisas ao mesmo tempo, umas em tachos, outras em forno, outras em preparação -- e a surpresa de ver o que vai sair.

No meio disto, tenho recebido mails gostosos de ler. Ainda só consegui responder a um, imagine-se. Um ex-colega meu, um de que aqui já falei, acho eu, e que me escreve simpáticas epístolas, daquelas grandes como eu gosto mesmo e que começam assim: 'Minha muito estimada Amiga', enviou-me notícias dos seus extraordinários projectos que envolvem a universidade e que têm tudo para se transformar num belo negócio. Fico sempre a modos que emocionada com o que se percebe ser o seu entusiasmo e, por isso, respondi logo. Mas tenho que, antes de natal, arranjar tempo para escrever a amigos, responder aos que me têm escrito e tenho uns quantos telefonemas para fazer. O pior é que alguns falam muito e eu vejo-me aflita para arranjar o período do dia em que posso falar sem ficar de pé, de um lado para o outro, ansiosa, sem ver jeito da conversa se extinguir e já meio enervada por saber que já estou a atrasar outras coisas.


Ainda no outro dia, e até foi com um familiar nosso que nos quis mostrar umas coisas lá suas: falou, falou, num empolgamento, mesmo contente por nos estar a mostrar tudo aquilo, e eu a ver que o meu marido já estava a ficar impaciente. E eu a ver também que já estava a ficar atrasada para os compromissos que ainda vinham a seguir. Mas se vejo uma pessoa a falar comigo, entusiasmada e feliz, não consigo atalhar e mostrar desinteresse. Então, interajo minimamente. O meu marido diz que dou troco e que, se eu me deixasse estar calada, a conversa dos outros acabava mais depressa. Mas não consigo. Ele não. Toda a sua postura corporal mostra que está no ir e não abre a boca ou, se abre, é para dizer que temos que ir andando.

Nada a fazer. Eu não consigo.

E, portanto, sabendo desta minha dificuldade, ando, ando e deixo quase para a véspera para fazer telefonemas que não posso deixar de fazer.

Podem, portanto, imaginar a pachorra que tenho quando, querendo ter algum tempo livre, me vejo enredada em reuniões e mais reuniões, trânsito e mais trânsito, carros em segunda fila quase nos impedindo de passar, restaurantes a deitar por fora, e o tempo a passar e eu sem chegar a casa a horas razoáveis.

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Quanto à política nacional, não sei de nada. Lá por fora, atentados e desastres. Não tenho disposição para falar disso. Mesmo que quisesse falar de coisas mais importantes, a falta de assunto e o meu estado de espírito, impedir-me-iam de alinhar umas declinações bem escovadas.

Portanto, peço-vos desculpa por todo este arrazoado mas não me ocorreu dizer nem uma coisinha que valesse a pena ter gasto tanto do vosso tempo.

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Para isto não ficar tão coitadinho, entremeei umas fotografias espertas. As três primeiras são imagens macroscópicas de precipitações de hidróxidos e a última mostra um tomate (do reino vegetal, acho eu de que) submetido a alta voltagem.

E para a coisa ficar mais compostinha junto-lhe, a seguir, um vídeo muito bonito e que até é uma estupidez aqui estar, devia estar isolado para ser melhor apreciado: uma animação about why humans are driven to uncover the secrets of the world through 4 scenes: the room of knowledge, the neutrino detector, the DNA, and the cosmos.

Quer as fotografia, quer o vídeo provêm de Beauty of Science.

E, atentado por atentado, enquanto escrevia tão banalésimo texto, deixei-me estar a ouvir Glenn Gould - Fuga em Mi Maior - Cravo Bem Temperado ◦ Bach que resolvi aqui colocar para partilhar convosco.

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Prospects VR Travel


We keep pushing the limits to learn about the ultimate truths of the physical world. And we are unlocking the secrets of life at an unprecedented speed. We will not stop because we always hope that our deeper understanding of the natural world and ourselves will prepare us to find a new home in the vast Universe.


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Talvez vos possa agora recomendar uma espreitadela a uma vida bastante interessante: Casanova.

É já a seguir.

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4 comentários:

  1. Olá JM, está boazita? Sim, já li que atarefada, mas isso é de sempre. apreciei o tomate seja ele chucha, normal ou de outra qualquer qualidade, está fixe. O resto das fotos prefiro ignorar o que são e pensar outras coisas. Mas é indubitável, os fumos da ciência são de qualidade e espraiam beleza.

    Pois. Não faça embrulhos, sai económico e é ecológico, não perde tempo e é mais fácil para quem recebe - também suja menos a casa e dá um quarto do trabalho arrumar. Digo eu que embrulho tudinho por pensar que o prazer começa no tirar da fita cola.
    E mais quê? Pois não sei, que nunca mais sai dessa empreitada de carros e corropio de almoços e mais de quê, setecentas fotos?! Vai dar uma a cada like do face ou distribui mesmo por aqui também... ou dá um conjunto de vinte a cada amigo. E não tenho nada com isso. O pianista também é supimpa, todo revirado. Diz o google que é excêntrico. Não acredito.

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  2. Hoje, quando voltei a passar no Chiado, tendo parado no “By the Wine” para um almocinho leve (têm bom vinho a copo e barato também), ali na Rua Ivens, dei ainda um saltinho à FNAC e ali estive a ver e folhear uns livros. Procurava um, de que ouvira falar, recentemente, numa estação radiofónica e me interessou de imediato, a “Correspondência 1946-1978 entre Jorge de Sena e Eugénio de Andrade”. 26 e coisa euros.
    E, naquele momento, lembrei-me de si. E se a conhecesse era livro que arriscaria oferecer-lhe (muito raramente ofereço um livro para não correr o risco de quem os recebe não o apreciar e não o ir ler, no que está no seu pleno direito – penso o mesmo), pois, julgo (?) que era capaz de o gostar de ler. Assim sendo, fica a intenção.
    Passe um Bom Natal, com a família e com boa disposição!
    P.Rufino

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  3. Olá bea,

    Faz-me rir com a sua frontalidade.

    Eu explico isto da caixa repleta de fotografias. Tenho uma família grande e nas festas sou a fotógrafa de serviço. Por isso, só a oferecer fotografias a quem foi fotografado nessas ocasiões já lá vai um montão delas. Depois aos filhos, à mãe da minha nora, à minha mãe, à minha sogra, aos irmãos da minha nora, e demais familiares... e já lá vai outro montão. Depois para mim própria. Acho sempre que são as que ficam, as fotografias em papel.

    Amigos dos likes não que não tenho facebook.

    Um smile e um like para si, bea.

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  4. Olá P. Rufino,

    Ainda no outro dia passei na By the wine só que tinha acabado de almoçar. A ver se um dia destes lá vou petiscar.

    E essa sua aposta estaria correctíssima só que pecaria por tardia: já tenho o livro e tem razão: gosto muito. Ler correspondência entre gente inteligente é um prazer.

    Um bom Natal também para si e para os seus. Que sejam dias de harmonia e felicidade.

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