Bom, o prometido é devido e, depois da divertida campanha publicitária contra a utilização de telemóvel enquanto se conduz que poderão ver no post abaixo, dou-vos conta do segundo lugar onde fui, muito rapidamente, no sábado. O primeiro, talvez já tenham visto, foi a Pensão Amor, antigo lugar de má vida e hoje um lugar enigmático e, em parte, acolhedor.
Como vos contei, ontem estava muito apanhada, presumo que uma gripe ou virose daquelas que os mais pequenos apanham na escola e que passam aos adultos, deixando-os KO. Desta vez fomos três ao tapete, uns mais que outros, mas ainda assim, tramado. Hoje já estou um pouco melhor, menos frio, sem aquela dor de cabeça que até me deixava agoniada, sem aquela necessidade entorpecedora de me deixar estar deitada, mas ainda com o corpo meio dorido, meio cansada. Mas melhor. Portanto, bola para a frente.
Então, depois do Cais Sodré, apetecia-me ir até a um miradouro, talvez o da Graça. O meu marido disse que não haveria lugar para o carro e, no estado em que eu estava, mais valia nem tentar pois não seria capaz de andar muito a pé. Lembrei-me, então, de passar pelo das Necessidades, coisa simples, só uma espreitadela já que também não devia haver lugar para estacionar e ele ficaria no carro enquanto eu espraiava a vista pelo casario e pelo Tejo. Mas arranjámos lugar e, então, ele lembrou-se de darmos um passeio ao de leve pela Tapada, coisa mais na base da espreitadela. E assim foi. Mais ou menos.
Mas, se estiverem de acordo, vamos com Agnes Obel: Dorian
Palácio das Necessidades (onde funcionam serviços do MNE) À esquerda, a Capela onde decorria uma missa (razão pela qual não a fotografei) |
Numa porta lateral, este enigmático papel: Comunicação Autêntica (entre pf) |
Não entrámos, apesar de sermos autênticos quando comunicamos; e dirigimo-nos, então, para o portão da Tapada que é mesmo ao lado.
Uma pessoa às vezes até se esquece destas maravilhas que tem ao alcance dos seus pés -- dos pés e dos sentidos. Não se paga para lá estar: é uma bênção à nossa disposição.
Bonitos e tão tranquilos, estes gansos, absortos na sua actividade de ser |
É um jardim amplo, com 10 hectares, bonito, inesperado no meio do bulício que é o movimento dentro da cidade de Lisboa.
No entanto, tirando um grupo de jogava futebol num amplo relvado, de uma senhora que, por lá, passeava o seu cão, e de um grupo de jovens mulheres que, numa mesa, festejava o que me pareceu o aniversário de uma delas, não se via vivalma como, de resto, é habitual em Portugal, em lugares assim.
Um relvado enorme: não será o ideal para o futebol - digo eu, já que não é plano - mas, nem por isso, o grupo estava menos animado |
O pior é o resto: tudo o que é edificação (salvo uma excepção de que já falo) está com ar abandonado, a carecer de reparação e, sobretudo, de utilização.
A estufa - ou o edifício onde em tempos houve uma estufa |
Mais adiante, um espaço vedado com pequenos edifícios cor-de-rosa degradados chamou a minha atenção. Aliás, pasmo sempre com a falta de cuidado que os portugueses põem naquilo que é uma maravilha e que, em qualquer outro país estaria cuidado e seria valorizado. Li que a Câmara ainda não tem ideia concreta do que fazer mas pretende lançar um concurso par reabilitar e dar utilidade a alguns dos edifícios. Tomara. Os empresários portugueses, para além de serem quase inexistentes e de estarem, quase todos, tesos, não têm o hábito de financiar a reabilitação e a exploração de lugares públicos de qualidade. Não têm mas deviam passar a ter. A Cultura é a cola que ajuda a sedimentar a cidadania, a soberania. E as actividades de mecenato dignificam quem o pratica (para além de representar algum alívio fiscal) e, mais do que relatórios de responsabilidade social que são vazios de significado, implantam as empresas no tecido cultural e social dos lugares.
