Não caí de amores por Elena Ferrante.
Gostei, apreciei a qualidade da escrita muito terra a terra, a descrição das pequenas coisas, os pensamentos perversos que felizmente ninguém escuta mas que moldam as acções comuns, a pequena história, o quase nada que vai desenhando o caminho. Notei a rédea curta com que gosta de levar o leitor, sempre a manter a vontade de saber o que vem a seguir, e os dias passando, e a vida dos personagens acontecendo, pequenas misérias, grandes vitórias, inconfessáveis sentimentos. Apreciei, é verdade. Mas em momento algum me senti deslumbrada ou agarrada.
Passo agora pelos livros dela, em todos os escaparates, em todas as livrarias, e nem sei bem se aquele é um dos que me falta ter ou se é um dos que tenho em casa ainda por ler. Sinto que será até heresia confessar esta minha quase indiferença. Mas é verdade.
Acresce o mistério. Quem é Elena Ferrante? Ninguém sabe. Ela mesmo diz que isso não interessa, o que interessa são os livros que escreve. Diz-se mulher, nascida em Nápoles. E, se querem conhecê-la melhor, que comprem os seus livros.
Gostei, apreciei a qualidade da escrita muito terra a terra, a descrição das pequenas coisas, os pensamentos perversos que felizmente ninguém escuta mas que moldam as acções comuns, a pequena história, o quase nada que vai desenhando o caminho. Notei a rédea curta com que gosta de levar o leitor, sempre a manter a vontade de saber o que vem a seguir, e os dias passando, e a vida dos personagens acontecendo, pequenas misérias, grandes vitórias, inconfessáveis sentimentos. Apreciei, é verdade. Mas em momento algum me senti deslumbrada ou agarrada.
Passo agora pelos livros dela, em todos os escaparates, em todas as livrarias, e nem sei bem se aquele é um dos que me falta ter ou se é um dos que tenho em casa ainda por ler. Sinto que será até heresia confessar esta minha quase indiferença. Mas é verdade.
Elena Ferrante vende livros como pãezinhos quentes, a crítica é unânime, os leitores são devotos, a Time Magazine nomeou-a como uma das 100 personalidades mais influentes do planeta -- e o culto instalou-se. Por cá, só faltava mesmo o omnipresente e omnisciente Marcelo recomendar a Costa a sua leitura para que quem andasse distraído espevitasse as orelhas.
Acresce o mistério. Quem é Elena Ferrante? Ninguém sabe. Ela mesmo diz que isso não interessa, o que interessa são os livros que escreve. Diz-se mulher, nascida em Nápoles. E, se querem conhecê-la melhor, que comprem os seus livros.
Sobre isso já aqui falei e não posso estar mais de acordo. O nome verdadeiro de quem escreve ou a sua vida pessoal é-me completamente indiferente. Gosto de ler entrevistas a escritores ou gosto de os ouvir falar sobretudo pelo processo de escrita ou sobre como processam a realidade para a transformarem em literatura. Agora se têm quarenta ou setenta anos, se têm ou gostavam de ter filhos,
-- como aquele Valter Hugo Mãe que por aí anda há anos a dizer que gostava de ter um filho. O que é que a gente tem a ver com isso? Há anos que dura esta conversa. Até já houve quem se tenha oferecido para engravidar dele. E ele nisto. Agora que trocava os livros que escreveu por um filho. O meu marido hoje, no gozo, dizia que, se calhar, ele quer é ser ele mesmo a tê-los, a engravidar. Na volta é. Caraças. Conversa da treta a do Valtinho --
se o nome de nascimento é aquele ou outro ou se são de famílias ricas ou pobres, se vivem em Lisboa, Paris ou Freixo de Espada à Cinta -- isso não me parece que tenha qualquer relevância quando apreciamos uma obra.
Mas a vontade de privacidade de alguns aguça a curiosidade de outros. E desde há muito que muita gente andava a ver se descobria a verdadeira identidade de Elena. Talvez o tenham conseguido.
Trancrevo do DN:
(...) apesar de todo o secretismo, Claudio Gatti afirma ter descoberto quem é a verdadeira Elena Ferrante: Anita Raja é uma mulher, tem 63 anos, vive em Roma e é tradutora de alemão, trabalhando habitualmente com a Edizione E/O - a editora dos livros de Ferrante. Raja é casada com o escritor napolitano Domenico Starnone - curiosamente, ele próprio já foi apontado como o verdadeiro autor das obras assinadas por Ferrante.
De acordo com o porta-voz da editora, Anita Raja é uma tradutora em regime de freelancer e não é uma empregada da casa. No entanto, segundo descobriu o jornalista, os pagamentos que a editora lhe tem feito aumentaram "dramaticamente" nos últimos anos.
The New York Times deu o mote: Who Is the Real Elena Ferrante? Italian Journalist Reveals His Answer
The Guardian destaca: Elena Ferrante: literary storm as Italian reporter 'identifies' author
E o La Repubblica: "Elena Ferrante è Anita Raja": svelata l'identità della scrittrice dell'"Amica geniale"?
Para que os leitores a possam 'conhecer', as notícias referem o vídeo em que, em Dezembro de 2015, Anita Raja aparece na sua qualidade de tradutora. Seja Anita a misteriosa Elena Ferrante ou não, gostei de a ouvir falar e, por isso, partilho-o convosco tal como partilho o respectivo texto de apresentação:
Anita Raja
LITERARY TRANSLATOR AND DIRECTOR, BIBLIOTECA EUROPEA, ROMA
Nata a Napoli, vive e lavora a Roma. Ha tradotto dal tedesco gran parte dell'opera di Christa Wolf, Il processo di Franz Kafka, testi di Jakob e Wilhelm Grimm, Irmtraud Morgner, Helga Königsdorf, Ingeborg Bachmann, Bertolt Brecht, ecc. Sono in corso di pubblicazione presso l’editore Einaudi la traduzione di Fratelli di sangue di Ernst Haffner e de La morte di Danton di Georg Büchner. Ha pubblicato articoli e saggi sulla letteratura italiana e tedesca e sui problemi relativi alla traduzione. Nel 2007 ha vinto il Premio italo-tedesco per la traduzione letteraria, assegnato dal Ministero degli Affari Esteri tedesco e dall’Incaricato del Governo federale per la Cultura e i Mass Media in collaborazione con il Goethe-Institut.
NYU Florence - Anita Raja: La traduzione come pratica dell'accoglienza
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Seja como for, os editores devem agradecer a notícia pois ela fará, certamente, aumentar a curiosidade e fazer vender ainda mais livros. E ela provavelmente ficará muito bem calada ou então responderá que a curiosidade matou o gato.
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E queiram, por favor, descer pois abaixo fala-se de Lavoura Arcaica, um grande livro do nosso Camões 2016.
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Pois eu concordo com a Elena. Vejam-lhe e escrutinem-lhe a prosa e basta. Vi o vídeo da que é supostamente ela e acho-o bem menos interessante que os livros, até por dissertar sobre a actividade de tradução. Gostei dos livros sem exageros - mas comprei os quatro e sim, a curiosidade mordia-me um bocado - e nem sequer me interessa a sua identidade ou o que faz realmente para lá da escrita.
ResponderEliminarValter Hugo Mãe gosta de dizer coisas. Mas escreve bem o suficiente para lhe aguentarmos as pretensões que não o são verdadeiramente, como essa de ter um filho. Quem quer mesmo ter um filho põe-no além do apetite.
notou-se logo, mal se soube - http://www.jornaldenegocios.pt/cotacoes.html
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