Queridos Leitores,
Gostava de saber que estão bem.
Uma de vós escrevia-me e contava-me das suas insónias persistentes, de uma depressão que a paralisava. Uma outra contava-me do problema grande com a filha e outro igualmente grande com o filho. E outra contava-me as suas aflições com uma mãe cuja mente se afastava para mais longe do mundo. Um outro contava-me da sua tese e da dor de cabeça para arranjar motivação para a prosseguir. E outro trazia até mim as suas memórias da guerra. E outros e outros. Alguns deixaram de escrever e eu não sei se estão bem. Alguns ainda me escrevem e outros aparecem para me dizer que eu os surpreendi ao falar de alguma coisa muito sua. E eu a todos tenho faltado porque deixo tantas, tantas respostas por dar.
Muitas vezes não tenho tempo, outras não quero criar a ilusão de uma proximidade que não teria como manter. Mas fica-me sempre a pena de não poder chegar a todos quantos me estendem a mão.
Não é só a minha disponibilidade ser tão escassa, é também eu estar tão longe da perfeição. A minha resposta às vossas solicitações fica, pois, muito aquém da que de mim esperam e da que eu sei que vos seria devida.
Tento compensar, levando-vos um pouco de mim nas minhas palavras mas é fraca compensação. As palavras querem-se um abraço, uma ponte e a quem me procura eu deveria dar-me a encontrar.
Deixem que para parecer que estou mesmo a falar com cada um de vós, em particular, vos conte como foi o meu dia 1 de Dezembro, felizmente de novo dia feriado.
Foi assim.
Pensava que podia dormir até mais tarde mas, de manhã, acordei com o telefone a tocar. O meu marido tinha saído, tive que me levantar para atender. Era um senhor que vinha fazer um arranjo e que tinha ficado de vir a partir das onze da manhã. Afinal, ligou às nove para confirmar a morada. Já não consegui voltar a adormecer.
Aproveitei para arrumar umas coisas, fazer pagamentos no computador, etc. Entretanto, chegou o meu marido e logo depois o senhor.
Quando ele se foi embora, saímos também. Fomos caminhar para a beira da praia. Devagar para eu poder ir fotografando.
Estava maré baixa mas via-se que as marés estão longas pois a água, na maré cheia, subiu ao paredão e a estrada cá em cima, nalgumas zonas, está cheia de areia.
Como poderão ver, as ondas estavam vigorosas, felizmente indomáveis.
Muita gente a fazer surf e a andar sobre as águas. Fico fascinada. Podia passar um dia a caminhar de um lado para o outro, a olhar o mar, a fotografar estes cavaleiros do mar que ora saltam por sobre as montanhas ora deslizam sobre reluzentes planícies.
Já perto da hora do almoço, cá em cima, muitos jovens despiam o fato de andar na água e vestiam a roupa normal. Ficavam meios vestidos e andavam por ali, tranquilamnete, como se fosse verão, aparentemente sem frio.
Depois fomos almoçar ao grego. Sempre bom. gosto de tudo mas, em especal, da salada de manuri com alface, pera cozida, nozes e tempero de vinho doce.
A seguir, mais um beve passeio, mais algumas fotografias.
No regresso, começou a dar-me o sono mas o meu marido lembrou que talvez fosse boa ideia ir despachando a compra de presentes. Concordei. É que não apenas há os nossos presentes e, quando a família é relativamente grande, têm que ser muitos como, em alguns casos, sou também eu que compro o que a minha mãe vai dar. Ela compra muita coisa mas, em alguns casos, por não saber bem o que se pretende, não quer arriscar.
Estava muita gente. Cansa-me muito andar em sítios com muita gente. Com sono, calor e impaciência, para o fim já tudo me era insuportável. Felizmente, já não falta muita coisa.
Quando cheguei a casa, tomei um belo banho. Depois fiz um chá de erva cidreira e vim para este meu sofá. Peguei na Paula Rego por Paula Rego e na Gorda da Isabela, acomodei-me. Li um bocado de um, um bocado de outro. Depois adormeci. Acordei a sonhar que a despensa estava vazia e que eu e o meu marido estavamos muito admirados porque só podia ter sido assalto mas não percebíamos como é que alguém assaltava uma casa para roubar o conteúdo de uma despensa.