Deveria, pois, ser prioridade absoluta reabilitar edifícios e jardins públicos dos quais os cidadãos possam usufruir. Em lugares assim deveria haver exposições, concertos, teatros, actividades lúdicas e culturais.
Não apenas atrairia turismo como chamaria os portugueses que mais parece que preferem ficarem fechados em casa do que conviverem uns com os outros, ao ar livre, em contacto com a natureza.
Penso que foi neste conjunto de edifícios que chegou a haver um jardim zoológico. No site O Voo do Corvo li:
Aí, em seis torreões rodeados por gradeamentos de ferro, eram albergados animais, como aves raras e macacos, "mandados vir de diversos lugares propositadamente para este local por D. Fernando II, para desenvolvimento dos conhecimentos sobre fauna dos príncipes D. Pedro e D. Luís". A explicação é de uma nota camarária, que sublinha a "enorme importância histórica" de que este conjunto, erguido entre 1848 e 1856, se reveste.
Mais acima, finalmente um edifício bem arranjado. É a Casa do Regalo que foi reabilitada e onde Jorge Sampaio trabalha. Dado que fica mesmo no alto da tapada e que eu já estava cansada e cheia de dores nas pernas (não sei que diabo de virose foi esta que me provocou dores nas pernas e nas ancas), não fui mesmo lá perto. Terei que voltar para visitar tudo com mais tempo. A Casa está cercada por um jardim bem cuidado e foi por aí que me fiquei.
A Casa do Regalo, situada no topo da Tapada das Necessidades, entre frondosa mata, hoje algo desordenada, cerca do antigo Picadeiro ( onde se encontra o moderno edifício-sede do Instituto de Defesa Nacional), teria sido mandada construir pelo rei D. Carlos I, após subir ao trono, em 1889, destinada a estúdio de pintura da rainha D. Amélia (1865-1951) (...) |
No site do Sistema de Informação para o Património Arquitectónico pode ler-se informação detalhada sobre a Tapada das Necessidades. Mas até nisto, senhores, o cuidado não é muito: a letra é miudinha e o texto compacto, custa a ler. Parece que alguém ali colocou tudo o que havia para saber sobre o lugar e para ali ficou o texto, a ganhar pó.
A falta de cuidado e carinho que as instituições culturais põem na preservação e divulgação do nosso património está patente em todo o lado. Falta de dinheiro, talvez, pouco pessoal, desmotivação, não sei. Mas, sobretudo, uma deficiente alocação de recursos, consequência de uma deficiente atribuição de prioridades.
Depois iniciámos o caminho descendente, a caminho da saída. Chovia. Os gansos tinham-se abrigado sob uma palmeira. Aos poucos foram-se-lhes juntando pombos. Felizes os seres que tão tranquilamente assim vivem.
E, a caminho do portão da saída, apesar do frio e da chuva, ainda fotografei o cata-vento. Mas, como sou discreta, completamente avessa a exibicionismos (mesmo sabendo que os cata-ventos tendem a gostar de protagonismo), fotografei-o meio camuflado. Cherchez le cata-vento, mes amis.
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E queiram agora fazer o favor de descer até ao post seguinte, para que fiquem sensibilizados em relação aos riscos de esticar a mão para agarrar o telemóvel quando vão a conduzir... e, ao vosso lado, vai alguém... Ui.
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Até já.
Olá Jeitinho,
ResponderEliminartenho um amigo que fazia as festas de aniversário do filho na tapada. É muito bonito, mas tem um problema, para além do abandono, o w.c é só para utilização da pessoa que está na entrada, então com miúdos era um sarilho para irem á casa de banho. Houve amigos que apresentaram queixa á Junta de freguesia, que empurrou para a câmara, por não ter orçamento.
Beijinhos Ana
Para evitar a subida pode sempre entra pelo portão da Rua do Borja e fica logo cá em cima.
ResponderEliminarOlá Ana,
ResponderEliminarPois, tem razão, não deve ser fácil...
Coisas tão simples e que falham. E o lugar é tão bonito.
Beijinhos, Ana. Gostei de 'revê-la'.
Olá Caro Anónimo/a,
ResponderEliminarNão sabia. Para a próxima será. Obrigada!