domingo, julho 10, 2016

Palavras lidas





Do sonho e da noite, das palavras e das luzes que se escondem, dos lugares nunca vistos que atraem como admiráveis abismos, do desconhecido que se acerca como um corpo sedento, do que não se diz mas que queima, do que atravessa os horizontes para se abeirar como um bicho louco, do que não tem nome, nem forma, nem nada, nem nada, nem nada -- de tudo isso eu me sinto próxima.

Paredes gastas, casas decadentes, lamentos, intangíveis carícias, o sopro fresco da lua que me chega das negras águas, os gritos loucos das gaivotas que hoje parecem gatos com cio, caminhos infinitos, sons que vêm de longe, palavras, palavras, vozes que atravessam o espaço, loucuras, negações -- de tudo isso eu me sinto próxima.

Páginas lidas, recantos percorridos nas quentes noites de verão, ilhas longínquas, grutas, labirintos, segredos, afectos, flores, luzes, cores, frutos, orações silenciosas, silêncios, silêncios, o pó das estrelas que em mim e em ti pousa, e a intimidade e a estranheza -- de tudo isso eu me sinto próxima, tão próxima.



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A música que se ouve é de Vincenzo Bellini na voz de Anna Netrebko: de I Puritani - Qui la voce sua soave

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A voz, Caros Leitores, é o que é. Não a reconheço mesmo e já resolvi gravar-me a dizer mal do Durão Barroso ou do láparo a ver se ganha mais corpo. O meu marido recomenda-me que não o faça, diz que para ler poesia ou trechozinhos destes ainda se desculpa mas para desancar em quem que seja que não me meta nisso, que descredibilizo o blog, que toda a gente vai perceber que não sou eu que o escrevo, que levo o Um Jeito Manso à falência em três tempos, ninguém mais me levará a sério. Por isso, não sei o que faça.

Por enquanto, enquando não me resolvo a exprimir a minha opinião sobre o cherne Sachs com a minha voz angelical (é verdade, é verdade), queiram lê-la com palavras em estado bruto no post já a seguir.

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E já cá volto com um momento único: os sons ao vivo da barafunda que, até há pouco, aqui reinou.


1 comentário:

  1. Eu gostei da sua voz. Que aliás prefiro à de sua filha, parece-me mais sentida e como o poema indica, próxima. Mas concordo, não é grande coisa para desancar. Cada um tem a voz que tem, aproveite-a já que serve para mais alguma coisa que falar apenas.
    E parabéns.

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