Fim de semana tranquilo. Chove e eu gosto de ver e ouvir a chuva. O campo está fértil, o musgo começa a aveludar a terra. Por onde passo, ouço o sobressalto dos bichos, o esvoaçar apressado dos pássaros por entre a folhagem. Depois aquietam-se, percebem que sou eu, a mulher-bicho que por vezes se ausenta mas que sempre volta, porque este pedaço de terra é a sua casa.
O medronheiro oferece-me os seus doces frutos. Desfazem-se-me na boca, pequenos pedaços de carne sumarenta a saber a mel. E oferece-me também a graça das suas flores, cachos de pequenos balões brancos.
A serenidade sabe-me tão bem. Não me lembro do que vivi durante a semana. Essa é outra. Eu sou esta.
Vou passando, passeando e noto que o me mais atrai o meu olhar é o que mostra a passagem do tempo. Os ramos agora quase nus, a patine dos muros, o pó que se entranha nos azulejos. Não tenho vontade de os limpar. Também não tenho vontade de esticar a minha pele. Acho que o tempo acarinha a natureza, traz-lhe beleza. As cores misturam-se com as memórias numa simbiose perfeita.
E o frio, que me sabe tão bem, dá-me também vontade de ir para dentro, tapar-me com uma manta, pegar num livro, comer chocolate, diospiros, beber um chá quente e inaugurar o calor da lenha na salamandra.
Por onde passo, o chão está atapetado de caruma e folhagem. Há arbustos com bagas amarelas, cor de laranja ou encarnadas. Tudo me encanta. Onde outros verão um matagal à solta, vejo eu a harmonia da natureza.
Não penso nunca na vida depois da morte. Mas penso muito na vida antes da morte e penso e sinto como é bom sentir o privilégio de me achar dentro do paraíso.
Ouvir os pássaros, ver as cores das folhas, a dança dos ramos das árvores ao som do vento, olhar o deslizar da névoa do horizonte até ao céu, contemplar a delicadeza das flores, ouvir o musicar da chuva -- é para mim uma felicidade que é difícil explicar.___________________________________
Elvis Costello interpreta Days
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana -- a começar já por esta segunda-feira.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana -- a começar já por esta segunda-feira.
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a felicidade ou mesmo o bem estar não se explicam, sentem-se e basta. Foi isso que a JM andou fazendo.
ResponderEliminarJeito Manso: de certeza já sabe que o Paraíso fica sempre à sombra da Árvore da Sabedoria... Um forte abraço.
ResponderEliminarOlá bea,
ResponderEliminarÉ verdade. Uma paz de espírito tão total como se tivessem sido varridos para bem longe de mim todos os momentos de cansaço e stress, como se apenas a tranquilidade da natureza me acompanhasse.
Obrigada pela compreensão que as suas palavras revelam.
Dias felizes também para si, bea.
Olá Abe,
ResponderEliminarSerá mesmo? Não é a Sabedoria inibidora da felicidade? O Saber não nos leva para a casa de todos os lamentos?
Seja como for, o forte abraço já cá canta. E eu agradeço-o.