A seguir, já acordada, passei as fotografias para o computador, falei ao telefone com os meus filhos e com a minha mãe. Depois jantei e, a seguir, eu e o meu marido estivemos na conversa. A seguir, ele pôs-se a fazer zapping e, passado um bocado, adormeceu e eu, enquanto isso, pus-me a escrever esta minha carta que não é bem uma carta, é mais um página de um diário.
E foi isto. Talvez tenham ficado algumas coisas por dizer. Não contei, por exemplo, que estive a arranjar um colar. No outro dia, quando cheguei a casa à noite, começaram a cair-me pérolas -- o chão à minha volta a encher-se de pérolas que saltavam, numa euforia, e eu impoente para impedir que, uma a uma, todas seguissem o mesmo percurso. Gosto de usar um colar comprido de pérolas e rebentou-se o fio. Só pensava o que teria sido se fosse na rua ou numa reunião. Assim, sendo ali no hall de entrada, fui buscar uma pá e vassoura e resgatei-as a todas. Agora o colar já está refeito.
Os dias, quando decompostos nestas suas pequenas parcelas, ainda parecem mais o que, de facto, são: banais. Mas, quando chegam ao fim e a curva da noite já os levou para o dia seguinte, eu penso que gosto de dias assim, tranquilos.
E não vos maço mais. Espero que esta minha carta vos encontre, a todos, de boa saúde e com bom ânimo.
Se pudesse, mandar-vos-ia um saquinho de figos secos ou uma caixinha com dióspiros. Como não posso, deixo-vos com a leitura de uma carta. Dizem que, numa escolha feita não sei onde, foi considerada a melhor carta de amor de sempre. Não sei classificar cartas de amor pelo que não me pronuncio. Mas partilho-a convosco pois soa-me familiar já que é também de coisas simples que Johnny Cash fala à mulher, June Carter, no dia do seu 65º aniversário.
Recebam um afectuoso abraço e saibam que agradeço a vossa presença aí desse lado.
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Lá em cima era justamente este casal, Johnny Cash & June Carter Cash, interpretando You're a part of me
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Mais abaixo há mais mas de outro género. Paulo Macedo e Santana Lopes, na crista da onda mediática. Com mulheres com asas à mistura.
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Desta vez não conto o meu dia que, como quase todos os outros, foi bem quieto. E bastante improdutivo. Digamos que preguicei sem mas nem mas.Nem um pé fora de casa, nenhuma criatividade. Amodorrei num amorfismo anacrónico.
ResponderEliminarPois é mesmo assim, a net cria uma falsa proximidade que faz falta desmistificar para, como diz, não enganar ninguém. A JM é apenas honesta. Porque imperfeitos, dê cá a mão. E, escrevendo os seus dias, sempre passa um cheirinho de ser pessoa:). Na volta, leva com mais uma catrefada de mails confessionais à conta da escrita diarística.
E tenha um dia bom mesmo que chova. Sejamos nórdicos: a água molha mas também lava e para as constipações ainda existe remédio. E avante com esses passeios à beira-mar. Passeie por nós, os que o gostam longe do olhar. E vá escrevendo os seus dias que distrai o eu que mora em cada um. Incluindo o seu.
PS: a menina à beira mar parece uma sereia:) deve ser pela posição dos pés. Não interessa, captou. Parabéns.
Pois encontrou. e gostei de a ler.
ResponderEliminarTudo bem.
cá tenho os figos. obrigatórios. com umas amêndoas.
o dia foi calmo. adoro dias calmos. sem obrigações, sem chatices. hoje deu-me para comprar pijamas e um novo roupão. giros.
tenho o coração cheio de teatro e concertos. almoços no chiado. não tenho lido.
tenho gerido bem o tempo. fujo a sete pés do que não me importa. fiz três riscos (pequenos) no carro - nada grave. programei umas obras na casa de banho.
sempre que posso vou ver o tejo.
et voilá.
beijo para si
Olá UJM,
ResponderEliminarGosto sempre de a ler.
Nem sempre o faço, nem retribuo a gentileza comentando, porque a UJM escreve mais depressa do que eu consigo ler, e sou constantemente ultrapassada por si! Razão pela qual decidi lê-la de quando em vez e de enfiada, e assim mitigar o efeito do meu lento arranque e aproveitar a aceleração própria de quem já está em plena corrida!!!
Comigo anda tudo bem. Faço tudo o que posso para ter uns bons dias (como todos, acho!), e lá vou conseguindo graças a Deus!
Bjs e que mantenha sempre essa energia, para que eu ao lê-la, não me esqueça de meter a quinta (ou a sexta, conforme o modelo do carro). Rita