terça-feira, abril 12, 2016

Mande-me, se faz favor, um PDF


Os meninos por vezes perguntavam o que é que eu fazia. Tentava explicar mas, para eles, era coisa intangível: reuniões, telefonemas, escrever no computador, mandar e receber mails, visitas. Cenas que mais parecem uma brincadeira do que um trabalho. Pois. Mas é tanto pepino que uma pessoa se esvai e nem dá pela brincadeira. São macacos uns a seguir aos outros, todo o santo dia com macacos encavalitados em mim. 
Dantes era o pepino. Agora a moda é falar no macaco. Ah e tal, lamento, não te quero maçar mas tenho aqui um macaco para ti. Ou então, Olha, só por causa disso já vou é atirar o macaco para trás das costas. Ou Estou para aqui sem saber como dar conta disto, tamanho o macaco que me puseram ao colo.
Agora por macacos, até me estou a lembrar daquela que nem sei se já não contei aqui. Conto na mesma. Um colega nosso da fama não se livrava. Entre eles, homens-machos, referiam-se ao outro como a Claudette ou, então, como a concièrge, 'amiga' do leva e traz. Uma vez, numa reunião em que ele não estava, todos com risinhos e a falarem no Horácio. E eu, pelo tom, já a ver que naquele mato havia coelho. Quem é o Horácio?, perguntei. Risotas. Diz um, o mais afoito: 'A si conto-lhe tudo mas esta não dá.' Deve ter visto a minha cara decepcionada porque, logo de seguida, resolveu levantar o véu, mas só um bocadinho 'Só lhe digo que o Horácio é um macaco'. Risota dos outros. E ele 'E que a sua amiga ia gostar'. Vi logo tudo. A minha amiga era o nosso colega, era assim que eles se referiam ao outro quando falavam comigo. Tudo desmanchado a rir, uma galhofa. Não adiantaram mais e acho que nem era preciso. Contei à minha filha. A partir daí passou a tratar por Horácio um tal com quem o outro se dava muito.

Bem. Adiante.

Macacadas à parte, agora que a estopada-mor -- aquela coisa que só serve para arranjar chatices, para causar agonias e ataques de nervos entre pessoas cujo santo não cruza -- já está meio esfolada, sem um minuto de intervalo para poder pôr esse big chimpanzé para trás das costas, já estou atolada até ao pescoço noutra. 
E é pdf para aqui, ppt para ali, e pdf de novo, e mais outro pdf. 
E eu, a olhar pela janela enquanto uns raios de luz assomavam por entre a bátega de chuva, só me apetecia ir ao zoo, buscar meia dúzia deles de verdade e largá-los por ali. Acho que há coisas em que a metáfora fica a perder. Macacos a sério é que era mesmo, de preferência com gostos como o do célebre Horácio. A ver se depois alguém ainda se lembrava de andar a massacrar com pdf's.

Ena Pá 2000 - PDF



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